A China suspendeu o diálogo com os EUA em uma série de áreas estratégicas, como relações militares e cooperação ambiental, nesta sexta-feira, 5, na última represália à passagem da líder democrata Nancy Pelosi por Taiwan. A divulgação das medidas coincide com o terceiro dia de exercícios militares com munição real organizados por Pequim no entorno do país insular ao sul do continente.
O Ministério das Relações Exteriores chinês anunciou oito contramedidas em resposta aos americanos, incluindo o cancelamento de três mecanismos formais de diálogo militar, suspendendo o contato direto entre comandantes regionais dos EUA e da China e os chefes do departamento de defesa. De acordo com a emissora estatal China Central Television, também estão suspensas cooperações para a devolução de imigrantes ilegais e para o combate do narcotráfico e de crimes transnacionais.
Pequim também intensificou os exercícios militares ao redor de Taiwan. Mísseis foram disparados sobre o território, segundo autoridades de defesa à mídia estatal. Caças, bombardeiros, destróieres e fragatas foram usados para “operações conjuntas de bloqueio”, segundo a agência de notícias oficial Xinhua News.
Novas versões de mísseis também foram testadas contra alvos no Estreito de Taiwan, atingindo-os “com precisão”, segundo autoridades. A imprensa estatal chinesa descreve os exercícios em Taiwan como uma operação de “escala sem precedentes”.
Em Tóquio, última parada deem sua agenda pela Ásia, Nancy Pelosi afirmou que a China não vai conseguir isolar Taiwan. De acordo com a presidente da Câmara dos EUA, Pequim não pode ditar quem pode visitar a ilha. “Eles não estão fazendo a nossa programação de viagem. O governo chinês não está fazendo isso”, disse ela.
Para Entender
A China disse na sexta-feira que mais de 100 aviões de guerra e 10 navios de guerra participaram dos exercícios militares em torno de Taiwan nos últimos dois dias, enquanto Pequim anunciava sanções principalmente simbólicas contra Pelosi durante a visita a Taiwan.
O diálogo entre a China e os EUA, particularmente sobre assuntos militares e trocas econômicas, têm sido interrompidos nos últimos tempos. As mudanças climáticas e o combate ao comércio de drogas ilegais, como o fentanil, no entanto, foram áreas em que os países encontraram uma causa comum, e a suspensão da cooperação de Pequim pode ter implicações significativas para os esforços globais.
Aliados na Ásia
A visita de Pelosi acendeu um alerta previamente existente entre os aliados asiáticos dos Estados Unidos, sobre um possível conflito no Estreito de Taiwan - passagem vital no comércio da região.
No Japão, a preocupação com uma potencial ação militar chinesa contra Taiwan – que fica a menos de 160 km do ponto mais ocidental do Japão – moldaram os gastos de defesa de Tóquio e os cálculos diplomáticos. Mas os níveis de alerta aumentaram nos últimos dias.
Na quinta-feira, 4, cinco mísseis balísticos da China caíram na zona econômica exclusiva do Japão (ZEE), a cerca de 80 km de Yonaguni, a ilha habitada mais ocidental do país, o que provocou uma reação do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida.
“Informei à presidente Pelosi que o fato de os mísseis balísticos da China terem pousado perto das águas japonesas, incluindo a ZEE, ameaça nossa segurança nacional”, disse Kishida. E completou: “Também confirmamos uma cooperação estreita e contínua para manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan.”
Em Taipé, autoridades militares confirmaram que navios de guerra e caças chineses cruzaram a linha média entre os países nesta sexta-feira, marcando a terceira vez nesta semana que Pequim ignorou a fronteira marítima não oficial entre Taiwan e a China. O ministério disse que enviou aeronaves, navios e seu sistema de mísseis terrestres para monitorar a situação./ AP e WPOST
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