PEQUIM – O governo da China,que em fevereiro forjou uma “aliança sem limites” com a Rússia de Vladimir Putin, indicou insatisfação nesta terça-feira, 1, com o agravamento da guerra na Ucrânia. O alerta foi dado em um telefonema entre o seu chanceler, Wang Yi, e o ucraniano Dmitro Kuleba, o primeiro nesse nível desde o início da invasão.
Wang disse ao colega ucraniano que Pequim está extremamente preocupada com os danos à população civil e deplora o surgimento do conflito. A conversa ocorreu a pedido da Ucrânia.
Apesar do tom um pouco mais crítico em relação ao conflito na Ucrânia, China manteve a ambiguidade no discurso para se equilibrar entre o apoio à Rússia e à Ucrânia – que faz parte do projeto da Nova Rota da Seda, um dos pilares da política externa de Pequim.
Após abster-se em condenar a Rússia pela invasão na ONU, a China se referiu de forma inédita ao impacto da guerra nos civis ucranianos e usou a expressão “deplora”, que na linguagem diplomática indica insatisfação. Pequim também prometeu não medir esforços para pôr fim ao conflito.
“Diante da expansão dos combates, a prioridade é amenizar a situação no terreno tanto quanto seja possível para evitar que o conflito saia de controle”, disse o chanceler chinês, para em seguida acenar tanto a russos quanto a ucranianos. “A segurança de um país não pode vir à custa dos outros, nem por meio da expansão de alianças militares”, disse o diplomata.
Apesar de insistir na necessidade da integridade territorial de todos os países, Pequim tem ressaltado que as preocupações da Rússia são legítimas. O telefonema ocorre em meio à ampliação da ofensiva russa na Ucrânia, que tem aumentado o número de baixas civis.
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia teria dito ontem a Yi que seu país está pronto para continuar as negociações com a Rússia e que espera “a mediação da China para alcançar um cessar-fogo”.
“Acabar com a guerra é a prioridade para o lado ucraniano e estamos calmos, abertos a negociar uma solução. Apesar de a negociação não estar progredindo sem a ocorrência de problemas, estamos dispostos a continuar com ela. Também a fortalecer a comunicação com a China. Esperamos a mediação da China para alcançar um cessar-fogo”, disse Kuleba, segundo comunicado da chancelaria da China.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.