China recebe líderes do Taleban enquanto os EUA retiram tropas do Afeganistão

Pequim expressou apoio ao grupo, mas pediu que ele se afaste de movimento separatista na região de Xinjiang

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Por Rebecca Tan

PEQUIM - A China expressou apoio ao papel do Taleban no futuro do Afeganistão, enquanto alertava o grupo a cortar laços com um movimento separatista na região de Xinjiang, em uma expressão clara dos objetivos geopolíticos de Pequim no país da Ásia Central.

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Poucos dias depois de se reunir com altos funcionários dos EUA na cidade portuária de Tianjin, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, deu as boas-vindas a uma delegação de nove membros do Taleban, que incluía o negociador-chefe e líder político Mullah Abdul Ghani Baradar. O encontro aconteceu em meio à retirada das tropas americanas do Afeganistão, ação que, para alguns especialistas e autoridades, pode levar à instabilidade política na região.

De acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores, Wang disse aos líderes do Taleban que a "retirada precipitada" dos Estados Unidos do Afeganistão é uma marca de suas falhas políticas no país. A China não interferirá nos assuntos internos do Afeganistão, disse ele, acrescentando que se espera que o Taleban “desempenhe um papel importante no processo de paz, reconciliação e reconstrução” do país.

O Taleban busca alcançar os países da região, na expectativa de que o movimento em breve se torne um ator importante na gestão do Afeganistão.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, recebe líder político do TalebanMullah Abdul Ghani Baradar em Tianjin Foto: Li Ran/Xinhua/AFP

Negociações de paz entre o governo afegão e o Taleban estão em andamento em Doha, Qatar, mas foram paralisadas, mesmo com os militantes desencadeando ofensivas no Afeganistão que conquistaram um novo território.

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Os líderes chineses também aproveitaram a oportunidade para exigir que o Taleban rompesse todos os laços com o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, a quem Pequim frequentemente atribui os ataques em sua província de Xinjiang, no extremo oeste. O movimento "representa uma ameaça direta à segurança nacional e à integridade territorial da China", disse Wang, acrescentando que "é responsabilidade comum da comunidade internacional lutar contra a ETIM".

Os líderes do Taleban presentes na reunião prometeram respeitar a segurança nacional da China, disse Mohammad Naeem, porta-voz do gabinete político do Taleban, em um comunicado no Twitter.

A China há muito tempo critica a presença dos EUA no Afeganistão, mas recentemente manifestou preocupações de que a retirada militar dos EUA poderia mergulhar a região em instabilidade e potencialmente causar problemas de segurança ao longo da sensível fronteira noroeste da China.

As violações de direitos humanos contra a população uigur no território de Xinjiang geraram condenação generalizada da comunidade internacional e continuam a ser uma importante fonte de tensão entre os Estados Unidos e a China.

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