China reforça sistema de saúde com surto de covid fora de controle

Relatos de parentes de vítimas, número de pacientes admitidos com sintoma de febre em unidades de saúde e demanda no serviço funerário apontam cenário preocupante da pandemia no país

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Por Redação

PEQUIM ― A China corre contra o tempo para aumentar o número de leitos hospitalares e criar novos postos de atendimento enquanto o surto de covid-19 no país parece aumentar, embora as autoridades tenham suspendido a contagem oficial dos casos. Após anos da extenuante política de “covid zero”, Pequim iniciou uma abertura depois de protestos nacionais confrontarem o governo no mês passado ― algo que pode significar uma aceleração dos contágios em uma população que não teve contato prévio com o vírus.

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Relatórios não oficiais sugerem uma onda generalizada de novos casos de covid-19 no país. Desde que o governo suspendeu a contagem oficial de casos confirmados, alegando que com o fim do confinamento e da testagem obrigatória seria impossível avaliar de fato a pandemia, um acompanhamento paralelo vem sendo feito por observadores internacionais com base em relatos de parentes de vítimas, número de pacientes admitidos com sintoma de febre em unidades de saúde pelo país e demanda no serviço funerário.

Enquanto a Comissão Nacional de Saúde chinesa afirmou que cinco mortes por covid foram registradas na terça-feira, 20, todas elas em Pequim, trabalhadores do setor funerário do nordeste ao sudoeste do país relatam uma superlotação nos crematórios após um número de mortes acima do normal ― um indicador que causa um alerta, mas não pode ser diretamente relacionado à pandemia.

Leitos para pacientes com sintomas de febre são instalados em ginásio de Pequim. Foto: Jade Gao/ AFP - 20/12/2022

Funcionários que falaram csob a condição de anonimato por temer represálias afirmam que em diversas cidades o número de mortos disparou. Em Chongqing, uma cidade de 30 milhões de pessoas, o funcionário de um crematório afirmou que o número de corpos chegando ao local aumentou tanto que não havia mais espaço para guardar os cadáveres. Em Cantão, no sul do país, outro trabalhador afirmou que a média de corpos cremados por dia é superior a 30.

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“É três ou quatro vezes mais que em anos anteriores, estamos cremando uns 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dezena”, disse um trabalhador da mesma região, mas de outro crematório, à France-Presse, acrescentando que era difícil dizer se o aumento de mortes era causado pela covid.

Com o novo sistema de contagem, as autoridades de saúde chinesas consideram mortes por covid-19 apenas aqueles que pacientes que sofreram exclusivamente da doença, excluindo mortes atribuídas a condições subjacentes, como diabetes e doenças cardíacas, que aumentam os riscos de doenças graves.

Em muitos outros países, as diretrizes estipulam que qualquer morte em que o coronavírus seja um fator, seja contada como morte relacionada ao covid-19.

Homens usam máscaras e face shields ao chegar em hospital de Xangai. Foto: Aly Song/ Reuters

“Atualmente, depois de ser infectado com a variante Ômicron, as principais causas de morte ainda são doenças anteriores”, disse Wang Guiqiang, do Primeiro Hospital da Universidade de Pequim, em uma coletiva de imprensa da Comissão Nacional de Saúde.

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“As pessoas mais velhas têm outras patologias anteriores, só um número muito reduzido morre diretamente de insuficiência respiratória causada pela covid”, acrescentou.

O Departamento de Estado dos EUA disse na segunda-feira, 19, que o aumento de casos na China deveria ser visto como uma preocupação internacional.

“Agora sabemos que sempre que o vírus se espalha, fica fora de controle, tem o potencial de sofrer mutações e ameaçar pessoas em todos os lugares”, disse o porta-voz Ned Price. “O saldo do vírus é preocupante para o resto do mundo, dado o tamanho do PIB da China”, acrescentou./ Com AP e AFP

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