Um mapa publicado pelo governo da China na segunda-feira, 28, iniciou uma crise diplomática com a Índia. Os dois países têm uma disputa de fronteira que vem escalando nos últimos anos.
Desde 2006 a China publica anualmente novas versões de seu mapa nacional para corrigir “mapas problemáticos”, segundo Pequim. Estes mapas estariam deturpando as “reais fronteiras do país”. A nova versão publicada nesta semana mostra o Estado de Arunachal Pradesh, no Himalaia, e o planalto de Aksai Chin, como território chinês. As regiões são disputadas há décadas entre os dois países.
A disputa sobre o mapa ocorre dias depois de o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o lkíder chinês, Xi Jinping, terem tido uma rara reunião presencial na África do Sul, onde concordaram em “intensificar os esforços” para diminuir as tensões na sua fronteira contestada, um movimento que foi visto como um passo em direção a apaziguar seu relacionamento tenso.
Após a publicação do mapa, a Índia repudiou a versão chinesa. O ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, apontou que o mapa apresentado pela China é absurdo. “No passado, a China publicou mapas que reivindicam territórios que não são da China, que pertencem a outros países. Este é um hábito antigo deles”, afirmou o ministro ao canal indiano NDTV na terça-feira, 29.
Histórico
Os dois países tem uma disputa histórica nas fronteiras e divergência sobre os territórios. Depois da partilha da Índia feita pelo império britânico em 1947, que levou a independência da Índia e Paquistão, a China passou a questionar a fronteira existente na região, principalmente após a anexação do Tibete por Pequim em 1950.
Após reprimir a revolta do Tibete em 1959, as escaramuças ficaram mais recorrentes na fronteira com a Índia, levando a uma invasão do exército chinês em 1962. Os confrontos resultaram em uma derrota expressiva de Nova Délhi até o cessar-fogo unilateral anunciado pela China, principalmente por conta de pressões dos Estados Unidos.
Depois da derrota dos indianos, a China confirmou o seu controle sobre a área de Aksai Chin, que fica no lado oeste da fronteira e tem uma importância estratégica porque liga a província chinesa de Xinjiang ao oeste do Tibete. A Índia reivindica estes territórios, assim como a China reivindica o estado indiano de Arunachal Pradesh, região chamada de “Tibete do Sul” por Pequim.
Os dois países discordam sobre a delimitação territorial da chamada Linha de Controle Real, que é a fronteira entre as duas potencias asiáticas. Essa demarcação foi feita após o cessar-fogo da guerra travada pelos dois países em 1962.
Apesar do acordo costurado entre Índia e China pelo reconhecimento da fronteira em 1993, a área é questionada principalmente por ser de difícil acesso, com grandes altitudes, rios e picos nevados, o que dificulta uma demarcação e possibilita que ambos os países tenham a sua própria versão sobre onde termina a soberania territorial de cada país.
Pequim e Nova Délhi viveram momentos de relativa estabilidade nas fronteiras até junho de 2020, quando as potencias asiáticas se enfrentaram no primeiro confronto com mortes entre os dois países em 45 anos no Vale de Galwan, na região indiana de Labakh, que é reivindicada pela China. Segundo o governo indiano, 20 soldados da Índia foram mortos. Do lado chinês, o número de mortes não é certo, mas diversos veículos relatam que quatro soldados da China vieram a óbito.
Os conflitos ocorreram por conta de construções de infraestrutura de ambos os países em regiões próximas da fronteira, além de exercícios militares chineses em áreas que Nova Délhi considera como seu território.
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Outras reivindicações
Filipinas e Malásia também mostraram descontentamento com o mapa chinês por conta de disputas marítimas dos dois países com Pequim. Em uma nota, o ministério das Relações Exteriores da Malásia rejeitou as “reivindicações unilaterais” da China.
Já as Filipinas também rejeitaram o mapa, apontando que uma linha tracejada no mapa chinês de áreas contestadas do Mar da China Meridional é ilegal por conta de uma decisão de um tribunal internacional de 2016, que sinalizou que os territórios eram filipinos. “O mapa não tem base no direito internacional e faz parte de mais uma tentativa de legitimar uma suposta soberania da China sobre os territórios”, apontou o ministério das Relações Exteriores do país asiático.
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