Na maior cidade de touradas do maior país praticante dessa tradição no mundo, os legisladores da Cidade do México votaram esmagadoramente, na terça-feira, 18, para proibir as touradas tradicionais — uma medida apoiada pela presidente mexicana Claudia Sheinbaum, mas fortemente contestada por defensores da prática secular.
A legislação, aprovada por 61 votos a 1, proíbe ferir ou matar touros por esporte, tanto dentro quanto fora das arenas. No entanto, permitirá o que os defensores chamam de “touradas sem violência”, em que regras determinam o tempo máximo que um touro pode permanecer na arena e limitam os toureiros ao uso apenas de capas.
“Meu coração sempre bate pelo bem-estar dos animais”, disse Xóchitl Bravo Espinosa, legisladora da Cidade do México que liderou o esforço pela mudança.
No entanto, Bravo Espinosa afirmou que os legisladores buscaram um equilíbrio, permitindo que as touradas continuassem, mas modificadas, para que aqueles que dependem da indústria não perdessem seus empregos. Ela destacou as pessoas que vendem equipamentos e alimentos ao redor da Plaza México, a maior arena de touradas do mundo, inaugurada em 1946 no coração da cidade e com capacidade para 42.000 pessoas.

Protestos e desafios legais
Defensores das touradas condenaram a legislação e protestaram em frente ao prédio da legislatura da Cidade do México na terça-feira, 18. “Isso é apenas o começo de uma luta pela nossa tradição”, afirmaram quatro grupos de tourada em um comunicado conjunto.
Raúl Pérez Johnston, advogado da organização nacional Tauromaquia Mexicana, afirmou em entrevista que ainda há muitas questões sobre a implementação da lei, que deve entrar em vigor nos próximos dias. Ele também disse que o grupo pretende contestá-la legalmente.
Em um comunicado antes da votação, a Plaza México criticou a proposta de alterar as touradas, chamando-a de “uma ameaça clara contra uma das tradições culturais mais profundamente enraizadas em nosso país”. Segundo o grupo, as mudanças “distorcem completamente a essência e vão contra o coração e a origem dessa tradição”.
As touradas já haviam sido alvo de uma batalha legal em 2022, quando um grupo de direitos humanos conseguiu convencer um juiz federal a suspender os eventos na Plaza México. No entanto, os administradores da arena recorreram da decisão, e a Suprema Corte do México revogou a suspensão, permitindo que as touradas retornassem com grande expectativa em janeiro de 2024.
Touradas em declínio no mundo
Introduzidas na América Latina pelos espanhóis no século XVI, as touradas enfrentam uma crise existencial há anos. Apesar do declínio contínuo devido a proibições e à crescente oposição, as touradas ainda são praticadas em pelo menos cinco outros países além de Espanha e México: França, Venezuela, Peru, Equador e Colômbia — onde uma proibição só entrará em vigor em 2027.
A primeira tourada registrada no México ocorreu em 1526, e o país ainda possui mais de 300 arenas dedicadas à prática. No entanto, desde 2013, cinco dos 31 Estados mexicanos já proibiram as touradas.
A disputa sobre as touradas tornou-se um símbolo de um conflito maior entre tradição e visões modernas sobre crueldade animal.
Segundo a legislatura da Cidade do México, 168 touros e bois foram mortos na Plaza México apenas em 2019. Defensores da tradição argumentam que esse número representa uma fração pequena do total de touros nascidos no México e que a indústria das touradas gera dezenas de milhares de empregos no país.
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Como serão as novas touradas?
A nova legislação determina que os toureiros poderão usar apenas a capa tradicional e a capa vermelha menor para atrair os touros.
Além disso, as novas regras estabelecem que:
- Cada tourada individual durará apenas 15 minutos.
- Haverá um máximo de seis touradas por evento.
A prefeita da Cidade do México, Clara Brugada, que propôs a versão sem violência, comemorou a aprovação da lei com “grande felicidade”. Nos últimos dias, Sheinbaum também expressou seu apoio à medida, chamando-a de “um passo muito importante”.
Alguns grupos de defesa dos animais aplaudiram a decisão, mas consideram que a legislação não foi longe o suficiente. “Touradas sem sangue são apenas o começo”, afirmou a organização Animal Heroes, que lançou a campanha “México Sem Touradas” há seis anos. “Continuaremos lutando até conseguir sua abolição total.”
Bravo Espinosa afirmou que, dentro de sete meses, o governo da cidade publicará um regulamento oficial, com participação de todas as partes interessadas, detalhando exatamente como as novas touradas serão realizadas.
c.2024 The New York Times Company
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