Civis na Ucrânia relatam condições da ocupação na Ucrânia: ‘Queria cuspir neles’

Combinação de problemas de logística, baixo moral e planejamento ruim entre as forças russas permitiu que Exército ucraniano avançasse

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Por Redação

Os últimos três soldados russos na cidade ucraniana de Trostyanets, de 20 mil habitantes, estão no necrotério. Seus uniformes estão ensanguentados e rasgados. Ali, os militares mortos são o pouco que restou de uma ocupação russa que durou um mês e reduziu grande parte da cidade a escombros. Na paisagem restam tanques destroçados, árvores queimadas e sobreviventes abalados, mas resistentes.

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Há também relatos, impossíveis de verificar, que destacam o tipo de ódio e brutalidade deixado no rastro de uma ocupação: crianças ameaçadas com facas; uma velha forçada a beber álcool enquanto os russos observavam e riam; rumores de estupro e desaparecimentos forçados; e um velho encontrado desdentado, espancado em uma vala.

“Oh, Deus, como eu queria cuspir neles ou bater neles”, disse Yevdokiya Koneva, de 57 anos, com a voz raivosa enquanto empurrava sua velha bicicleta em direção ao centro da cidade na sexta-feira.

Corpos de civis foram encontrados em vala comum em Bucha Foto: Rodrigo Abd


Esta área deveria ser pouco mais do que uma lombada para uma campanha militar extensa que rapidamente tomaria a capital do país e deixaria o leste nas mãos dos russos.

Em vez disso, uma combinação de problemas de logística, baixo moral e planejamento ruim entre as forças russas permitiu que um Exército ucraniano encorajado partisse para a ofensiva em vários eixos, respondendo às forças de ocupação e fragmentando suas linhas de frente.

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A vitória ucraniana em Trostyanets mostra como a incapacidade dos militares russos de obter uma vitória rápida – na qual “libertaria” uma população amiga – deixou seus soldados em uma posição para a qual estavam muito despreparados: manter uma cidade ocupada com uma população local hostil.

“Não queríamos essa terrível ‘libertação’”, disse Nina Ivanivna Panchenko, de 64 anos, que caminhava na chuva depois de receber um pacote de ajuda humanitária. “Apenas deixe que eles nunca mais venham aqui novamente.”

A violência implacável das forças ucranianas e russas que lutavam para retomar e manter a cidade durou semanas e levou as pessoas para porões ou qualquer lugar onde pudessem encontrar abrigo.

“Não consigo entender como essa guerra com tanques e mísseis é possível”, disse Olena Volkova, de 57 anos, médica-chefe do hospital e vice-chefe do conselho da cidade. “Contra quem? Os civis pacíficos? Isso é uma verdadeira barbaridade.” /NYT

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