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Dalai lama anuncia que deixará comando político dos tibetanos

O dalai lama anunciou ontem que pretende se afastar da liderança política do governo tibetano no exílio e transferir o poder a um sucessor eleito por seus seguidores. O religioso manterá o papel de líder espiritual, o qual só deverá chegar ao fim com sua morte.

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Por claudiatrevisan

"Desde os anos 1960, eu tenho repetidamente afirmado que os tibetanos precisam de um líder, eleito livremente pelo povo tibetano, para quem eu possa transferir o poder. Agora nós claramente chegamos ao momento de colocar isso em prática", disse o dalai lama.

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No comunicado, o líder religioso atacou as políticas chinesas para o Tibete e afirmou que a população da região vive em constante "medo e ansiedade", sob a vigilância permanente de tropas do Exército de Libertação Popular.

O anúncio coincidiu com o aniversário de 52 anos do levante contra o domínio chinês que levou o religioso e milhares de tibetanos a fugirem para a Índia, onde criaram o governo no exílio na cidade de Dharamsala. Este mês também marca os três anos dos confrontos entre tibetanos e chineses da etinia han que levaram Pequim a intensificar a presença militar no Tibete.

O governo chinês suspendeu há poucos dias as viagens turísticas à região, na qual jornalistas estrangeiros só podem entrar depois de obter raras autorizações oficiais. "A realidade é que a contínua opressão do povo tibetano provocou amplo e profundo ressentimento contra a atual política oficial [da China para o Tibete]", escreveu o dalai lama.

O líder religioso elogiou os movimentos não-violentos que levaram à queda de governos no mundo árabe e ressaltou que é cada vez maior o número de intelecutais chineses que pedem reforma e abertura política. "O premiê Wen Jiabao também expressou apoio a essas preocupações."

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A proposta do dalai lama de se afastar das funções políticas do governo no exílio será apresentada em reunião do Parlamento tibetano no dia 14 de março. No dia 20, os tibetanos que vivem fora da China elegerão um novo primeiro-ministro, que provavelmente assumirá o papel até agora ocupado pelo dalai lama.

A transferência da liderança política não significa que o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1989 deixará de ter papel proeminente na condução dos tibetanos. O líder religioso avisou que não está se aposentando.

Com 76 anos, ele quer comandar a transferência de poder para uma nova geração e reduzir a possibilidade de interferência nesse processo por parte de Pequim.

De acordo com a tradição tibetana, o dalai lama quando morre reencarna em uma criança, que continua a exercer a liderança espiritual dos tibetanos sob esse título. O atual dalai lama é o 14º, em uma tradição que teve início há mais de 1.000 anos.

A China sustenta que deve ratificar a escolha do dalai lama feita pelos religiosos tibetanos. Recentemente, o líder tibetano lama afirmou que poderia decidir não reencarnar e transferir o poder político e espiritual a alguém eleito por seus seguidores.

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Na segunda-feira, o governador do Tibete apontado por Pequim, Padma Choling, afirmou que o dalai lama tem que reencarnar, o que colocou o representante do Partido Comunista na curiosa posição de defender uma das mais místicas tradições tibetanas.

O temor do governo no exílio é que haja uma cisão no budismo tibetano, com um dalai lama escolhido por Pequim e outro pelos que estão no exílio.

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