Médicos uniformizados, um homem jovem e um menino carregam bebês prematuros enrolados em cobertores para uma sala de cirurgia que ainda tem luz no hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza. Sem reservas de combustível, as incubadoras ficaram sem energia e o berçário foi completamente esvaziado.
O vídeo foi divulgado nesta terça-feira, 14, pela Al Jazeera, no momento em que os registros dentro da unidade de saúde são cada vez mais raros com o cerco ao hospital. Segundo a rede do Catar, 34 bebês foram retirados do berçário. Quatro deles, nasceram de mães mortas.
Os hospitais estão no meio do fogo cruzado e da guerra informacional na Faixa de Gaza. Os terroristas, que controlam o enclave, acusam Israel de atacar civis. Tel-Aviv, por sua vez, afirma que o Hamas faz a população de escudo humano ao usar os hospitais, especialmente o de Al-Shifa, para esconder suas bases.
O local está cercado desde a sexta-feira e a comunicação com os diretores do Al-Shifa tem sido cada vez mais difícil. Sem contato com a unidade, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, parou de atualizar o número de mortos que passava de 11 mil no final da semana passada – dado que não pode ser verificado por fontes independentes, mas o governo americano estima que ele esteja na casa dos ‘milhares’.
“Os cadáveres estão na rua, por isso não podemos dizer nenhum número neste momento, o bombardeio continua”, disse um dos diretores do ministério Medhat Abbas sobre o colapso do hospital. Mesmo sem atualizar o balanço oficial, a pasta estima que milhares de pessoas morreram nos últimos dias, com ataques também no campo de refugiados de Jabalya, mais ao norte, e na cidade de Khan Younis, no sul, além das batalhas intensas na cidade de Gaza.
Diante do colapso, o hospital Al-Shifa passou a enterrar dezenas de corpos em valas comuns cavadas dentro do complexo médico. “Não há consenso para levá-los para fora”, disse Mohammed Abu Salmiya, um dos diretores do hospital.
Na mesma linha, o ministério da Saúde local acusou Israel de impedir que os corpos fossem removidos do complexo hospitalar para que fossem enterrados. Tel-Aviv não respondeu de imediato à acusação.
Cerco ao hospital
Israel tem insistido que os civis devem deixar o norte da Faixa de Gaza. A região é foco da incursão terrestre em resposta ao ataque dos terroristas do Hamas em 7 de outubro, quando 1.200 pessoas morreram e mais de 200 foram arrastadas como reféns. As agências da ONU, por outro lado, tem apontado para a dificuldade de transferir os civis e repetiu o alerta em relação ao hospital Al-Shifa.
A Organização Mundial da Saúde disse que retirar os pacientes da unidade de saúde é uma “tarefa impossível”, argumentando que são pessoas vulneráveis, doentes e não tem para onde ir. Isso porque, aponta a OMS, os hospitais no sul da Faixa de Gaza também estão “saturados”.
Em Genebra, uma comitiva do governo israelense justificou o cerco aos hospitais antes de um encontro com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. “Nesses hospitais, crianças e mulheres estão sendo usadas pelos terroristas como escudos humanos”, disse o ministro da Saúde Uriel Menachem Buso. “Os terroristas estão tirando eletricidade dos hospitais e usando-a em seus próprios túneis e em sua infraestrutura de terror”, acrescentou.
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Críticas a ONU
Ainda em Genebra, a crítica à ONU foi elevada pelo ministro das Relações Exteriores, Eli Cohen, que pressiona as organizações internacionais pela liberação dos reféns do Hamas. Ao lado de familiares dos cativos, o chanceler declarou que o secretário-geral António Guterres “não merece ser o chefe das Nações Unidas”.
“Não promoveu nenhum processo de paz na região”, justificou Cohen. “O Irã, um país que defende a destruição de Israel, não deveria ser membro das Nações Unidas, mas podemos ver como Guterres se senta com eles”, criticou./The Washington Post, New York Times e EFE
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