BOGOTÁ - Manifestantes saíram às ruas das principais cidades da Colômbia para protestar contra medidas apresentadas pelo presidente Gustavo Petro para aumentar os impostos dos mais ricos e seu projeto de reforma agrária nesta segunda-feira, 26. São as primeiras manifestações nacionais contra o presidente colombiano, eleito há 50 dias.
Em Bogotá, manifestantes caminharam pelas ruas do centro e se concentraram na Praça de Bolívar, ao lado da sede presidencial, aos gritos de “Fora Petro!”.
“Petro prometeu uma mudança de política geral, mas se cercou de políticos corruptos. Isso é enganar”, disse Orlando Novoa, de 60 anos, proprietário de uma construtora com cerca de 30 funcionários, que protestava na capital.
Petro se tornou o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia ao conquistar pouco mais da metade do eleitorado com uma bateria de reformas com o objetivo de aumentar os impostos sobre os ricos, frear a exploração de petróleo e uma reforma agrária para distribuir terras férteis entre os camponeses “sem terra”, entre outras.
Para colocar em prática estas iniciativas, Petro formou uma coalizão legislativa majoritária com o apoio de vários partidos tradicionais.
“O país precisa de um gerente, Petro é um político”, criticou Cristóbal Osorio, um estudante de 16 anos em Bogotá.
Na capital, dezenas de jovens que se mobilizaram em defesa do presidente trocaram insultos e empurrões com seus opositores, obrigando funcionários da prefeitura a intervir.
As manifestações percorreram as ruas de Medellín (noroeste), Cali (sudoeste), Bucaramanga (nordeste) e outras capitais com clamor variado.
Em Medellín, uma equipe do canal estatal Telemedellín foi agredido por manifestantes e precisou abandonar a cobertura, denunciou a ONG Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP).
Respeito à propriedade privada
A chegada de Petro ao poder estimulou indígenas e outros camponeses a ocupar à força dezenas de propriedades, em um dos primeiros conflitos sociais, que o governo de esquerda condenou.
Centenas de pessoas se mobilizaram em Cali vestidos de branco e levantando cartazes que diziam “Respeito à propriedade privada” ou “Petro incentiva o crime em vez da produção”.
Na capital, um contra-protesto de dezenas de jovens se formou em defesa do presidente, que foi membro por 12 anos do M-19, uma guerrilha nacionalista de origem urbana que assinou a paz em 1990.
“É uma desonra ter um presidente guerrilheiro. Fico indignada!”, lamentou Manuela Hernández, de 62 anos, dona de uma empresa de roupas de banho, em Bogotá.
O Congresso debate atualmente um projeto de reforma tributária apresentado pelo governo que pretende cobrar mais impostos das classes altas para financiar seus programas sociais contra a pobreza e a desigualdade.
O ex-presidente Iván Duque (2018-2022) enfrentou protestos massivos em 2019, 2020 e 2021, liderados por jovens e setores vulneráveis. O mais sangrento ocorreu no ano passado, quando Duque tentou taxar a classe média para lidar com os estragos da pandemia, que provocou manifestações violentas que duraram dois meses e deixaram 46 mortos, entre civis e policiais, segundo a ONU./ AFP
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