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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião | Os caminhos para a paz na Ucrânia; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Ucranianos mostram a Lula como o brasileiro pode ajudá-los ou pelo menos não atrapalhá-los na condução pelo fim do conflito

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Ninguém anseia a paz mais do que os ucranianos. Na semana passada, três deles, com perfis muito distintos, vieram ao Brasil, explicar o que estão vivendo, e como o governo Lula pode efetivamente ajudar – ou pelo menos não atrapalhar.

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Eles não são representantes do governo. “Mesmo sob lei marcial, podemos criticar o governo”, disse Olexiy Haran, professor de política comparada da Universidade Nacional da Academia Kiyv-Mohyla. Mas a guerra criou consensos entre os ucranianos: nenhum território deve ser cedido aos invasores, e é preciso vencê-los militarmente.

Em 2014, quando Putin invadiu a Ucrânia pela primeira vez, apenas um em cada três ucranianos queria que o país entrasse na Otan, algo que estava totalmente fora da agenda do governo, lembra Haran, mostrando pesquisas realizadas por sua universidade. Hoje, são oito em cada dez.

O professor desmonta a justificativa de Putin para incorporar a Ucrânia de volta ao império russo: a de que ela nunca foi um país. Ele exibe um mapa que mostra que, no ano 1000, o maior país da Europa era Kievan Rus, cuja capital, como o nome indica, era Kiev, fundada no século 6.º ou 7.º. Moscou só surge no século 12.

A Academia Kiyv-Mohyla, onde ele trabalha, foi criada em 1615, quando a Ucrânia era parte da Comunidade Polaco-Lituana. Haran conta que, 50 anos depois, egressos da academia criaram a Universidade de Moscou. E 70 anos depois assessoraram Pedro, o Grande, criador do Império Russo. “Em 1815, minha universidade foi fechada.” A Rússia impôs na Ucrânia a mesma política adotada em todos os territórios que ocupou militarmente: a russificação forçada.

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“Lula quer a paz e isso é muito bom”, disse o professor. “Mas a mera palavra ‘paz’ não é suficiente. Se alguém ataca sua família, como pará-lo? Dizendo ‘não faça isso’, oferecendo algo a ele? Temos de nos defender.”

O Reverendo Ihor Shaban, da Igreja Católica Grega na Ucrânia, explica: “Somos todos cristãos. Temos de cuidar da alma e do corpo. Não se pode pensar só em dinheiro. É preciso separar o mal do bem. Quem não apoia o bem apoia o mal. Sei que não é popular dizer isso, mas é preciso escolher um lado. Estão matando pessoas.”

Haran alimenta esperanças de que o Brasil ainda vá entender isso. Afinal, lembra ele, no início da 2.ª Guerra, também se declarou neutro. Depois de três anos “apoiou o lado certo”.

Quanto aos fertilizantes, a Ucrânia é um dos maiores produtores do mundo, salienta Anna Liubyma, diretora do Departamento de Cooperação Internacional da Câmara de Comércio e Indústria Ucraniana. Ela pode suprir o Brasil, no lugar da Rússia. Mas, para isso, é preciso pressionar os russos a desbloquear o Mar Negro.

Todos os caminhos da paz passam por forçar a Rússia a respeitar a soberania da Ucrânia.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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