Com maioria governista, novo Congresso de El Salvador destitui procurador-geral e juízes

Movimento foi visto por comunidade internacional como tentativa de concentração de poder nas mãos do presidente Nayib Bukele

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Por Redação
Atualização:

SÃO SALVADOR - O novo Congresso de El Salvador, dominado por aliados do presidente Nayib Bukele, tomou posse no sábado, 1, e destituiu os juízes que divergem do chefe de Estado e o procurador-geral do país, em movimento que a comunidade internacional considerou autoritário.

O Parlamento retirou do cargo os cinco membros da Câmara Constitucional da Suprema Corte e os suplentes, designando imediatamente os substitutos, que, escoltados pela polícia, chegaram ao Palácio de Justiça para assumir os cargos.

A maioria parlamentar acusa os magistrados destituídos de emitir sentenças "arbitrárias".

Movimento foi visto por comunidade internacional como tentativa de concentração de poder nas mãos do presidente Nayib Bukele Foto: Stanley Estrada/AFP

Porém, os membros da câmara, responsáveis pelo cumprimento da Carta Magna, declararam "a inconstitucionalidade do decreto de destituição" e denunciaram a intenção de suprimir o controle dos outros poderes do Estado.

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Divergências com o presidente

"E o povo salvadorenho, por meio de seus representantes, disse: DESTITUÍDOS!", declarou Bukele após a aprovação da medida.

Bukele travou uma batalha contra a Câmara Constitucional, que bloqueou pelo menos 15 normas relacionadas à gestão da pandemia em meados de 2020, a maioria sobre regimes de exceção. O tribunal considerou que as normas violavam direitos fundamentais dos cidadãos.

O presidente alegou que a Câmara o impedia de cuidar da vida de seus compatriotas.

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A Câmara Constitucional é uma das quatro que compõem a Suprema Corte e decide sobre ações de inconstitucionalidade, habeas corpus e controvérsias entre os poderes do Estado.

Seus membros haviam sido designados pelo Parlamento anterior, controlado pela oposição a Bukele. A Constituição também permite ao Congresso destituir os integrantes do tribunal por "causas específicas, previamente estabelecidas pela lei."

"Os membros deste tribunal não estão à altura das necessidades de El Salvador, que precisa de funcionários mais conscientes, mais apegados à proteção da vida das pessoas. Sem a vida não existem os demais direitos constitucionais", afirmou a parlamentar Suecy Callejas, do partido governista Novas Ideias (NI).

Saída do procurador-geral

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Em seguida, o presidente do Congresso, Ernesto Castro, propôs o debate da saída do procurador-geral, Raúl Melara. 

De acordo com deputado Numan Salgado, que defendeu a saída do procurador, "foi questionada sua independência e imparcialidade", necessárias para exercer o cargo, por seu vínculo com o partido opositor ARENA (direita).

"Somos críticos da atuação do procurador-geral, mas isto não significa que estamos endossando um procedimento inconstitucional", disse a deputada Dina Argueta, da opositora ex-guerrilha esquerdista Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN).

Durante a madrugada de domingo, o advogado Rodolfo Delgado foi designado como novo procurador-geral.

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Após a destituição dos magistrados, a subsecretária interina para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Julie Chung, advertiu que "a existência de uma relação forte entre Estados Unidos e El Salvador dependerá de que o governo de El Salvador apoie a separação de poderes e sustente as normas democráticas".

"Não é assim que se faz", afirmou o diretor do departamento do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança da Casa Branca, Juan González.

"Condeno as medidas que o poder político vem dando para desmantelar e enfraquecer a independência judicial", disse o relator especial da ONU para a independência dos magistrados e advogados.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) também criticou a destituição de magistrados da Suprema Corte e do procurador-geral por parte da Assembleia Nacional de El Salvador.

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A OEA adverte em um comunicado que "quando as maiorias impõem uma visão única e uniformizada para o restante do sistema político estão prejudicando os princípios (da democracia). Quando as maiorias eliminam os sistemas de pesos e contrapesos no marco institucional estão alterando a essência de funcionamento.

Para o diretor executivo da Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, "Bukele rompe com o Estado de direito e busca concentrar todo o poder em suas mãos".

Bukele reiterou que está disposto a seguir trabalhando com a comunidade internacional, mas pediu que permaneça à margem. "Estamos limpando nossa casa e isto não é de sua incumbência", afirmou.

Golpe de Estado

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Os parlamentares da oposição, agora em minoria, questionaram todos os procedimentos.

"O que está sendo feito esta noite na Assembleia Legislativa, com uma maioria que o povo deu por meio do voto, é um golpe de Estado", disse o deputado René Portillo, do partido ARENA.

O partido de Bukele, Novas Ideias (NI), tem maioria no novo Congresso unicameral, com 56 deputados, enquanto seus aliados, os conservadores da Grande Aliança Nacional (Gana), tem cinco representantes. Desta maneira, o governo tem 61 cadeiras de um total 84. 

Também estão presentes no Parlamento os partidos tradicionais Aliança Republicana Nacionalista (ARENA), com 14 cadeiras, a esquerdista FMLN, com quatro, e o Partido de Concertação Nacional (PCN, direita), com duas. 

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Democracia Cristã, Nosso Tempo e Vamos têm um deputado cada. /AFP

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