Com máquina de benesses peronista em ação, Milei bate no teto e Massa é favorito; leia artigo

Na disputa eleitoral deste domingo, 22, na Argentina, o peronismo demonstrou ser ainda uma força política sólida; foco na união nacional pode garantir que Massa repita resultado positivo

PUBLICIDADE

Por Rubens Barbosa

A polarização da política argentina foi parcialmente quebrada, mas não superada. O peronismo ainda continua a mostrar sua força e os tradicionais adversários da centro direita (Juntos por el Cambio) foram substituídos pelo La Libertad Avanza, grupo de extrema direita “anarcocapitalista”.

PUBLICIDADE

A vitória de Sergio Massa nas eleições presidenciais de ontem na Argentina causou certa surpresa, em função da vantagem de Javier Milei nas prévias realizadas em agosto. A segunda colocação de Massa nas pesquisas, apesar de todo o desgaste político do governo, já indicava a resiliência do peronismo.

Como se pode explicar a reviravolta dos resultados? Em primeiro lugar, a força política do peronismo. Massa, ministro da Economia, conseguiu superar os resultados muito negativos da economia do governo de Alberto Fernández, pela força da máquina estatal e as benesses distribuídas nos últimos meses para população (congelamento dos preços das tarifas públicas, dos combustíveis e do câmbio, isenções de imposto de renda para a maioria dos assalariados, créditos subsidiados, diversos abonos salariais), pela ação dos sindicatos, pela redução do desemprego.

Sergio Massa, ministro da Economia e candidato presidencial do partido governista, fala do lado de fora de sua sede de campanha após as eleições gerais em Buenos Aires, Argentina, domingo, 22 de outubro de 2023. Foto: Mario De Fina / AP

Em segundo lugar, pelo medo das consequências imprevisíveis das promessas de campanha de Milei (dolarização da economia, acabar com o Banco Central, privatizar a saúde e educação, sair do Mercosul, não fazem relações comerciais com comunistas como a China e o Brasil).

Em terceiro lugar, pelo crescimento do candidato peronista ao governo da província de Buenos Aires, Axel Kiciloff, que, vitorioso, ampliou a margem de Massa sobre Milei no maior centro eleitoral do país.

Publicidade

Aposta equivocada

Por outro lado, Milei pagou caro por uma campanha exótica, ultraliberal que aparentemente criou resistências no grupo eleitoral mais idoso e conservador, conseguindo conter o ânimo dos jovens que maciçamente votaram em Milei.

Quais as perspectivas para o segundo turno? Aparentemente Milei bateu no teto dos votos de seus apoiadores. A maioria dos votos de Patricia Bullrich, conservadora, deverão migrar para Massa, o que poderá assegurar sua vitória no segundo turno em 19 de novembro próximo.

Nos discursos depois da votação, Milei mostrou-se menos radical, evitando repetir suas promessas drásticas. Massa apareceu moderado, propondo um governo de união nacional para a superação da crise econômica do país.

Caso não surja nenhum elemento novo, tudo indica que Massa poderá repetir o resultado no segundo turno e tornar-se o próximo presidente argentino.

Incertezas na economia

Massa repetirá o caminho político do presidente Fernando Henrique Cardoso no Brasil, passando de ministro da Fazenda a presidente da República. Dada a gravidade da crise econômica na Argentina com inflação de cerca de 150%, taxa de câmbio perto de 1.000 pesos por dólares, com reserva quase inexistentes, com o comércio exterior afetado por tudo isso e mais as condições climáticas desfavoráveis, que derrubam as receitas das exportações agrícolas, a grande incerteza será a capacidade de Massa produzir um choque na economia para estancar a ladeira abaixo da renda, dos ingressos e do crescimento do país.

Publicidade

Suas apostas são a expectativa de melhores colheitas e de exportações do gás natural do novo gasoduto Vaca Muerta.

Para a tranquilidade do mercado e dos círculos políticos argentinos, o medo venceu. O governo Lula respirará aliviado com a vitória peronista.

*Diplomata, foi embaixador em Washington

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.