Para analistas que participaram do painel "O Estado da Democracia" nesta sexta-feira, 14, na TV Estadão, nos últimos anos a democracia se colocou à prova em todo o mundo, com a ascensão de lideranças populistas e a disseminação de desinformação nas redes. A conversa levou o título do novo livro do colunista do Estadão Lourival Sant'Anna em que o analista de assuntos internacionais reúne 100 textos publicados nos cinco anos de sua coluna.
"A democracia tem passado por testes de estresse contínuo", afirmou o colunista. Como exemplo, ele citou a expressiva votação da candidata de extrema-direita Marine Le Pen na França em 2017, em que teve quase 34% dos votos no segundo turno em que Emmanuel Macron saiu vitorioso; e os 12% de votos recebidos pelo Alternativa para a Alemanha, partido de extrema-direita alemão que conquistou 94 cadeiras no Bundestag.
Sant'Anna destacou que desde 2016 o mundo acompanha episódios de ascensão de populismos que colocaram a democracia em xeque, como os plebiscitos do Brexit no Reino Unido e do acordo de paz com as Farc na Colômbia e as eleições de Donald Trump nos Estados Unidos e de Jair Bolsonaro no Brasil. "Nossa geração considerava que a democracia era um fato consumado no mundo, mas ela está sob ataque."
O jornalista Tonico Ferreira destacou que a ascensão de projetos populistas foi se tornando mais clara com o passar do tempo. "A democracia estava sendo desafiada por populistas de extrema-direita que queriam destruí-la por dentro, mas isso não era tão claro há cinco anos. Agora, todo mundo sabe". Para o cientista político Sérgio Fausto, parte da explicação do motivo pelo qual o mundo não se deu conta da ameaça representada por essas correntes é que elas ganharam força num espaço que ele definiu como "difuso", a internet.
"Por que não nos demos conta? Essas ameaças vieram de um mundo difuso, apareciam na internet, as mídias sociais. Houve um fenômeno internacional, mas que era visto como 'um bando de louco'. Acabou ganhando dimensões que a gente não imaginava", disse Fausto.
Apesar de as redes terem agilizado a transmissão de informações, nem sempre essas informações têm fonte confiável ou foram checadas e contextualizadas, como destacou Lourival. "Com o otimismo da informação imediata, acabou vindo também muita desinformação. Diferente do jornalismo, que vai no lado racional, o funcionamento das redes é pelo lado emocional para obter engajamento. E as emoções que mais mobilizam são medo e raiva. Por isso as teorias conspiratórias têm ganhado força na política."
Para Tonico, um dos principais riscos ligados à ascensão de projetos populistas é a falta de compromisso com o desenvolvimento dos países em prol de uma manutenção de poder. "O populismo não discute programas, economia, soluções, mas sim pessoas, carisma. O populista não tem compromisso com a verdade."
O livro "O Estado da democracia: 100 colunas no Estadão" está disponível no site da Amazon (amazon.com.br) nas versões impressa e Kindle.
Assista ao painel na íntegra:
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