Com prisão de ex-ministro, Maduro reforça discurso de combate à corrupção antes das eleições

Ditador venezuelano busca mostrar que lei também se aplica ao governo após cerco à oposição, diz analista

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Foto do author Jéssica Petrovna

O linha-dura Tareck El Aissami era considerado um dos homens mais poderosos do regime, foi confidente e vice de Nicolás Maduro (2017-2018), mas terminou detido nesta terça-feira, 9. Investigado por corrupção, ele renunciou ao cargo de ministro do Petróleo há cerca de um ano e estava sumido desde então, até que apareceu algemado.

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As imagens da prisão foram divulgadas pelo procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, um chavista radical. “O objetivo e a finalidade dessa máfia, chefiada por Tareck El Aissami, não eram outros senão implodir a economia nacional”, disse em entrevista coletiva. “Esses canalhas terão punição exemplar”, enfatizou.

Com a “punição exemplar” o chavismo reforça o discurso de combate à corrupção para o público interno ao mesmo tempo em que tenta passar para fora da Venezuela a imagem de que a lei também se aplica ao governo, depois de fechar o cerco à oposição.

Procurador-geral Tarek William Saab exibe foto da prisão do ex-ministro Tareck El Aissami em entrevista coletiva, Caracas, 9 de abril de 2024. Foto: Procuradoria-geral da Venezuela/AFP

“Existe um sentimento de mal estar na sociedade venezuelana pela debacle econômica dos últimos anos no país que já teve uma economia pujante, o que explica pessoas ligadas ao governo estarem sendo implicadas nessas denúncias da mesma forma que a oposição tem sido enquadrada pela procuradoria-geral em casos de corrupção”, afirma a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Carolina Pedroso.

A principal líder da oposição, María Corina Machado, por exemplo, está impedida de ocupar cargos públicos por 15 anos. A justificativa? “irregularidades administrativas” quando foi deputada e uma “uma trama de corrupção” referente ao período em que Juan Guaidó foi reconhecido por mais de 50 países, incluindo o Brasil, como presidente da Venezuela.

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Depois de prometer eleições livres e justas por meio dos Acordos de Barbados, que abriram o caminho para o relaxamento das sanções americanas, Nicolás Maduro deixou claro que as promessas não seriam cumpridas. A inabilitação de Corina Machado foi mantida; a substituta Corina Yoris foi impedida de se registrar e alguns dos principais assessores da campanha foram presos.

Com a escalada, os Estados Unidos reimpuseram sanções e até governos de esquerda mais simpáticos a Maduro, como o de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, e o de Gustavo Petro, na Colômbia, criticaram o regime chavista.

“Considerando a conjuntura específica desta eleição, em que a Venezuela tenta se credibilizar na comunidade internacional, essas prisões ganham um significado muito maior, pois seriam casos concretos de que o peso da lei recai também sobre pessoas ligadas ao governo”, explica Carolina Pedroso.

Além de Tareck El Aissami, também foram detidos nesta terça o ex-ministro da Economia Simón Alejandro Zerpa e o empresário Samar José López. Eles vão responder por traição, apropriação indevida ou desvio de bens públicos e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

O esquema denunciado pela procuradoria-geral envolve a venda de petróleo da PDVSA, a estatal petrolífera venezuelana, por meio de criptoativos. Segundo relatos da imprensa, teriam sido desviados 15 bilhões de dólares (cerca de R$ 75 bilhões).

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O chavismo tentou contornar as sanções impostas dos Estados Unidos com os criptoativos e, em 2018, lançou o petro, criptomoeda lastreada em petróleo. Na época, sob o comando de Donald Trump, Washington impôs duros embargos a Caracas, que atingiram inclusive Nicolás Maduro depois de eleições contestadas.

Sede do Ministério de Energia e Petróleo da Venezuela.  Foto: Miguel Gutiérrez/EFE

“Na época do lançamento do petro, havia grande ceticismo até dentro do governo, pois era visto como um plano mirabolante que não enfrentava as causas reais da crise venezuelana: a alta dependência do petróleo e a incapacidade de evitar os casos de corrupção”, lembra Carolina Pedroso.

Ao invés de diversificar a economia, a Venezuela continuou insistindo em lastrear a economia no petróleo. Com as limitações que as criptomoedas tem na economia real, a desvalorização do bolivar e o impacto das sanções, o petro fracassou e foi interrompido no começo do ano.

Na PDVSA, a tentativa de burlar as sanções e o esquema com criptoativos estão no centro do escândalo de corrupção, que havia levado a prisão de 61 funcionários públicos, políticos e empresários na primeira fase da operação, há cerca de um ano.

Ex-ministro do Petróleo Tareck El Aissami participa de homenagem a Hugo Chávez, de quem era próximo, dias antes de deixar o cargo em março de 2023.  Foto: Matias Delacroix/Associeted Press

Na ocasião, Tareck El Aissami entregou o cargo de ministro do Petróleo e sugeriu que apoiava o processo. Desde então, ele não era visto em público ou se manifestava nas redes sociais até ser preso nesta terça. A renúncia, como mostrou o Estadão, expôs o racha entre os reformistas e os linha-dura, como Aissami, na disputa interna do chavismo sobre os rumos da economia venezuelana.

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Quando a estatal teve de buscar intermediários em outros países para exportar esse petróleo e comprar produtos que se tornavam escassos pela falta de dólares, Aissami, de origens sírias, intermediou contatos no Irã e na Turquia. Foram esses contratos que entraram na mira da vice-presidente Delcy Rodríguez, da ala reformista, depois que uma auditoria interna revelou o rombo na PDVSA.

Antes deste escândalo, a estatal esteve envolvida em outras investigações por corrupção, que atingiram três ex-ministros do Petróleo. Rafael Ramírez, que era uma figura próxima a Hugo Chávez, está foragido na Itália; Eulogio del Pino e Nelson Martínez, foram detidos. Este último morreu sob custódia em 2018.

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