No mais evidente sinal de mudança de tom do relacionamento entre os dois países, o presidente da Bolívia, Evo Morales, será recebido nesta terça-feira pelo presidente Michel Temer. A visita ocorre após dois adiamentos, ambos por causa de problemas de saúde do presidente brasileiro. Embora a pauta seja econômica, a importância da visita é política, segundo se avalia do lado brasileiro. Evo Morales foi um dos mais ferozes críticos do “golpe parlamentar” que tirou do poder a ex-presidente Dilma Rousseff.
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Imediatamente após o impeachment, ele retirou seu embaixador de Brasília, o que representa um protesto contundente. Em reação, o Brasil fez o mesmo. O gesto foi revertido semanas depois e as relações diplomáticas entre os dois países jamais foi rompida. Em entrevista concedida ao Estado em maio passado, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, já classificava a relação bilateral como “normal”. Há dois meses, o chanceler da Bolívia, Fernando Huanacuni, esteve no Brasil e anunciou a vinda de seu presidente.
Originalmente, a visita de Evo deveria ter ocorrido em 30 de outubro. Mas, na ocasião, ela teve de ser cancelada porque Temer foi internado com problemas na próstata. Uma segunda tentativa, no dia 27 de novembro, foi igualmente adiada. O presidente brasileiro se recuperava de uma angioplastia.
Para a diplomacia brasileira, a visita é a demonstração mais visível da normalização das relações entre dois países vizinhos que precisam deixar diferenças ideológicas de lado para fazer planos de longo prazo.
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O único ato a ser assinado na visita trata da formação de um grupo que estudará formas para viabilizar a construção do Corredor Bioceânico, um tema de interesse da Bolívia. O país pretende conseguir acesso por ferrovia aos oceanos Atlântico e Pacífico, através do Brasil e do Peru. O documento será assinado pelos ministros dos Transportes dos dois países.
Evo e Temer deverão tratar da renovação do contrato de venda de gás para a Petrobrás, desta vez possivelmente incluindo novos compradores. Discutirão, ainda, estudos para a exploração do potencial hidrelétrico na bacia do rio Madeira, com a possibilidade de construir usinas binacionais. E do ingresso da Bolívia no Mercosul, algo que hoje está pendente da aprovação do Congresso brasileiro.
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Os dois presidentes falarão ainda sobre temas de interesse das comunidades de um país vivendo no outro. São 350 mil cidadãos bolivianos morando deste lado da fronteira, três quartos deles em São Paulo. Na mão contrária, são 35 mil brasileiros na Bolívia.
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