THE WASHINGTON POST - Pelo menos 11 palestinos foram mortos pelas forças de segurança israelenses e dezenas ficaram feridos em toda a Cisjordânia na sexta-feira, 13, de acordo com o Ministério da Saúde palestino, à medida que aumentam os temores sobre a crescente violência e instabilidade antes de uma esperada invasão terrestre israelense em Gaza.
Em cenas raras na Cisjordânia, os palestinos ergueram bandeiras do Hamas em uma marcha de solidariedade a Gaza, desafiando as divisões políticas de longa data entre o grupo militante islâmico e o partido Fatah, dominante na Cisjordânia. Muitos no território ocupado passaram o dia grudados no noticiário, pois Israel ordenou a evacuação de 1,1 milhão de habitantes de Gaza que estavam sob bombardeio - alimentando os temores palestinos de outro deslocamento em massa.
Quatro dos palestinos mortos na sexta-feira foram mortos a tiros durante confrontos com as forças de segurança israelenses a oeste de Tulkarem, de acordo com a WAFA, a agência de notícias oficial palestina. Um jovem de 14 anos foi morto durante “confrontos” perto de um posto de controle militar a leste de Nablus, disse a WAFA.
Pelo menos 43 palestinos da Cisjordânia foram mortos por forças israelenses e colonos desde sábado, quando homens armados do Hamas invadiram o sul de Israel, matando pelo menos 1.300 pessoas. Os palestinos foram impedidos de deixar a Cisjordânia ou de viajar entre cidades. Na sexta-feira, 13, a Rota 60 de Israel, que liga os assentamentos judeus e divide as comunidades palestinas, estava estranhamente vazia.
Todas as atenções agora estão voltadas para Gaza, onde mais de 2.000 palestinos foram mortos e centenas de milhares foram deslocados. Há apenas uma semana, no entanto, a Cisjordânia era considerada o desafio de segurança mais urgente de Israel.
Os acordos de paz de Oslo de 1993 previam a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental como parte de um futuro Estado palestino. Trinta anos depois, Israel controla a maior parte da Cisjordânia, com bolsões governados pela Autoridade Palestina. O Hamas, rival de longa data da Autoridade, tomou o poder de Gaza em 2007.
Os palestinos estão fisicamente separados e politicamente divididos. O colapso do processo de paz liderado pelos EUA, a intensificação da ocupação israelense e o envelhecimento da liderança da Autoridade Palestina alimentaram a raiva e a desilusão generalizadas na Cisjordânia, permitindo que novos grupos militantes ganhassem destaque.
Mesmo antes da última rodada de violência, pelo menos 179 palestinos na Cisjordânia haviam sido mortos desde janeiro, de acordo com o último relatório das Nações Unidas - tornando 2023 o ano mais mortal em duas décadas.
À medida que Israel intensifica sua guerra em Gaza, a violência dos colonos contra os palestinos está aumentando.
Leia também
Na quarta-feira, 11, colonos armados mataram a tiros três palestinos da mesma família do lado de fora de sua casa perto de Qusra, um pequeno vilarejo com cerca de 7.000 habitantes, de acordo com autoridades palestinas e membros da família. Um quarto membro da família morreu posteriormente em decorrência de seus ferimentos.
Os três homens foram levados para um hospital na vizinha Nablus, mas depois sucumbiram aos ferimentos. Devolver os corpos para casa significava viajar por uma rota parcialmente controlada pelos israelenses, disse o membro da família Abdulazim al-Wadi, o que exigiu negociações com várias autoridades para obter permissão.
Em um momento crucial da viagem, quando as ambulâncias se preparavam para levar os corpos de um lado a outro da rodovia, os colonos chegaram e começaram a atirar pedras.
No confronto que se seguiu, disse Abdulazim, os colonos mataram a tiros seu irmão, Ibrahim Ahmed al-Wadi, de 68 anos, e seu sobrinho, Ahmed Ibrahim al-Wadi, de 31 anos.
Qusra é uma cidade isolada que há muito tempo tem sido alvo de colonos, mas também tem recebido ativistas anti-ocupação de Israel. Na sexta-feira, 13, um homem próximo à entrada do vilarejo verificou os carros e disse que não era permitida a entrada de israelenses.
Em um grande salão de luto, Abdulazim disse que participou de conselhos locais e trabalhou em coordenação com as autoridades israelenses responsáveis pela Cisjordânia. Ele costumava chamar os militares quando os colonos atacavam. Hoje em dia, disse ele, a geração mais jovem zomba de seus apelos para evitar a violência.
“Talvez amanhã meu filho discorde e diga: ‘não, não, pai, eu quero matá-los como eles mataram meu primo’”, disse ele.
“Nós sofremos com os problemas”, acrescentou, “como sofríamos antes da guerra (de Gaza)”.
A Autoridade Palestina, que é profundamente impopular e amplamente vista como uma empresa de segurança para Israel, tem estado praticamente ausente durante a guerra.
O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de submeter “nosso povo em Gaza (...) a um genocídio”. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, estava em Amã para uma reunião com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
Abbas pediu o fim da “agressão israelense” e disse que a evacuação forçada de pessoas de Gaza constituiria uma “segunda catástrofe para nosso povo” - uma referência ao deslocamento de palestinos em 1948, quando o Estado de Israel foi estabelecido.
Em uma rotatória próxima à entrada de Ramallah, sede do governo de Abbas, centenas de jovens vestidos de preto entraram em confronto com as forças de segurança israelenses.
“Viemos para fazer uma intifada”, disse Anwar Abu Salem, de 26 anos, usando o termo árabe para uma revolta, “para o nosso povo em Gaza que está sendo massacrado”.
“Queremos o fim da ocupação e da Autoridade Palestina e recuperar nossas terras.”
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.