BOGOTÁ - Autoridades da cidade de Tame, no departamento de Arauca, na Colômbia, informaram que ao menos 15 pessoas morreram, incluindo um menor de idade, em meios aos confrontos entre dissidentes das Farc e guerrilheiros do ELN. O governo estadual, porém, apresentou cifras menores, de nove mortos, nesta segunda-feira, 4.
Os rebeldes lutam desde o fim de semana no município de Puerto Rondón, perto da fronteira com a Venezuela. Os militares encontraram na área nove corpos e cinco feridos, incluindo uma indígena de 14 anos, segundo vídeo enviado à imprensa pelo governador Wilinton Rodríguez, que não especificou se os mortos e feridos são guerrilheiros ou civis.
“O episódio é diretamente atribuído ao grupo armado organizado do Exército de Libertação Nacional” (ELN), que se reúne com delegados do governo em Caracas no âmbito de um processo de paz, e ao chamado Estado Maior Central (EMC), uma dissidência das Farc, acrescentou o responsável.
Já segundo o jornal colombiano El Tiempo, o representante municipal de Tame, Juan Carlos Villate, informou que seriam ao menos 15 mortos e acrescentou que as cifras poderiam ser ainda maiores.
O departamento de Arauca é palco de duros confrontos há meses entre estes dois grupos. De um lado a chamada 28ª Frente do autodenominado ‘Estado-Maior Central’. Do outro está o ELN, que historicamente ocupa esta zona fronteiriça com a Venezuela.
Ambas as organizações ilegais procuram chegar a acordo sobre o seu desarmamento em processos de paz com o presidente de esquerda Gustavo Petro.
O ELN negocia desde novembro com os delegados do presidente em Cuba, México e Venezuela, enquanto o EMC, formado por rebeldes que se recusaram a assinar o acordo de 2016 com as Farc, pretende fazer o mesmo nos próximos dias.
Apesar da aproximação com o governo, o confronto entre os dois grupos continua. Devido à sua proximidade com a Venezuela e na ausência do Estado, é um território chave para o tráfico de cocaína e minerais extraídos ilegalmente.
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Vídeo incomum
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram uma cena inusitada de um comandante dissidente das Farc pedindo ajuda humanitária para cuidar dos guerrilheiros do ELN feridos em combate. Numa área de selva, cinco combatentes estão caídos no chão, três deles visivelmente feridos.
Do lado direito está um homem com o rosto coberto de sangue e o torso nu. Enquanto isso, o comandante dissidente conhecido como Antonio Medina pede ajuda para cuidar dos feridos.
“Temos uma emergência envolvendo alguns feridos, por isso pedimos à Cruz Vermelha Internacional e a uma comissão governamental que nos forneçam um serviço para ajudá-los, se possível, porque não temos condições de cuidar deles porque são ferimentos graves”, diz o rebelde com rifle e calças camufladas em um vídeo que ele afirma ter sido gravado em 3 de setembro.
“Há outros detidos que disfrutam de boa saúde, mas vamos ver a forma de regressarem às suas famílias. Ao ELN através de uma saudação, dizemos que isto é desnecessário, esta guerra é um absurdo”, acrescenta Antonio Medina.
Num boletim, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmou ter participado na “retirada de vários feridos em combate durante o fim de semana na zona rural de Arauca”, sem especificar quantos eram, ou se eles eram todos combatentes.
Em Janeiro de 2022, pelo menos 23 pessoas morreram em combates entre as duas organizações. A troca de tiros obrigou centenas de habitantes da região a se deslocarem.
As forças públicas mantêm um cessar-fogo com o ELN desde 3 de agosto. Os dissidentes da EMC concordaram no sábado com o governo em retomar uma trégua suspensa desde maio, mas as partes não especificaram quando essa medida entraria em vigor.
Segundo dados oficiais, o Exército de Libertação Nacional, fundado em 1964, era o maior grupo ilegal da Colômbia em 2022, com pelo menos 5.851 membros. O Estado-Maior Central contava com 3.540 pessoas e, segundo os especialistas, o seu poder está a aumentar graças ao recrutamento forçado.
Zonas críticas
Também nesta segunda, o governo da Colômbia e o ELN acordaram em estabelecer zonas críticas em regiões afetadas pelo conflito armado que, segundo os insurgentes, têm estado sob ataque.
“Demos ênfase a algumas zonas críticas”, disse o líder guerrilheiro Pablo Beltrán na cerimônia de encerramento das negociações em Caracas, que serão retomadas no México em data a definir. “É onde mais tem havido embates contra as comunidades e estamos tentando honrar um critério adotado nesta mesa, que é o que for acordado, será implementado”, acrescentou.
Os avanços nos diálogos foram comemorados pelo governo. “Alcançamos novos acordos que nos aproximam muito mais da paz desejada por todos e todas”, disse o representante do Executivo, Otty Patiño.
Segundo o texto lido durante o evento, o acordo alcançado em Caracas “estabelece princípios e abordagens com os quais esperamos que a cessação [das hostilidades] cumpra seu propósito humanitário”.
Além disso, declara o Baixo Calima e San Juan, no Vale do Cauca, um dos focos do conflito, como “zonas críticas” e propõe outras regiões para acrescentar a esta denominação.
“Ali serão antecipadas ações e dinâmicas humanitárias, garantias para o cumprimento do cessar-fogo bilateral, nacional e temporário, a participação das comunidades no processo de paz e projetos de desenvolvimento social, que vão contar com o acompanhamento do Departamento Nacional de Planejamento”, acrescentou o texto.
“Nas próximas semanas, as delegações irão para os territórios desenvolver atividades relativas ao cessar-fogo bilateral, à participação da sociedade nos processos de paz e ao desenvolvimento da pedagogia social de todos e destes assuntos”, detalhou./AFP e EFE
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