Análise | Como a desorganizada milícia houthi se tornou um inimigo ágil e até ‘inspirador’ para os EUA

Defesa americana já tentou copiar armamentos utilizados pelos rebeldes e, portanto, sabia, tão longo os houthis começaram a atacar navios no Mar Vermelho, que seria difícil dominá-los

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Por Helene Cooper e Eric Schmitt

THE NEW YORK TIMES — Durante anos, os rebeldes do Iêmen apoiados pelo Irã, conhecidos como houthis, fizeram um trabalho tão bom em atormentar os parceiros dos Estados Unidos no Oriente Médio que os planejadores de guerra do Pentágono começaram a copiar algumas de suas táticas.

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Observando que os houthis conseguiram transformar em armas sistemas de radar comerciais que estão normalmente disponíveis em lojas de barcos e torná-los mais portáteis, um comandante sênior dos Estado Unidos desafiou suas marinhas a descobrir algo parecido. Em setembro de 2022, as marinhas do Mar Báltico estavam adaptadas com os sistemas de radar móveis inspirados nos houthis.

Então, oficiais sêniores do Pentágono sabiam, tão longo os houthis começaram a atacar navios no Mar Vermelho, que seria difícil dominá-los.

À medida que o governo Biden se aproxima de sua terceira semana de ataques aéreos contra alvos dos houthis no Iêmen, o Pentágono está tentando uma tarefa impossivelmente delicada: prejudicar a habilidade dos houthis de danificar navios comerciais e da Marinha sem arrastar os Estados Unidos para uma guerra prolongada.

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É uma tarefa difícil, especialmente porque os houthis aperfeiçoaram as táticas de guerra irregular, dizem oficiais militares americanos. O grupo não tem muitos grandes depósitos de armas para os caças americanos bombardearem – os rebeldes houthis estão constantemente em movimento com mísseis que lançam de picapes em praias remotas antes de partirem.

A primeira barragem de ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos há quase duas semanas atingiu quase 30 locais no Iêmen, destruindo cerca de 90% dos alvos atingidos, de acordo com funcionários do Pentágono. Mas mesmo com alto nível de sucesso, os houthis mantiveram cerca de 75% da sua capacidade de disparar mísseis e drones contra navios que transitavam pelo Mar Vermelho, reconheceram essas autoridades.

Desde então, o Pentágono lançou mais sede rodadas de ataques. E os houthis continuaram seus ataques em navios que passam pelo Mar Vermelho.

Imagem mostra navio grego Zografia no Canal de Suez, onde foi levado para reparos depois de ter sido danificado em ataques houthi no Mar Vermelho o dia 16 de janeiro.  Foto: EFE/EPA/CANAL SUEZ AUTHORITY OFFICE /DIVULGAÇÃO

“Há um nível de sofisticação aqui que você não pode ignorar”, disse o general Joseph Votel, que liderou o Comando Central militar dos Estados Unidos entre 2016 e 2019, enquanto a Arábia Saudita estava tentando derrotar os houthis no Iêmen.

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Até agora, a estratégia do Pentágono tem sido colocar drones Reaper armados e outras plataformas de sobrevivência no céu sobre o Iêmen, para que então aviões de guerra americanos e navios consigam atingir os alvos móveis do houthi conforme eles surgem.

Na noite de segunda-feira, 22, os Estados Unidos e o Reino Unido atacaram nove locais no Iêmen, atingindo vários alvos em cada localização. Diferente dos ataques anteriores, que eram mais direcionados a alvos de oportunidade, esse ataque noturno foi planejado. Eles atingiram radares, bem como drones, locais de mísseis e bunkers subterrâneos de armazenamento de armas.

Este meio termo reflete a tentativa da administração de minar a capacidade dos houthis de ameaçar navios mercantes e militares, mas não atingir forte suficiente como para matar um grande número de combatentes e comandantes Houthis, potencialmente desencadeando ainda mais caos na região.

Mas oficiais dizem que eles continuarão tentando atingir alvos móveis, enquanto analistas procuram por mais alvos fixos.

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Depois de quase uma década de ataques aéreos sauditas, os houthis são hábeis em esconder o que eles têm, colocando alguns de seus lançadores e de seu armamento em áreas urbanas e lançando mísseis da caçamba de carros ou tratores antes de pular fora. E as armas destruídas são rapidamente substituídas pelo Irã, a medida que um fluxo sem fim de dhows (os típicos veleiros do Mar Vermelho) transporta mais armamentos para o Iêmen, segundo oficiais americanos.

Os principais comandantes do houthi estudaram com treinadores do Hezbollah no Líbano, principalmente como serem adaptáveis. Foto: AP Photo

Até mesmo uma aparente bem sucedida operação de comando dos Estados Unidos no dia 11 de janeiro, que apreendeu um pequeno barco carregando componentes de misseis balísticos e mísseis de cruzeiro ao Iêmen, teve um preço: o Pentágono disse no domingo, 21, que os dois membros dos Navy Seal, que desapareceram durante a operação, foram considerados mortos depois de uma “exaustiva” busca de 10 dias. Comandos da Marinha, apoiados por helicópteros e drones que pairavam no alto, abordaram o pequeno barco e apreenderam sistemas de propulsão e orientação, ogivas e outros itens.

Acredita-se que os houthis tinham instalações subterrâneas de montagem e produção mesmo antes da guerra civil do Iêmen começar em 2014. A milícia apreendeu o arsenal do exército do país quando tomou Sana, a capital, há uma década. Desde então, acumulou um arsenal diversificado e cada vez mais letal de mísseis balísticos e de cruzeiro e drones de ataque unidirecional, a maioria fornecidos pelo Irão, disseram analistas militares.

“É surpreendente a diversidade do arsenal deles”, disse Fabian Hinz, um especialista em mísseis, drones e Oriente Médio, do Instituto Internacional de Estudos para Guerra, em Londres.

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O Hezbollah, a milícia libanesa apoiada pelo Irã, também ajudou. Os principais comandantes do houthi estudaram com treinadores do Hezbollah no Líbano, principalmente como serem adaptáveis, disse Hisham Maqdashi, um conselheiro de defesa do governo Iêmen internacionalmente reconhecido.

Hezbollah “os treinou para serem capazes de se adaptarem às mudanças na guerra do Iêmen”, Maqdashi disse em uma entrevista. “Eles não os treinaram nos detalhes, mas em como serem muito dinâmicos.”

Isso deixa os Estados Unidos e seus parceiros de coligação com apenas três opções viáveis, dados os parâmetros dos objetivos estratégicos do presidente Joe Biden, dizem analistas militares. Eles poderiam apreender os armamentos vindo pelo mar do Irã; encontrar os mísseis, o que requer uma ampla inteligência; ou atacar os locais de lançamento.

A terceira opção é mais difícil. Acredita-se que militares houthis escondam lançadores móveis de mísseis em diversos locais, incluindo dentro de bueiros até sob viadutos de rodovias. Eles são facilmente movidos para lançamentos rápidos.

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As manobras móveis dos houthis funcionaram tão bem contra a Arábia Saudita que os fuzileiros navais iniciaram um esforço experimental para copiá-las. Eles desenvolveram um radar móvel, essencialmente um radar Simrad Halo24 — você pode conseguir um por cerca de US$ 3 mil nas Bass Pro Shops — que pode ser colocado em qualquer barco de pesca. Demora cinco minutos para configurar. Os fuzileiros navais, assim como os Houthis, têm estudado como usar os radares para enviar dados sobre o que está acontecendo no mar.

O tenente-general Frank Donovan, agora vice-comandante do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos, percebeu o que os houthis estavam fazendo com o radar quando ele liderava uma força-tarefa anfíbia da Quinta Frota operando no sul do Mar Vermelho. Tentando descobrir como os houthis estavam atacando os navios, o general Donovan logo percebeu que os rebeldes estavam montando radares prontos para uso em veículos na costa e os movimentando.

Ele desafiou seu Segundo Batalhão de Reconhecimento Blindado Leve a desenvolver um sistema semelhante.

Análise por Helene Cooper

The New York Times

Eric Schmitt

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