As eleições legislativas de meio de mandato (midterms, como são conhecidas nos Estados Unidos), mal terminaram e, pelos corredores de Washington, não se fala em outra coisa: os resultados devem mandar o Partido Republicano das urnas diretamente para o divã.
Diferente do que se havia projetado os republicanos não conseguiram sustentar uma “onda vermelha” no Congresso. Não foram capazes de recuperar o controle do Senado e embora devam alcançar a maioria na Câmara dos Representantes, possuirão uma margem muito mais modesta do que o esperado. É simplesmente o pior resultado de um partido de oposição em décadas nas eleições de meio de mandato.
Isso torna-se ainda mais emblemático neste momento da História em particular: os Estados Unidos vivem a maior alta inflacionária em 40 anos e o presidente é considerado uma liderança fraca, com índices de popularidade baixos, como não se via desde Dwigth Eisenhower, nos anos 1950, pelo menos.
Ao menos 03 grandes crises pairam, neste momento, sobre o futuro do Partido Republicano:
1) como criar novos consensos capazes de acomodar mudanças geracionais e demográficas que afetam profundamente a realidade política dos Estados Unidos e reverberam sobre disputas eleitorais importantes
2) como ressignificar a própria identidade partidária, de modo a sustentar uma narrativa que consistentemente equilibre o conservadorismo e a defesa do livre mercado de sempre com demandas e preocupações que ganharam espaço nos últimos anos a partir da emergência de uma “nova direita”
3) como reduzir a dependência de Donald Trump, um candidato não apenas vulnerável pelos inúmeros processos que enfrenta na Justiça, mas cujo endosso mostrou-se tóxico ao partido nas midterms, com praticamente todos os seus indicados estratégicos retumbantemente rejeitados pelo eleitorado.
É claro que os republicanos tiveram vitórias em 2022. Pressionarão o governo Biden sempre que tiverem a oportunidade. Serão tão ativos em favorecer legislações que desejam aprovar quanto para barrar aquilo que não lhes for conveniente.
Incidirão sobre a agenda, além de serem vozes ativas para determinar quem liderará importantes comitês da Câmara, por exemplo. Também tentarão contrabalançar os danos reputacionais causados desde a invasão do Capitólio, em 06 de janeiro de 2021, submetendo Biden a exaustivas investigações. Inundarão o presidente com acusações e críticas já mirando o pleito de 2024.
Apesar disso tudo, saem das eleições de meio de mandato com um gosto amargo de derrota na boca. O antídoto passará por reconhecer que é preciso falar sobre outras coisas que não apenas economia, que será necessário estimular o diálogo de quadros capazes de fortalecer a direita democrática dentro dos Estados Unidos e que, na política, é importante impor severos limites ao culto à personalidade, especialmente de populistas.
*Doutora, especialista em Estados Unidos, coordenadora de Relações Internacionais na FAAP e pesquisadora visitante na University of Southern California.
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