Como as falsas alegações sobre gatos mortos se tornaram material de campanha de Trump

Falsas alegações de que migrantes em Ohio estão matando gatos e decapitando patos se tornaram virais esta semana. A campanha de Trump as adotou

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Por Stuart A. Thompson (The New York Times)
Atualização:

Uma falsa alegação de que imigrantes mataram animais selvagens e de estimação para comer bombou na Internet esta semana, passando de publicações marginais nas mídias sociais para um ponto de discussão da campanha de Trump em questão de dias.

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As alegações foram baseadas em várias histórias sem fundamento e pareciam misturar histórias não relacionadas sobre crueldade com animais. A ideia também tem raízes profundas em estereótipos racistas, que retratam os estrangeiros como consumidores voluntários de uma variedade de animais indesejáveis.

A rápida proliferação ressalta a rapidez com que afirmações falsas podem se espalhar em redes sociais como a X. Milhares de publicações mencionando a ideia inundaram as mídias sociais no último fim de semana e aumentaram na segunda-feira, de acordo com a Pyrra Technologies, uma empresa que monitora as mídias sociais.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um evento em Nova York, Estados Unidos  Foto: Alex Brandon/AP

Isso também sinaliza a disposição da campanha do ex-presidente Donald Trump de ecoar falsidades e teorias da conspiração à medida que o dia da eleição se aproxima. Nas últimas semanas, Trump voltou a fazer afirmações infundadas de que a eleição presidencial de 2020 foi roubada, que os democratas estão conspirando para interferir na corrida deste ano e que as investigações sobre a interferência russa são uma “farsa”.

Entre as primeiras pessoas de destaque a compartilhar a informação falsa no fim de semana estava Charlie Kirk, fundador e presidente do Turning Point USA, um grupo conservador. Ele escreveu no X no domingo que “os residentes de Springfield, Ohio, estão relatando que os haitianos estão comendo os animais de estimação das famílias”, compartilhando uma publicação sem data de um grupo privado do Facebook sobre crimes em Springfield, que tem menos de 9.000 membros. A publicação de Kirk foi visualizada 3,9 milhões de vezes.

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O autor da publicação no Facebook disse que a amiga da filha de um vizinho havia visto crueldade animal contra um gato do lado de fora de uma casa ocupada por imigrantes haitianos.

Autoridades da cidade de Springfield, que tem uma população de cerca de 60.000 habitantes, disseram que não tinham visto “nenhum relato confiável ou alegações específicas de animais de estimação sendo feridos, machucados ou maltratados por indivíduos da comunidade de imigrantes” e chamaram as alegações de uma frustração persistente.

A cidade de Springfield, em Ohio, ficou nacionalmente conhecida após um rumor falso de que imigrantes haitianos estariam comendo gatos e cachorros  Foto: Maddie Mcgarvey/NYT

A cidade tem enfrentado um aumento de imigrantes nos últimos anos, incluindo cerca de 20.000 pessoas do Haiti que se mudaram desde a pandemia. Elon Musk, proprietário do X, e Donald Trump amplificaram a história, atingindo milhões de pessoas.

O senador JD Vance, de Ohio, vice na chapa de Donald Trump, seguiu a mesma linha, afirmando que “relatórios agora mostram que pessoas tiveram seus animais de estimação sequestrados e comidos por pessoas que não deveriam estar neste país”. Sua publicação foi vista mais de 10 milhões de vezes.

Um e-mail da campanha de Trump para apoiadores à tarde também citou as alegações. Musk e Kirk não responderam imediatamente aos pedidos de comentários. Um porta-voz de Vance disse que suas postagens foram baseadas em “um grande volume de ligações e e-mails nas últimas semanas de cidadãos preocupados em Springfield”.

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Redes sociais

A falsidade continuou enquanto os influenciadores circulavam uma rodada de obras de arte geradas pela I.A. zombando da situação ou elogiando Trump. Entre as milhares de publicações referentes às alegações infundadas identificadas pela Pyrra nas redes sociais, quase 20% incluíam linguagem de ódio, de acordo com uma análise da Pyrra que classifica as publicações com base em termos racistas, antissemitas e outros termos ofensivos.

O senador J.D Vance e sua esposa, Usha Vance, participam de um comício em St. Cloud, Minnesota  Foto: Alex Brandon/AP

“Proteja nossos patos e gatinhos em Ohio!”, escreveu a conta oficial dos republicanos no Comitê Judiciário da Câmara no X, incluindo uma imagem gerada por IA de Trump abraçando os dois animais. A imagem foi vista mais de 71 milhões de vezes.

Outros influenciadores compartilharam imagens geradas por IA que usavam caricaturas abertamente racistas de homens negros.

Vance pareceu recuar na terça-feira, escrevendo no X que “é possível, é claro, que todos esses rumores se revelem falsos”. Mas ele incentivou os apoiadores a continuar repetindo-os, escrevendo em uma segunda postagem: “Mantenha os memes de gatos fluindo”.

“Em última análise, o fato de que essa história se baseia em evidências duvidosas, alegações não comprovadas e fomento do medo, em vez de fatos, não impede sua disseminação de forma alguma”, disse Mike Rothschild, pesquisador de teoria da conspiração. “As pessoas que compartilham os memes querem que seja verdade, então é verdade para elas.”

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Nesta imagem que circulou nas redes sociais, o personagem Grinch está vestido de Donald Trump, segurando um gato em uma mão e um cachorro na outra após o ex-presidente americano mencionar um rumor falso de que imigrantes haitianos estariam comendo animais de estimação em Springfield, Ohio Foto: Tele Tee/Pinterest

Teoria da conspiração

Os rumores de que um gato foi comido também parecem estar ligados a uma mulher que foi presa em Canton, Ohio, cerca de duas horas a leste de Springfield, em agosto. Os policiais foram chamados por vizinhos preocupados, que alegaram que ela estava usando drogas, depois que ela foi vista do lado de fora ao lado de um gato morto. Um relatório policial dizia que ela havia sido encontrada com sangue em seus “pés, mãos e pelos nos lábios”.

A mulher, Allexis Telia Ferrell, 27 anos, mora em Canton e se declarou inocente das acusações de crueldade contra pets. O tribunal agendou uma audiência em outubro para determinar sua competência para ser julgada. Seu advogado não respondeu aos pedidos de comentários.

Embora muitas postagens afirmem que Ferrell era do Haiti, os registros de nascimento mostram que ela nasceu em Ohio em 1997.

Outras alegações parecem estar relacionadas a uma reunião da Comissão da Cidade de Springfield em 27 de agosto, quando vários residentes protestaram contra as autoridades da cidade por causa da população haitiana, cujo rápido crescimento na região inflamou as tensões entre os residentes. No ano passado, um imigrante recente do Haiti estava dirigindo uma minivan que colidiu com um ônibus escolar, matando uma criança de 11 anos e galvanizando a oposição à população migrante.

Nathan Clark, pai de Aidan Clark, criança de 11 anos que morreu após um acidente entre um carro e uma van escolar, discursa na Assembleia Municipal da cidade  Foto: Prefeitura de Springfield / AP

Na reunião da comissão, Anthony Harris, um influenciador de mídia social, fez uma alegação infundada de que patos estavam sendo decapitados no parque enquanto reclamava da falta de presença policial. As autoridades da cidade e um representante da polícia disseram que não havia relatos confiáveis que sustentassem essa ideia.

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Na terça-feira, Musk postou um vídeo de Harris falando na reunião para seus milhões de seguidores. Ele foi visto mais de 20 milhões de vezes.

Mais tarde, na terça-feira, Harris publicou um vídeo em sua página do Facebook, voltando atrás em suas afirmações, dizendo que iria “esclarecer” estereótipos. Ele entrevistou um homem que disse ser do Haiti e que as alegações sobre a matança de animais eram falsas, acrescentando que as pessoas “estavam sendo enganadas”.

Algumas alegações sobre Springfield também incluíam uma fotografia de um homem negro atravessando a rua carregando o que parecia ser um ganso do Canadá morto. A imagem se espalhou online depois que apareceu pela primeira vez no Reddit, incluindo postagens no 4chan, a rede social anônima conhecida pelo conteúdo racista. Muitas das postagens descreveram falsamente o homem como um haitiano residente em Springfield.

Na verdade, a foto foi tirada em Columbus, Ohio, 60 quilômetros a leste de Springfield, em 28 de julho. O fotógrafo, um homem de 55 anos que concordou em falar anonimamente por temer repercussões, disse que viu o homem atravessando a rua e simplesmente achou que era um momento engraçado.

O fotógrafo foi contatado na segunda-feira por uma mulher do Departamento de Recursos Naturais de Ohio que estava tentando verificar sua autenticidade depois de receber “tantos relatos falsos sobre ‘haitianos em Springfield’ com essa foto”, de acordo com mensagens de texto analisadas pelo The New York Times. O departamento não respondeu aos pedidos de comentários.

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Em uma entrevista por telefone, o fotógrafo disse que se arrependeu de ter postado a foto depois de vê-la sendo usada para atacar os imigrantes.

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