Como Biden tenta se apressar em ajudar a Ucrânia antes da chegada de Donald Trump

O presidente eleito insistiu nos dias mais recentes por um cessar-fogo e disse que Kiev provavelmente deveria se preparar para receber menos ajuda militar dos EUA

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Por Ellen Knickmeyer (The Associated Press), Illia Novikov (The Associated Press) e Aamer Madhani (The Associated Press)
Atualização:

WASHINGTON (AP) — A guerra entre a Ucrânia e seus invasores russos se intensificou antes da posse de Donald Trump, com o presidente Joe Biden apressando o envio de bilhões de dólares a mais em ajuda militar antes que o apoio dos EUA às defesas de Kiev seja questionado sob o novo governo.

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Rússia, Ucrânia e seus aliados globais estão se esforçando para colocar suas respectivas forças na melhor posição possível para quaisquer mudanças que Trump possa trazer à política americana para esta guerra que já dura quase 3 anos. O presidente eleito insistiu nos dias mais recentes que a Rússia e a Ucrânia imediatamente chegassem a um cessar-fogo e disse que a Ucrânia provavelmente deveria se preparar para receber menos ajuda militar dos EUA.

Nas linhas de frente da guerra, as forças da Ucrânia estão cientes da rápida aproximação da presidência de Trump e do risco de perder seu maior apoiador.

O presidente dos EUA, Joe Biden, está apressando o envio de bilhões de dólares a mais em ajuda para Kiev antes do novo governo tomar posse. Foto: Susan Walsh/AP

Se isso acontecer, “aquelas pessoas que estão comigo, na minha unidade, não vão recuar”, disse à reportagem um comandante de companhia de drones de ataque ucraniano, lutando na região de Kursk, na Rússia, com a 47ª Brigada, por telefone.

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“Enquanto tivermos munição, enquanto tivermos armas, enquanto tivermos algum meio para derrotar o inimigo, lutaremos”, disse o comandante, que atende pelo seu codinome militar, Hummer. Ele falou sob condição de não ser identificado pelo nome, citando regras militares ucranianas e preocupações com a segurança.

“Mas, quando todos os meios acabarem, é necessário entender que seremos destruídos muito rapidamente”, disse ele.

O governo Biden está gastando cada dólar disponível para reforçar as defesas da Ucrânia antes de deixar o cargo em seis semanas, anunciando mais de US$ 2 bilhões em apoio adicional desde que Trump venceu a eleição presidencial no mês passado.

Os EUA enviaram um total de US$ 62 bilhões em ajuda militar desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. E mais ajuda está a caminho.

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O governo está se preparando para dispensar a parcela dos EUA de um empréstimo de US$ 50 bilhões para a Ucrânia, apoiado por ativos russos congelados, antes que Biden deixe a Casa Branca, disseram autoridades dos EUA. Eles disseram que os EUA e a Ucrânia estão em “estágios avançados” de discussão dos termos do empréstimo e perto de executar os US$ 20 bilhões do empréstimo maior que os EUA estão apoiando.

Biden também rebaixou os critérios para a Ucrânia usar mísseis americanos de longo alcance contra alvos militares em áreas mais profundas da Rússia, após meses recusando esses apelos por medo de provocar a Rússia a entrar em uma guerra nuclear ou atacar o Ocidente. Ele também permitiu recentemente que a Ucrânia empregasse minas antipessoais, proibidas por muitos países.

Biden e seus principais assessores, no entanto, estão céticos de que permitir o uso mais livre de mísseis de longo alcance mudará a trajetória mais ampla da guerra, de acordo com dois altos funcionários do governo que falaram sob condição de anonimato para discutir deliberações internas.

Mas o governo tem pelo menos uma medida de confiança de que seu esforço, combinado com o forte apoio europeu contínuo, significa que Biden deixará o cargo tendo dado à Ucrânia as ferramentas de que precisa para sustentar sua luta contra a Rússia por algum tempo, disseram as autoridades.

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O suficiente para resistir, mas não o suficiente para derrotar as forças do presidente russo Vladimir Putin, de acordo com a Ucrânia e alguns de seus aliados.

Mesmo agora, “o governo Biden tem sido muito cuidadoso para não se ver diante da possibilidade de um Putin derrotado ou uma Rússia derrotada” por medo do tumulto que isso poderia trazer, disse o general aposentado Philip Breedlove, ex-comandante supremo aliado da Otan. Ele critica o ritmo cauteloso de Biden no apoio militar à Ucrânia.

Eventos longe das linhas de frente no fim de semana mais recente demonstraram o impacto da guerra nas forças armadas da Rússia.

Um prédio danificado após um ataque na cidade de Zaporizhzhia, em meio à invasão russa da Ucrânia, em 10 de dezembro de 2024 Foto: Canal oficial do Telegram do chefe da Administração Militar Regional de Zaporizhzhia Ivan Fedorov via AFP

Na Síria, os rebeldes tomaram a capital do país e derrubaram o presidente Bashar Assad, aliado da Rússia. As forças russas na Síria apoiaram Assad por anos, mas saíram do caminho do ataque dos rebeldes, não querendo sofrer perdas para defender seu aliado.

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Biden disse que era mais uma evidência de que o apoio dos EUA ao presidente ucraniano Volodmir Zelenski estava desgastando o exército russo.

Trump, que há muito tempo fala favoravelmente de Putin e descreve Zelenski como um “showman” que engana os EUA para obter dinheiro, usou aquele momento para pedir um cessar-fogo imediato entre a Ucrânia e a Rússia.

E perguntado em uma entrevista na TV — gravada antes de se encontrar com Zelenski no fim de semana em Paris — se a Ucrânia deveria se preparar para a possibilidade de redução da ajuda, Trump disse: “Sim. Provavelmente. Claro.”

Os apoiadores de Trump chamam isso de manobra de pré-negociação de um negociador inveterado. Seus críticos dizem temer que isso mostre que ele está sob o domínio de Putin.

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Zelenski disse na segunda feira que a retirada das forças russas de postos avançados em todo o mundo demonstra que “todo o Exército deste grande pseudo-império está lutando contra o povo ucraniano hoje”.

“Forçar Putin a encerrar a guerra exige que a Ucrânia seja forte no campo de batalha antes que possa ser forte diplomaticamente”, escreveu Zelenski nas redes sociais, repetindo apelos quase diários por mais mísseis de longo alcance dos EUA e da Europa.

Em Kursk, o comandante ucraniano Hummer disse ter percebido que os ataques de artilharia e bombardeios russos estão diminuindo desde que os EUA e seus aliados europeus afrouxaram os limites para o uso de mísseis de longo alcance.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, insistiu nos dias mais recentes que a Rússia e a Ucrânia imediatamente chegassem a um cessar-fogo. Foto: Jim Watson/AFP

Mas Moscou tem intensificado suas ofensivas de outras maneiras nos seis meses mais recentes, gastando homens e material em ataques de infantaria e outros ataques muito mais rápido do que pode substituí-los, de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra.

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Em Kursk, isso inclui a Rússia enviando ondas de soldados em motocicletas e carrinhos de golfe para atacar posições ucranianas, disse Hummer. O comandante ucraniano de drones e seus camaradas defendem o terreno que tomaram da Rússia com armas de fogo, tanques e veículos blindados fornecidos pelos EUA e outros aliados.

Os aliados da Ucrânia temem que o tipo de cessar-fogo imediato que Trump está pedindo seria principalmente nos termos de Putin e permitiria que o líder russo retomasse a guerra quando seu Exército estivesse recuperado.

“Putin está sacrificando seus próprios soldados a uma taxa grotesca para tomar qualquer território que puder, supondo que os EUA dirão à Ucrânia que a ajuda dos EUA acabou, a menos que a Rússia consiga ficar com o que tomou”, escreveu Phillips O’Brien, professor de estudos estratégicos na Universidade de St. Andrews, na Escócia, em seu canal Substack.

A necessidade de Putin por tropas o levou a trazer forças norte-coreanas. A decisão de Biden de permitir que a Ucrânia usasse mísseis de longo alcance de forma mais ampla na Rússia foi em parte uma resposta, com a intenção de desencorajar a Coreia do Norte de um envolvimento mais profundo na guerra, disse um dos altos funcionários do governo.

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Desde 2022, a Rússia já vinha retirando forças e outros ativos militares da Síria, Ásia Central e outros lugares para usá-los na luta contra a Ucrânia, disse George Burros, especialista no conflito Rússia-Ucrânia no Instituto para o Estudo da Guerra.

Qualquer poder de combate que a Rússia tenha deixado na Síria que possa ser mobilizado para a Ucrânia dificilmente mudará o equilíbrio do campo de batalha, disse Burros.

“O Kremlin priorizou a Ucrânia o máximo que pode”, disse ele. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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