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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Como conter um ditador

Atender aos desejos de Putin, como ficou evidente nos últimos anos, não previne suas agressões

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Atualização:

Como conter um ditador que só entende a linguagem da força bruta sem ampliar o sofrimento e a devastação. Esse é o desafio que a invasão da Ucrânia impõe ao mundo. Não existe uma solução boa, um final feliz, e provavelmente nem sequer uma resposta racional. Trata-se de escolher o que parece menos doloroso, menos injusto e menos trágico.

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Não há nada que a Ucrânia, a União Europeia e os EUA possam oferecer a Vladimir Putin que vá apaziguá-lo. Pergunte aos alemães. Mesmo depois da invasão da Ucrânia pela Rússia em 2014, que, desde então, causou a morte de 14 mil ucranianos e o deslocamento de 1,5 milhão de suas casas em Donbas, no leste do país, a então chanceler Angela Merkel acreditou que podia apaziguar Putin, aumentando a interdependência econômica.

Alemanha e Rússia construíram o gasoduto Nord Stream 2, ligando os dois países, ao custo de US$ 11 bilhões. A obra foi concluída em novembro. Se entrasse em operação em dezembro, como estava previsto, ampliaria a dependência alemã do gás russo, que já representa 55% do que o país importa, e da Europa em geral, 40%.

'Atender aos desejos de Putin não previne suas agressões. Ao contrário. Atiça' Foto: Russian Presidential Press Service via AP

Merkel decidiu fechar todas as usinas nucleares depois do acidente de Fukushima em 2011 e eliminar o uso do carvão até 2030 por causa das emissões de gases do efeito estufa. Essa dependência significou um importante incentivo para Putin invadir a Ucrânia, ao contrário do que a chanceler pretendia.

Da mesma maneira, depois da invasão de 2014, a Ucrânia passou a solicitar da Otan sistemas antiaéreos capazes de interceptar os mísseis e caças-bombardeiros russos. A Otan recusou os pedidos, alegando que isso seria visto como provocação por Putin.

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A Rússia invadiu a Geórgia, em 2008, por causa da intenção manifesta no ano anterior de georgianos e ucranianos de entrar na Otan. Desde então, as portas da aliança estão fechadas aos dois países. Em 2014, a invasão da Ucrânia foi motivada pela intenção do país de ingressar na União Europeia, e a derrubada, em meio a protestos populares, do presidente Viktor Yanukovich, que obedecia a Putin. As portas da UE também se fecharam para a Ucrânia.

Como se vê, atender aos desejos de Putin não previne suas agressões. Ao contrário. Atiça. Agora que a Otan perdeu as oportunidades de elevar o custo do ataque à Ucrânia, precisa fazer tudo que não cause uma guerra direta com Putin, que ameaça empregar armas de destruição em massa.

A doação dos 24 Migs-29 da Polônia era uma boa ideia, mas o governo polonês fez alarde e inviabilizou o plano. Outras iniciativas como essa precisam ser intensificadas. Os ucranianos já provaram sua determinação e capacidade de lutar por sua liberdade e dignidade. Mas precisam dos meios dos quais foram privados até aqui.

* É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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