Opinião | Como Donald Trump vai lidar com a UE, Otan e a guerra na Ucrânia se vencer as eleições nos EUA?

Republicano deve impor tarifas, questionar o gasto militar de países europeus e forçar uma negociação pelo fim da guerra na Ucrânia

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Por Gunther Rudzit
Atualização:

As relações entre os Estados Unidos e a Europa tiveram o seu pior momento durante o governo de Donald Trump. O embate dele com o Velho Continente foi tanto do ponto de vista econômico quanto militar. Na agenda comercial ele ameaçou entrar em uma guerra tarifária, pois considerava que o bloco favorecia a indústria alemã que roubava os empregos e mercados dos americanos. Ele chegou a dizer que a Europa era um inimigo “pior que a China, só menor”.

Já do ponto de vista militar, ele chegou a ameaçar uma saída da Otan, a aliança militar que protege a Europa. Esta proposta veio depois dele reclamar que os europeus não gastavam o suficiente militarmente, e que os Estados Unidos é que protegiam o continente. Neste aspecto ele estava certo. Após a anexação da Criméia pela Rússia em 2014, os países membros concordaram em estabelecer um padrão mínimo de 2% do PIB para a Defesa. Contudo, poucos governos efetivamente haviam chegado a este nível, e, dentre os que haviam, a grande maioria foi de países pequenos. E, justamente a maior economia, a Alemanha, não havia chegado nem perto desse patamar.

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Mesmo sendo um dos políticos mais incertos quanto a promessas, o que se pode esperar de um novo governo Trump frente à Europa, é a mesma linha, ou até mais radical.

Do ponto de vista comercial, é consenso que ele voltará a pressionar por acordos que deem maior abertura aos produtos e empresas americanas. E, caso os europeus não concordem, uma guerra tarifária se instalará entre os dois grandes parceiros comerciais.

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O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Ross D. Franklin/AP

Já do ponto de vista militar, ele não precisará sair da Otan para punir os europeus, até mesmo porque esta decisão necessitaria de aprovação de uma super maioria no Senado. E, mesmo que esta casa volte a ser controlada pelos republicanos, eles não conseguirão uma bancada para tanto.

Porém, ele poderá tomar outras iniciativas que paralisem a Aliança. A primeira é não indicar o embaixador para Bruxelas, o que faria com que nenhuma decisão, que precisa ser por unanimidade, possa ser tomada. Outra medida é ele não indicar, ou não autorizar a ida, de um general para o cargo de comandante das forças militares da Otan. Este cargo é ocupado somente por um americano, e, na ausência dele, as decisões seriam muito mais difíceis de serem tomadas e concretizadas.

Former president Donald Trump at a campaign rally in Greensboro, N.C., on Oct. 22. MUST CREDIT: Jabin Botsford/The Washington Post  Foto: Jabin Botsford/The Washington Post

Em relação à Ucrânia, ele vem deixando bem claro, que acabará com a guerra antes mesmo de tomar posse. Apesar dele não ter dito exatamente o que faria, pessoas próximas a ele disseram que ele negociaria direto com os governos russo, ucraniano e europeu para que o território ocupado pela Rússia fosse dela, mas se tornaria uma zona desmilitarizada. Por outro lado, Kiev teria ajuda militar americana para se fortalecer para que nunca mais fosse invadida. Mas o custo disso seria a sua neutralidade, sem entrar para nenhuma instituição ocidental.

É de se esperar que Trump volte a ter uma boa relação com o presidente Vladimir Putin, a quem ele já chamou de gênio. A sua admiração pelo líder autocrático não é novidade, mas os limites que ele teria para aliviar as sanções seriam dados pelo Congresso. Mesmo que o Senado volte a ser controlado pelos republicanos, há uma grande maioria deles que veem Putin como uma ameaça, fazendo com que Trump não possa implementar todas as suas ideias. E se realmente os democratas conseguirem recuperar o controle da Câmara dos Deputados, suas ambições serão ainda mais contidas.

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Opinião por Gunther Rudzit

Professor de Relações Internacionais da ESPM-SP e professor colaborador da Universidade da Força Aérea (UNIFA), doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo com tema na área de Segurança Internacional e Mestre em National Security por Georgetown University (2000)

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