Como é a política de ‘covid zero’ que tem causado protestos na China

Pequim adotou restrições severas para conter avanço do coronavírus no país, ainda no começo da pandemia, e mantém medidas na mesma intensidade até o momento, provocando um esgotamento na população

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Por Redação

PEQUIM ― Uma rara onda de protestos se alastrou pelas principais cidades da China contra a rígida política de combate à covid-19 no país, conhecida como “covid zero”. Em cidades como Pequim, Xangai e Chengdu, milhares de pessoas saíram às ruas no fim de semana, nas manifestações contrárias ao governo mais visíveis em anos, pedindo pelo vim das medidas restritivas consideradas por muitos draconianas. Mas afinal, o que é a política “covid zero” da China?

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Ainda em 2020, quando o risco do novo coronavírus começava a ficar claro para o mundo e o número de casos e mortes disparava, o governo chinês estabeleceu protocolos rígidos de controle social na tentativa de conter o avanço do vírus: regiões inteiras foram isoladas ao menor sinal de detecção do vírus ― às vezes, apenas um caso ―, impedindo a circulação de milhões de pessoas; testagens em massa e periódica se tornaram obrigatórias para moradores em áreas com comprovada circulação do vírus; famílias que testaram positivo para a doença foram separadas para serem tratadas em centros governamentais; e barreiras físicas foram instaladas para bloquear os acessos à complexos residenciais, bairros e mesmo distritos inteiros, considerados áreas de risco.

De lá para cá, pouca coisa mudou.

Funcionário do governo chinês guarda entrada para bairro em lockdown no distrito de Jing'an, em Xangai. Foto: Hector Retamal/ AFP - 29/03/2022

Enquanto a maioria dos países do mundo flexibilizou as medidas emergenciais adotadas no auge da pandemia e investiu em campanhas de vacinação, resgatando parcialmente algumas restrições em momentos específicos, Pequim manteve o forte controle social, sob o argumento de que em um país com mais de um bilhão de habitantes, a propagação do vírus teria efeitos nefastos para o sistema de saúde e em vidas perdidas.

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Embora os protestos atuais sejam os mais visíveis, este não é o primeiro momento em que a discordância dos chineses à política de saúde pública do governo se faz ouvir. Ao longo da pandemia, questionamentos (muitas vezes furiosos) foram feitos em cidades sob lockdown, como Xangai. Dentro de um contexto político delicado, em que o presidente Xi Jinping ainda buscava o inédito terceiro mandato consecutivo na China moderna, o governo lidou com os protestos com cada vez mais controle social e da narrativa, não dando espaço para questionamentos ou revisões.

A cada nova crise mundial, como os surgimentos das variantes Delta e Ômicron, que causaram preocupação global e fizeram alguns países que já normalizavam a vida em seus territórios voltarem atrás, o governo chinês se gabou de sua política constante, apontando os recuos de países ocidentais como um sinal de pouca preocupação com suas populações, enquanto Pequim continuou a cuidar dos seus.

Mas a forte campanha de controle da narrativa não foi suficiente para acabar com os questionamentos. Nos protestos nacionais mais recentes, a gota d’água foi a morte de dez pessoas, incluindo três crianças, durante um incêndio em um prédio residencial que estava em lockdown, na cidade de Urumqi, na província de Xinjiang. Moradores culparam os bloqueios de acesso ao local à demora ao socorro ― fato negado pelo governo. Antes, o confinamento forçado e vigiado de milhões de pessoas já havia motivado protestos locais, bem como os impactos econômicos, especialmente a pequenos comerciantes.

Mesmo com os últimos protestos, o governo não deu sinal de que vai abandonar a política de “covid zero”, limitando-se a anunciar algum abrandamento momentâneo. Pequim proibiu a instalação de portões para bloquear o acesso a complexos de apartamentos residenciais onde forem encontrados casos de covid-19; Guangzhou suspendeu testes em periódicos aos moradores; e Urumqi permitiu a reabertura de mercados e outros estabelecimentos em áreas consideradas de baixo risco, e a retomada do serviço de ônibus./ NYT, WPOST, AFP e AP

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