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Como funciona o plano da China para virar uma superpotência nuclear ao lado de EUA e Rússia

Xi Jinping conta com apoio de Putin para criar super-reator nuclear movido a plutônio

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Por David E. Sanger, William J. Broad e Chris Buckley

WASHINGTON — No litoral chinês, a apenas 215 quilômetros de Taiwan, a China de Xi Jinping está se preparando para ativar um novo reator que, de acordo com o Pentágono, servirá para produzir combustível para uma vasta expansão do arsenal nuclear da China, com o objetivo de equiparar as ogivas chinesas às de Estados Unidos e Rússia. O reator, conhecido como modelo de reprodução rápida, é excelente para a produção de plutônio, um dos melhores combustíveis para uma bomba atômica.

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O material nuclear para o reator será fornecido por Vladimir Putin. A gigante nuclear russa Rosatom concluiu nos meses mais recentes a entrega de 25 toneladas de urânio altamente enriquecido para dar início à produção.

Esse acordo significa que Rússia e China estão agora cooperando em um projeto que vai ajudar seus próprios planos de modernização nuclear e, de acordo com estimativas do Pentágono, produzir arsenais cujo tamanho somado pode superar em muito o dos EUA.

O presidente chinês, Xi Jinping, brinda acordos assinados com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em um jantar no Kremlin em encontro em março de 2023 Foto: Pavel Byrkin / Sputnik, Kremlin Pool / via AP

Esta nova realidade está levando a uma ampla reelaboração da estratégia nuclear americana como poucos esperavam há pouco mais de dez anos, quando o presidente Barack Obama vislumbrou um mundo que avançava inexoravelmente para a eliminação de todas as armas nucleares. Em vez disso, os EUA enfrentam agora questões ligadas a como administrar uma rivalidade nuclear tríplice, entre Washington, Pequim e Moscou. Essa novidade, dizem analistas, coloca em xeque boa parte da estratégia de dissuasão que evitou com sucesso uma guerra nuclear.

A expansão da China, em um momento em que a Rússia está mobilizando novos tipos de armas e ameaçando usar armas nucleares táticas no campo de batalha da Ucrânia, é apenas o mais recente exemplo daquilo que os estrategistas americanos enxergam como uma era nova e muito mais complexa se comparada ao que os EUA vivenciaram durante a Guerra Fria.

Plutônio para bombas atômicas

A China insiste que os reatores de alta reprodução no litoral serão apenas para propósitos civis, e não há provas de que China e Rússia estejam trabalhando juntas nas armas em si, ou em uma estratégia nuclear coordenada para confrontar seu adversário em comum.

Mas John F. Plumb, funcionário do alto escalão do Pentágono, disse ao Congresso recentemente: “Não se pode ignorar o fato de que reatores de reprodução rápida são plutônio, e plutônio é para armas”.

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Este pode ser apenas o começo. Em um anúncio pouco comentado quando o presidente Xi Jinping, da China, se reuniu com o presidente Vladimir Putin em Moscou no mês passado, a Rosatom e a Autoridade Chinesa de Energia Atômica assinaram um acordo para prorrogar sua cooperação por anos, ou até décadas.

“Já na década de 2030 os EUA enfrentarão, pela primeira vez na sua história, duas grandes potências nucleares como suas concorrentes estratégicas e potenciais adversárias”, disse o Pentágono no segundo semestre do ano passado em um documento oficial. “Isso vai criar novas pressões para a estabilidade e novos desafios para a dissuasão, a garantia, o controle de armamentos e a redução de riscos.”

O rugido do tigre chinês

Nas semanas mais recentes, as autoridades americanas têm soado quase fatalistas em relação à possibilidade de limitar a expansão militar da China.

“Provavelmente, nada poderemos fazer para deter, retardar, descarrilhar, interditar ou destruir o programa chinês de desenvolvimento nuclear de acordo com as projeções deles para os próximos 10 a 20 anos”, disse ao congresso o general Mark A. Milley, presidente do estado maior conjunto, no fim do mês passado.

As palavras do general Milley chamam atenção principalmente levando-se em consideração o fato de que os EUA passaram anos tentando fazer o mundo superar as armas nucleares. Obama instalou uma estratégia para reduzir a dependência americana em relação às armas nucleares na esperança de que as outras potências fizessem o mesmo.

Um controle de armas ameaçado

Agora, está ocorrendo o oposto. Os fracassos de Putin no campo de batalha estão aumentando dependência dele em relação ao seu arsenal nuclear.

O último tratado restante limitando o tamanho dos arsenais americano e russo, o Novo Start, deve expirar em questão de aproximadamente mil dias, e as autoridades americanas reconhecem que há pouca chance de forjar um novo tratado enquanto a guerra prosseguir na Ucrânia. Mesmo se Rússia e EUA pudessem se reunir para definir um acordo, este valeria menos a não ser que tivesse a participação da China. Pequim não demonstrou interesse nisso.

O líder da China não esconde seus planos de expansão. A China possui atualmente cerca de 350 ogivas nucleares, de acordo com um levantamento anual do Ican, uma ONG que milita pela abolição de armas atômica. O mais recente relatório do Pentágono a respeito das forças armadas chinesas, publicado em novembro, diz que a contagem de ogivas pode chegar a 1.000 no fim da década, e a 1.500 mais ou menos em 2035, se o ritmo atual for mantido.

Ciente da urgência do problema, o Departamento de Estado reuniu um painel de especialistas nas semanas mais recentes e deu ao grupo 180 dias para sugerir recomendações, dizendo que “os EUA estão entrando em um dos períodos mais complexos e desafiadores da ordem nuclear global, possivelmente ainda mais do que durante a Guerra Fria”.

Dissuasão entre três

A dinâmica é, de fato, mais complicada agora — a Guerra Fria envolveu apenas duas grandes potências, EUA e União Soviética; a China mal entrava na equação. Sua força de aproximadamente 200 armas nucleares era tão pequena que nem era mencionada no debate, e Pequim nunca participou dos principais tratados de controle de armamentos.

Ainda assim, há razões para cautela diante das análises mais pessimistas das capacidades nucleares. China e Rússia têm um longo histórico de desconfiança mútua. E o Pentágono conhece o fenômeno das ameaças inflacionadas, que podem consumir o orçamento. Recentemente, alguns especialistas apontaram falhas nesses alertas.

“Se chegarmos aos fatos, restam muitas dúvidas”, disse Jon B. Wolfsthal, autoridade nuclear do Conselho de Segurança Nacional durante o governo Obama. “Mesmo se eles duplicarem ou triplicarem seu arsenal, estamos acompanhando e temos a capacidade de reagir.”

Independentemente disso, alguns críticos começaram a ecoar as novas avaliações do Pentágono, às vezes apresentando estimativas maiores do que as do governo Biden.

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No Capitólio, debate-se a possibilidade de a expansão futura do arsenal chinês exigir uma abordagem inteiramente diferente. Alguns republicanos começaram a falar em expandir o arsenal nuclear após o fim do Novo START, para torná-lo equiparável a uma força combinada entre russos e chineses, usada de forma coordenada contra os EUA. Para outros, seria uma reação exagerada.

“Me parece insanidade pensar que estaremos combatendo duas guerras nucleares ao mesmo tempo”, disse Matthew Bunn, professor de Harvard que acompanha as armas nucleares. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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