Opinião | Como Kamala Harris vai lidar com a UE, Otan e a guerra na Ucrânia se vencer as eleições nos EUA?

Relação próxima com UE e Otan não deve mudar, assim como o apoio à Ucrânia

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Por Gunther Rudzit
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Apesar de Kamala Harris ser a vice-presidente do governo Biden, é de se esperar que um governo dela siga algumas linhas de política externa dele, mas outras mudem. Em grande parte, isto se daria pelo fato de que durante a sua vida política no Senado americano, ela sempre participou de comissões de assuntos domésticos, no máximo, no comitê de Inteligência.

Outro fator importante notar é que, enquanto vice-presidente, sua equipe de segurança nacional foi liderada por Phil Gordon e Rebecca Lissner, que têm grande conhecimento sobre Europa, sendo que ambos já escreveram livros defendendo a visão de que os Estados Unidos deveriam abandonar a visão de liderar sozinhos com base na agressividade.

Portanto, em relação à Europa, as linhas gerais das políticas do governo Biden não devem mudar, tendo em vista que há um consenso entre os democratas de que as relações transatlânticas são essenciais para os interesses americanos. Deste modo, é de se esperar que um governo Kamala continue dando prioridade para as reformas que a Otan vem passando, já que existe a percepção de que a Rússia é uma ameaça aos valores ocidentais como também uma ameaça militar real para a Europa.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em Washington, Estados Unidos  Foto: Stephanie Scarbrough/AP

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Nesta linha o estacionamento permanente de tropas e equipamentos americanos nos países do Leste Europeu vai continuar, principalmente nas três repúblicas bálticas e Polônia. A política de gastos militares da Aliança também deve seguir, não só com o patamar mínimo de 2% do PIB para os orçamentos de defesa de todos os membros, mas também o patamar mínimo de 20% dos gastos para a aquisição de novos equipamentos.

Se do ponto de vista militar a cooperação deva continuar, do ponto de vista comercial a dinâmica poderá ser outra. É de se esperar que negociações comerciais em andamento não devam mudar muito a linha mais protecionista de Biden, mas alguns analistas apontam que um governo Kamala poderia endurecer mais a fim de ganhar novamente o apoio de setores dos trabalhadores de colarinho azul.

Kamala Harris participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Ross D. Franklin/AP

Em relação à Ucrânia, a aproximação cautelosa do governo Biden em liberar armas para Kiev enfrentar a invasão russa, deve ser mantida. Neste momento da guerra, a grande questão enfrentada em Washington é a liberalização do uso de armas americanas de longo alcance para atacar alvos dentro do território russo. Se a decisão de liberar não for tomada por Biden antes de 20 de janeiro, é muito provável que ela não a tome. Consequentemente, a política continuará a ser de apoio ao governo ucraniano, mas sem o comprometimento de longo prazo. O mesmo deve acontecer com a decisão da entrada do país na Otan, com uma postura favorável, mas com a ressalva de que enquanto estiver em guerra, a adesão não pode se concretizar.

Reflexo destas políticas, o enfrentamento à Rússia deve continuar, tanto do ponto de vista militar, quanto diplomático e econômico. Dentre os democratas há a percepção de que o presidente Vladimir Putin não pretende parar seu avanço na Ucrânia, que outros países democráticos estarão em perigo se ele não for contido. Complementando esta ação, as sanções financeiras continuarão, tanto contra as empresas russas, como para aquelas que exportarem material que possa ajudar Moscou no seu esforço de guerra.

Desta forma, manter a ajuda militar para Kiev continuar lutando será a linha de ação, mas isto dependerá da composição do Congresso, principalmente da Câmara dos Deputados. É preciso observar também a quantidade de deputados eleitos que forem do Freedom Caucus, os republicanos mais radicais que apoiam Donald Trump.

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Opinião por Gunther Rudzit

Professor de Relações Internacionais da ESPM-SP e professor colaborador da Universidade da Força Aérea (UNIFA), doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo com tema na área de Segurança Internacional e Mestre em National Security por Georgetown University (2000)

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