Como lidar com o evidente declínio da China? Leia a análise

Crise no mercado imobiliário chinês reforça indícios de declínio da segunda maior potência global

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Por Por Bret Stephens*

Vários anos atrás, o cientista político Graham Allison, de Harvard, cunhou o termo “armadilha de Tucídides” — com base na observação do historiador antigo de que a verdadeira causa da Guerra do Peloponeso “foi a ascensão de Atenas e o medo que isso incutiu em Esparta”. Allison viu se repetir um padrão de tensões — e guerras frequentes — entre potências surgindo e governando na história mais recentemente, acredita ele, no desafio que uma China em ascensão representa para a hegemonia americana.

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A tese é intrigante, mas no caso da China possui uma falha clara: o maior desafio que a República Popular nos apresentará na próxima década decorrerá não de sua ascensão, mas de seu declínio — algo óbvio há anos e que se tornou inegável no ano passado com a quebra do mercado imobiliário chinês.

Formuladores de políticas ocidentais precisam reorientar seu pensamento em torno deste fato. Como? Com cinco nãos e dois sins.

Imagem aérea mostra construção em Pequim, China, 30 de agosto de 2023. Foto: WANG ZHAO / AFP

Primeiro, não pensem sobre os infortúnios da China como boa sorte para nós.

Uma China que importa menos — seja bolsas da Itália, cobre do Zâmbia ou grãos dos Estados Unidos — mitigará irremediavelmente o crescimento global. 64% das vendas da fabricante de chips americana Qualcomm no ano passado foram para a China; assim como 37% das vendas de veículos no varejo da alemã Mercedes-Benz. Em 2021, a Boeing estimou que a China será responsável pela compra de um quinto das aeronaves de fuselagem larga fabricadas pela empresa nas próximas duas décadas. O truísmo que engendra repetição é que apenas uma economia existe: a economia global.

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Segundo, não assumam que a crise terá vida curta.

Otimistas pensam que a crise não afetará muito gravemente os países ocidentais porque suas exportações à China correspondem a uma fatia pequena de sua produção. Mas a escala potencial da crise é estarrecedora. O setor imobiliário e suas indústrias associadas são responsáveis por quase 30% do produto interno bruto chinês, de acordo com um artigo de 2020 dos economistas Ken Rogoff e Yuanchen Yang. Ele é pesadamente financiado por uma notoriamente opaca indústria fiduciária de US$ 2,9 trilhões que também parece cambalear. E mesmo se a China evitar uma crise em escala total, o crescimento a longo prazo será tolhido agudamente por uma população economicamente ativa que diminuirá em quase um quarto até 2050.

Terceiro, não suponham que haverá alguma gestão econômica competente.

No mês passado, Donald Trump descreveu o governo do presidente chinês, Xi Jinping, como “inteligente, brilhante, todo perfeito”. A verdade é mais próxima ao oposto. Quando Xi era jovem, de acordo com um colega de juventude, “sua inteligência era considerada apenas mediana”, ele se graduou em “marxismo aplicado”, um curso de três anos, e sobreviveu à Revolução Cultural “sendo o mais vermelho dos vermelhos”. Seu mandato como líder supremo foi marcado pela mudança para um controle maior do Estado sobre a economia, um assédio incrementado a empresas estrangeiras e uma campanha de terror contra líderes empresariais de pensamento independente. Um resultado foi uma sempre crescente fuga de capital, apesar de controles pesados sobre capital. Os chineses mais ricos também têm deixado a China cada vez mais durante o mandato de Xi — um bom indicativo a respeito de onde eles pensam que suas oportunidades residem ou não.

Quarto, não considerem como dada a tranquilidade doméstica.

A recente decisão do governo Xi de não revelar os índices de desemprego entre os jovens — que ultrapassaram 21% em junho, o dobro de quatro anos atrás — é parte de um padrão de puro obscurecimento que, principalmente, diminui a confiança do investidor. Mas as dificuldades dos jovens são quase sempre fonte potente de agitação, como em 1989 às vésperas dos protestos na Praça Tiananmen. Esqueçam-se da armadilha de Tucídides; a história real da China pode se amalgamar numa versão do que às vezes é chamado de paradoxo de Tocqueville: a ideia de que revoluções ocorrem quando expectativas crescentes são frustradas por uma piora abrupta nas condições sociais e econômicas.

Quinto, não suponham que uma potência em declínio é menos perigosa.

De muitas maneiras, é mais perigosa. Potências em ascensão podem se permitir aguardar sua hora certa, mas potências em declínio serão tentadas a arriscar. O presidente Joe Biden foi espontâneo mas correto ao afirmar este mês, a respeito dos líderes chineses, que “caras maus, quando têm problemas, fazem maldades”. Em outras palavras, conforme a sorte econômica da China declina, os riscos para Taiwan aumentam.

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Sexto, atenham-se a quatro parâmetros.

Formuladores de políticas americanos precisam ser inflexíveis e destemidos quando tratam dos nossos principais interesses na nossa relação com a China: liberdade de navegação, particularmente no Mar do Sul da China; a segurança de Taiwan e outros aliados do Indo-Pacífico; proteção das propriedades intelectuais e segurança nacional dos EUA; e a segurança de cidadãos americanos (tanto na China quanto nos EUA) de ascendência chinesa ou não. Ajudar a Ucrânia a derrotar a Rússia também é parte de uma estratégia maior sobre a China no sentido de que sinaliza determinação e demonstra a capacidade militar do Ocidente, o que fará Pequim pensar duas vezes a respeito de alguma aventura militar através do Estreito de Taiwan.

Sétimo, persigam uma política de distensão.

Nós não devemos buscar uma nova guerra fria com a China. Nós não podemos nos permitir entrar numa guerra quente. A melhor resposta para as agruras econômicas da China é magnanimidade da economia dos EUA — que poderia começar com a remoção das tarifas impostas pelo governo Trump que prejudicam empresas e consumidores americanos tanto quanto os chineses. É mais que incerto se isso mudará ou não o padrão fundamental do mau comportamento de Pequim. Mas à medida que a China descamba para a crise, é premente tentarmos. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

* Bret Stephens é colunista de opinião do The New York Times desde abril de 2017. Ele ganhou o Prêmio Pulitzer por análises no The Wall Street Journal em 2013 e foi editor-chefe do The Jerusalem Post

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