Ao longo desses sete meses de guerra, uma pergunta me tem sido feita constantemente: como ela vai terminar? A resposta sempre residiu na situação política de Vladimir Putin. Pois sempre sustentei que essa não é uma guerra movida por fatores geopolíticos, mas pela intenção de Putin de se perpetuar no poder.
Nas últimas semanas, os ucranianos recuperaram milhares de quilômetros quadrados no nordeste e centenas no sul. Desde a fantasiosa anexação das províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzia, no dia 30, os russos perderam território nas quatro, deixando para trás soldados mortos e equipamentos.
Estima-se que 60 mil militares russos tenham sido mortos desde fevereiro, entre eles integrantes das forças especiais e oficiais de alta patente. A mobilização decretada no dia 21 apenas agravará o problema. Os recrutas estão sendo enviados sem treinamento, equipamento e comando adequados.
Tragicamente, eles desempenharão o papel de carne de canhão – uma contenção temporária aos avanços ucranianos, enquanto Putin imagina os próximos passos, com o auxílio do inverno, que também pode frear a contraofensiva.
A dinâmica no terreno tornou realista o objetivo ucraniano de recuperar todo o território perdido, desde a primeira invasão, em 2014. Isso inclui a Crimeia. Essa reconquista teria impacto político devastador sobre Putin: como justificar a morte de dezenas de milhares de russos?
O emprego de uma ou mais armas nucleares táticas não mudaria o quadro. Os ucranianos, motivados e equipados, continuariam avançando. E o cruzamento dessa linha vermelha causaria envolvimento mais direto da Otan.
Restaria a Putin tentar mascarar a derrota como vitória, recrudescer o controle sobre a internet e calar os ultranacionalistas, que têm denunciado a incompetência das Forças Armadas russas.
A probabilidade de golpe continua baixa. Os russos com ambições políticas estão exilados, presos ou mortos. A Rússia não tem histórico de golpes militares. Mas as tensões internas crescem rapidamente.
Depois de se queixar do sacrifício de seus homens e do alto custo das derrotas na Ucrânia, o líder checheno Ramzan Kadyrov foi condecorado general por Putin na tentativa de apaziguá-lo. Yevgeni Prigozhin, amigo de Putin e dono do grupo mercenário Wagner, também tem criticado acidamente as Forças Armadas.
Segundo a página gulagu.net no Telegram, um mercenário atirou contra um tenente-coronel em Donetsk, e não foi o primeiro incidente. A ascensão dessas milícias, a desmoralização das Forças Armadas e a revolta da população com as mortes e a mobilização poderiam conduzir a uma guerra civil. Para se concentrar em salvar a própria pele, Putin pode ter de se desengajar da Ucrânia.
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