É fundamental começar pelo contexto e dinâmica geral de uma eventual segunda presidência de Trump. Se eleito, não apenas terá maioria no Senado, mas, muito provavelmente, também na Câmara dos Deputados. Com isso, será capaz de produzir uma ruptura na história dos EUA e do mundo Ocidental tal como o conhecemos desde o fim da segunda guerra mundial. Trump tentará aumentar os poderes da Presidência sobre a estrutura do Poder Executivo.
Como já tem um controle praticamente total do Partido Republicano, deverá ter apoio das bancadas do Congresso para suas propostas de lei. De acordo com o Projeto 2025, produzido por uma rede de think tanks conservadores (liderado pela Heritage Foundation) ligados a Trump, será necessário mudar profundamente as políticas públicas federais, particularmente nas áreas de imigração, segurança pública, desregulação da economia, redução de impostos, com forte aumento de tarifas sobre as importações e o desmantelamento das políticas climática e energética.
A política externa será fundamentalmente transacional, baseada puramente em interesses econômicos (desconsiderando os valores democráticos) e na retomada parcial ou total da tradição isolacionista que predominou nas décadas de 1920 e 1930.
A partir disso, é muito provável a imposição à Ucrânia de um “cessar fogo”, com a entrega de 1/4 de seu território à Rússia. Porque Trump é um autocrata, tem preferência por relação com “homens fortes” como Putin, Orban, Netanhiahu, Modi, Bolsonaro e mesmo Xi Jinping. Quanto à China, há, no entanto, várias tendências no núcleo Trumpista, desde uma política de repartição de esferas de influência até outra fortemente confrontacional.
Com relação especificamente à Política Climática, um componente central será reduzir drasticamente os poderes da Agência Ambiental (EPA). Um poderoso grupo da indústria de petróleo e gás (Conselho Americano de Exploração e Produção de Petróleo) elaborou um plano detalhado para desmantelar as regras climáticas históricas do governo Biden.
Estadão na eleição dos EUA
No âmbito do Congresso, o plano tem como alvo particular a proposta de um novo imposto sobre as emissões de metano, parte importante da política nacional e internacional de Biden para reduzir emissões. Propõe também a derrogação de quase uma dezena de ordens executivas que estão no centro dos esforços do governo Biden para combater as mudanças climáticas, entre elas tornar a rede elétrica descarbonizada até 2035, eliminar subsídios para combustíveis fósseis e obrigar maior transparência dos riscos climáticos das empresas.
As medidas climáticas de Biden seriam substituídas por novas ordens executivas que promoveriam a produção de combustíveis fósseis e suspenderiam a atual pausa federal na construção de infraestrutura massiva para exportar gás natural liquefeito.
Outras medidas possíveis seriam um redirecionamento dos subsídios às energias renováveis da atual Lei Climática (IRA) em favor dos combustíveis fósseis e dos veículos movidos a petróleo e uma nova lei sistêmica em favor do complexo fóssil/automobilístico.
Um segundo governo Trump muito provavelmente retirar-se-ia novamente do Acordo de Paris, com um impacto tão negativo sobre o desempenho do Acordo como foi a retirada de 2017. As forças descarbonizantes da União Europeia, que já estão enfraquecidas pela guerra da Ucrânia e o avanço dos partidos de extrema direita, teriam mais dificuldades ainda em seguir adiante com as metas ambiciosas já estabelecidas.
Seria diminuída a atual pressão sobre a China para que reduza suas emissões, o que favoreceria as forças socioeconômicas carbono intensivas de outros grandes emissores, como Rússia, Índia, Indonésia, Brasil, Canadá, Australia, México e Arabia Saudita. O principal impacto sobre o Brasil, no curto prazo, seria dificultar ainda mais as, já quase paralisadas, negociações internacionais para a COP 30 em Belém.
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