Opinião | Como Trump pode conquistar milhões de indecisos antes da noite da eleição nos EUA?

Dados de uma pesquisa recente indicam que os ‘eleitores indefinidos’ podem ser descritos mais precisamente como ‘eleitores relutantes de Trump’

PUBLICIDADE

Por Marc A. Thiessen (The Washington Post)

A poucos dias da eleição presidencial dos Estados Unidos, a disputa permanece teimosamente apertada mas surpreendentemente fluida. De acordo com a média entre pesquisas do site RealClearPolitics publicada na quarta-feira, Donald Trump lidera em todos os Estados indefinidos exceto Michigan e Wisconsin, mas apenas dentro da margem de erro. Até meados de outubro, até um quarto dos eleitores dos Estados indefinidos afirmava ainda não ter tomado uma decisão firme.

PUBLICIDADE

Mesmo agora, milhões de eleitores persuadíveis nos Estados indefinidos continuam em disputa. O que levanta uma dúvida: quem, exatamente, são esses eleitores capazes de acabar determinando o desfecho desta eleição?

Um mergulho profundo em suas atitudes e preocupações indica que chamá-los de “eleitores indefinidos” seria impreciso; na verdade, a maioria deles parece ser de “eleitores relutantes de Trump”. Eles concordam com a crítica de Trump ao governo Biden-Harris. Acham que o país ruma para uma direção equivocada. Desaprovam esmagadoramente Kamala Harris. E acham que Trump trabalharia melhor sobre temas-chave importantes para eles. Mas não se comprometeram em votar nele — e podem nunca fazer isso.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Glendale, Arizona  Foto: Ross D. Franklin/AP

Uma pesquisa do Washington Post-Schar School realizada entre 30 de setembro e 15 de outubro mostrou 26% dos eleitores dos Estados indefinidos ainda descompromissados — e eles se mostraram muito mais negativos sobre o governo Biden-Harris do que o eleitorado em geral. Somente 25% aprovaram o trabalho de Joe Biden como presidente (em comparação com 40% do eleitorado em geral). Somente 32% aprovaram o trabalho de Kamala como vice-presidente (em comparação com 44% do eleitorado em geral). Cinquenta e sete por cento afirmaram que Kamala é progressista demais. Em contraste, 50% aprovaram o trabalho de Trump como presidente.

Esses eleitores foram também muito mais negativos em relação ao estado da economia do que o eleitorado em geral: 79% afirmaram que a economia está “ruim” ou “não vai muito bem”, e 66% afirmaram que a economia está piorando sob o atual governo, enquanto apenas 10% percebem alguma melhora. Cinquenta e dois por cento afirmaram que Trump lidaria melhor com a economia, enquanto apenas 18% favoreceram Kamala nesse quesito. Cinquenta e dois por cento também disseram que Trump lidaria melhor com a imigração, enquanto 17% se posicionaram a favor de Kamala sobre esse tema.

Publicidade

Resultados similares

Outras pesquisas constataram resultados similares. Pesquisas New York Times-Siena recentes constataram que 18% dos eleitores em importantes Estados indefinidos não estão comprometidos firmemente com nenhum dos candidatos. A maioria é do sexo masculino e não possui grau universitário, e 66% se descreveram como moderados ou conservadores. Além disso, 58% afirmaram que os temas que consideram mais importantes são os que favorecem Trump — incluindo inflação, empregos e imigração — enquanto apenas 27% afirmaram que se importam mais com temas como clima, aborto e assistência de saúde, que favorecem Kamala.

Essa notícia é extremamente boa para Trump, que tem muito mais espaço para expandir seu apoio entre esses eleitores do que Kamala. E eles são numerosos o suficiente e negativos o suficiente em relação a Kamala e à direção do país para entregar a Trump a presidência.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício ao lado do cantor Stevie Wonder, em Jonesboro, Geórgia  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Mas eles não se comprometeram, necessariamente, com isso. De fato, muitos disseram aos pesquisadores que poderão nem ir votar. De acordo com uma pesquisa Post-Schar, 80% dos eleitores registrados nos Estados indefinidos afirmaram que definitivamente planejam votar, mas apenas 52% dos eleitores descompromissados afirmaram que sem dúvida votarão. E apenas 42% disseram acreditar que seu voto seja importante (em comparação com 69% do eleitorado em geral), enquanto somente 54% afirmam que se importam com quem vencer (em comparação com 84% do eleitorado em geral).

Em outras palavras, os eleitores descompromissados estão insatisfeitos com a direção do país e suas próprias escolhas — e muitos pensam em jogar tudo para o alto. Isso seria um desastre para Trump. Ele perdeu a última eleição por apenas 42.918 votos, em três Estados indefinidos — o que significa que ele não pode prescindir de nenhum voto conquistável sobre a mesa.

Trump precisa de eleitores como Steven Grissom, de 54 anos, um assistente de palco que trabalha em Las Vegas e disse ao Post, “Não gosto de jeito nenhum da minha escolha”, contando que vai votar no candidato republicano. “Eu poderia não ir votar”, afirmou ele, “mas não quero que minha ausência dê a eleição para Kamala”. Se outros eleitores descompromissados não fizerem a mesma escolha nos dias finais da campanha, é exatamente isso o que poderia ocorrer.

Publicidade

Não é tarde demais para Trump conquistar esses eleitores. Trump precisa agradá-los diretamente e reconhecer que, mesmo sabendo que não gostam da maneira que ele fala ou age, ele também sabe que eles gostaram do resultado de sua presidência — que nossa fronteira era segura, nossas cidades eram seguras, nossa economia era forte, a inflação era baixa, a gasolina era barata e o mundo estava em paz. A mensagem de Trump deveria ser: vocês não conseguem essas políticas sem a personalidade; é precisamente por ser durão que eu consigo fazer as coisas acontecer; quando suas casas pegam fogo, vocês não têm de gostar do bombeiro, só precisam da pessoa que sabe bem como apagar o fogo.

Trump iniciou essa argumentação semanas atrás, durante conversas no Detroit Economic Club. “Sabe, um monte de gente fala, ‘Nós adoramos as políticas de Trump, mas (…) não gostamos dele. Ele é meio rude’”, afirmou Trump. “E então (…) Lindsey Graham disse, ‘Mas as políticas de Trump não funcionam sem Trump’. E isso é muito verdadeiro.”

Trump deveria fazer dessa fala a mensagem central de seu argumento final: sim, eu jogo meio sujo certas vezes, mas sempre luto por vocês. Esse simples reconhecimento diria aos eleitores indefinidos que Trump compreende o que eles não gostam nele e isso lhes permitiria votar segundo seu interesse pessoal.

Se optarem por Trump no Dia da Eleição, os eleitores descompromissados poderão lhe conferir uma vitória de lavada. Se ficarem em suas residências, poderão colocar Kamala na Casa Branca. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Opinião por Marc A. Thiessen

É associado ao American Enterprise Institute, um think tank conservador ligado ao Partido Republicano, e o ex-principal redator de discursos do presidente George W. Bush. Ele é um colaborador ocasional da Fox News e escreve uma coluna para The Washington Post sobre política externa e doméstica

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.