Opinião | Como Trump pode punir a Rússia, ganhar dinheiro e acabar com a guerra

Sanções secundárias são ferramentas poderosas que, idealmente, pressionariam a Rússia a negociar e os Estados Unidos ainda arrecadariam bilhões anualmente

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Por Glenn Hubbard (The New York Times) e Catherine Wolfram (The New York Times)

Embora a Rússia e a Ucrânia estivessem envolvidas em negociações de cessar-fogo com representantes americanos na Arábia Saudita, aparentemente com algum progresso na última terça-feira, 25, o presidente russo, Vladimir Putin, demonstrou pouco compromisso real em encerrar sua guerra.

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O presidente Trump precisa de cartas melhores.

Há algumas semanas, o presidente americano sugeriu a ideia de sanções e tarifas sobre importações russas. Mas o Kremlin foi indiferente — principalmente porque os Estados Unidos importam muito pouco da Rússia. Sanções financeiras e comerciais extensas já estão em vigor, a maioria há cerca de três anos, e claramente não são suficientes para trazer a paz.

Felizmente, há uma maneira simples de melhorar a posição dos Estados Unidos. O governo deveria impor sanções a qualquer empresa ou indivíduo — em qualquer país — envolvido na venda de petróleo e gás russos. A Rússia poderia evitar essas chamadas sanções secundárias pagando uma taxa por remessa ao Tesouro dos Estados Unidos. O pagamento seria chamado de tarifa universal russa e começaria baixo, mas aumentaria a cada semana que passasse sem um acordo de paz.

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A maior parte do petróleo e gás russo é transportada por navios para os mercados globais. As sanções secundárias — caso a Rússia não fizesse os pagamentos exigidos — recairiam sobre todas as partes da transação, incluindo o proprietário do petroleiro, a seguradora e o comprador.

Evidências recentes confirmam que entidades indianas e chinesas — cujos países importam uma quantidade considerável de petróleo da Rússia e não impuseram suas próprias penalidades à economia russa devido à guerra na Ucrânia — não querem ser atingidas por sanções americanas, tornando essa ideia viável. Outro fator favorável: todo esse tráfego de petroleiros é monitorado de perto por empresas comerciais e pelas autoridades dos EUA.

As sanções secundárias são ferramentas poderosas: infratores podem ser cortados do sistema financeiro dos EUA, e elas se aplicam mesmo a transações que não envolvem diretamente empresas americanas. Elas já foram usadas para limitar as exportações de petróleo do Irã e para exigir que pagamentos pelo petróleo iraniano fossem mantidos em contas restritas até que as sanções fossem suspensas.

Nossa proposta levaria essa abordagem a outro nível. Sob nosso plano, uma parte de cada venda de petróleo e gás russos seria paga ao Tesouro dos EUA até que a Rússia concordasse com um acordo de paz. O objetivo é manter o fluxo de petróleo russo para os mercados globais, mas com menos dinheiro indo para o Kremlin. O plano enfraqueceria a capacidade da Rússia de continuar a guerra e colocaria dinheiro nos cofres do governo americano.

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Foto de janeiro tirada pelo Comando Central Alemão para Emergências Marítimas mostra o petroleiro 'Eventin', hasteando a bandeira do Panamá, no mar ao norte da ilha alemã de Ruegen. Segundo a Alemanha, embarcação faz parte da 'frota sombra' que viola as sanções da Rússia. Foto: Divulgação/Havariekommando/AFP

Na Rússia, as receitas de combustíveis fósseis e os gastos militares estão interligados, embora o país também possa recorrer ao seu fundo soberano e a outras fontes. As exportações de combustíveis fósseis são a principal fonte de receita em dólares para o Kremlin, que depende de moeda forte para comprar armas e outros suprimentos militares no exterior e pagar por soldados norte-coreanos.

Atualmente, o país exporta cerca de US$ 500 milhões por dia em petróleo bruto e produtos petrolíferos e US$ 100 milhões por dia em gás natural. O Kremlin orçou um valor um pouco menor, quase US$ 400 milhões por dia, para gastos militares em 2025.

A tarifa universal russa proporcionaria dinheiro imediato para os Estados Unidos, ao contrário do proposto fundo de minerais críticos da Ucrânia, que levaria anos para gerar retornos. Uma taxa de US$ 20 por barril de petróleo poderia gerar até US$ 120 milhões por dia (mais de US$ 40 bilhões por ano), com receita adicional disponível se uma taxa semelhante fosse imposta ao gás natural. Cada dólar arrecadado pelos Estados Unidos é um dólar que a Rússia não pode gastar para financiar sua guerra.

Idealmente, a política pressionaria a Rússia a negociar, com sua remoção podendo fazer parte de um acordo. Caso contrário, os Estados Unidos ainda arrecadariam bilhões anualmente, o que poderia ajudar a financiar os cortes de impostos propostos por Trump. Nesse cenário, a Rússia estaria, efetivamente, ajudando a reembolsar os dólares dos contribuintes americanos usados para fornecer ajuda à Ucrânia em sua defesa contra a invasão russa.

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Nos últimos três anos, as sanções ocidentais e a indignação pública, incluindo a recusa de alguns trabalhadores portuários em descarregar petroleiros russos, forçaram a Rússia a procurar novos compradores e vender seu petróleo com desconto em relação aos preços globais. O desconto médio do petróleo foi de cerca de US$ 9 por barril nos últimos 12 meses e chegou a US$ 35 por barril em abril de 2022. Apesar de receber preços mais baixos por seu petróleo, a Rússia manteve os volumes de exportação, garantindo um suprimento estável para o mercado global de petróleo.

Ao impor sanções secundárias caso a tarifa universal russa não seja paga, os Estados Unidos estariam absorvendo parte das receitas, aumentando efetivamente o desconto sobre o petróleo russo. As exportações contínuas da Rússia, apesar dos grandes descontos nos últimos três anos, sugerem que ela continuaria exportando o mesmo volume. Isso manteria o suprimento global de petróleo estável e ajudaria a conter os preços do petróleo. O petróleo e o gás na Rússia são baratos de produzir, e o país depende fortemente da receita que geram, portanto, tem pouca opção além de continuar vendendo, mesmo a preços mais baixos.

Embora Trump possa adotar essa estratégia, o Congresso pode fortalecer sua posição de negociação aprovando um projeto de lei que implemente a tarifa universal russa por conta própria. Isso permitiria ao presidente proteger suas linhas de comunicação com Putin, atribuindo a medida ao Congresso. Ele também poderia determinar quando e se deseja assinar o projeto de lei, dando-lhe mais poder de barganha sobre a Rússia. É possível que a mera discussão sobre tal projeto de lei já ajude a pressionar o Kremlin em direção a um acordo de paz.

Combinar sanções secundárias, uma ferramenta forte do arsenal econômico dos EUA, com uma taxa similar a uma tarifa poderia pressionar Putin ao ameaçar sua fonte de receita mais valiosa. Isso também tornaria mais fácil para Trump cumprir sua promessa de uma paz duradoura.

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Opinião por Glenn Hubbard

Ex-presidente do Council of Economic Advisers, é professor na Columbia University.

Catherine Wolfram

Ex-vice-secretária assistente para clima e energia no Departamento de Tesouro, é professora na Sloan School of Management do MIT.

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