A partir de janeiro do próximo ano, Donald Trump será o presidente dos Estados Unidos. Ao ganhar nos sete Estados-pêndulo, o republicano saiu vitorioso da disputa contra a democrata Kamala Harris. O mapa de votação mostra um novo fôlego republicano nos condados do país.
A análise dos dados de votação nos condados americanos mostra que Kamala teve um desempenho muito inferior ao do presidente Joe Biden em 2020, mesmo em regiões em que era favorita, com maior concentração urbana.
Essa dinâmica fica evidente em Estados-chaves para a disputa, como é o caso da Geórgia e da Pensilvânia, que somados contabilizam 36 delegados para o vencedor. Nos Estados Unidos, a eleição é indireta, via colégio eleitoral, em que os delegados são distribuídos para os candidatos conforme a vitória nos Estados.
Em contrapartida, Trump – já favorito em regiões rurais e cidades médias – também ampliou a força política em redutos democratas como a Califórnia e a condados no Texas que fazem fronteira com o México.
O condado é uma divisão territorial americana que agrega vilas, vilarejos e porções de cidade. O município de Nova York, por exemplo, está segmentado em cinco condados: Bronx, Manhattan, Brooklyn, Queens e Staten Island.
Vitória nos Estados-pêndulo
Um fator determinante para a vitória de Trump foram os swing states (Estados-pêndulo), aqueles que não votam sempre em um mesmo partido e tendem a mudar a escolha de candidato a cada eleição. Este ano, sete territórios se enquadraram neste perfil: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.
O professor de relações internacionais da FAAP, Lucas Leite, e pesquisador do INCT/INEU, relembra como as pesquisas perceberam o clima nos estados pêndulo. “Todas apontavam para o empate entre eles nestes Estados. E em alguns, de fato foi extremamente disputado. Coisa de 30 mil votos, 80 mil votos, 100 mil votos de diferença.”, diz.
Regiões com menor população também mostram como se deu a vitória de Donald Trump. O candidato republicano abriu vantagem em locais com até 500 mil eleitores – aproximadamente 98% dos condados estão neste perfil. Já Kamala Harris ganha na maior parte dos condados com mais de 500 mil eleitores – e que são a minoria em quantidade.
Em comparação, os condados com até 500 mil habitantes somam mais de 60 milhões de votos para Donald Trump, enquanto os acima desse número deram pouco mais de 18,5 milhões de votos para Harris.
Diretamente, a quantidade de votos não é essencial para eleger um candidato, mas mostra a força que os pequenos condados podem ter dentro dos estados na escolha dos delegados.
As eleições deste ano mostram um novo movimento ao sul do Texas. Embora o Estado seja, historicamente, alinhado ao partido republicano, a porção inferior – que faz divisa com o México – foi um reduto democrata em 2020 e 2016.
O mesmo cenário não se repetiu em 2024: a onda vermelha se expandiu nesta faixa. Mudanças no perfil demográfico podem estar por trás dessa virada.
Como adiantado pelo Estadão, Trump venceu em 80% dos condados com maioria latina. No sul do Texas, região com muitos habitantes latinos e hispânicos, Kamala Harris obteve maioria de votos em apenas dois condados. Na Califórnia, a democrata venceu em 3 dos 11 condados latinos.
O Texas e o governo federal, na gestão de Joe Biden, tiveram um choque na justiça devido a questões migratórias. Então, Donald Trump não apenas venceu em um estado que costuma ser conservador, mas que teve um aumento na rejeição aos democratas
Filipe Figueiredo, historiador, criador do podcast Xadrez Verbal e colunista do Estadão.
Na Califórnia, Estado que não escolhe um candidato republicano à presidência desde 1988, Donald Trump conquistou mais condados (32) que Kamala Harris (26). Ainda assim os democratas venceram no Estado, conquistando regiões com maior parte da população.
Sobre o Estado, Filipe Figueiredo, historiador e colunista do Estadão, explica que muitos condados votaram em Donald Trump por causa da rejeição ao governo democrata em virtude do aumento de problemas socioeconômicos e às big techs sediadas na região, que agiram abertamente em prol da candidatura de Donald Trump, com Elon Musk, Peter Thiel e boa parte do setor apoiando o republicano.
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