Antes de a Rússia invadir a Ucrânia, o presidente Volodmir Zelenski era frequentemente tomado como um comediante que se tornou um político improvável. Mas com a ajuda das redes sociais, ele se tornou o líder que a Ucrânia não sabia que precisava.
Vestido com uma camiseta verde de lã do exército, com a barba por fazer e pálido, Zelenski inspirou os ucranianos a lutar por seu país - e os europeus a ver a Ucrânia sob uma luz diferente, como uma vítima de agressão que luta bravamente por independência, liberdade e democracia.
A decisão de Zelenski de permanecer na capital, Kiev, enquanto o país permanece sob ataque russo - e a de sua família de permanecer na Ucrânia - comoveu muitos. É um contraste particular com o presidente afegão, Ashraf Ghani, que fugiu de Cabul assim que o Taleban chegou na periferia da capital, desmoralizando o que restava do exército afegão.
Ele e sua equipe também fizeram um excelente uso das mídias sociais, com discursos apaixonados mostrando sua presença nas ruas de Kiev se tornando virais. Ucranianos comuns estão relatando os eventos na Ucrânia no TikTok. Alguns fazem vídeos saudando Zelensky e mostram ucranianos fazendo o que podem para repelir os russos – enchendo garrafas destinadas a coquetéis molotov, oferecendo-se para lutar, recebendo armas automáticas e prometendo defender seu país.
A resposta de Zelenski a uma oferta americana de tirá-lo da Ucrânia - "preciso de munição, não de uma carona" - provavelmente ficará na história do pais, quer ele sobreviva ou não a esse ataque.
Mas Zelenski também inspirou líderes europeus a fazer mais pela Ucrânia. Aparecendo na tela durante a cúpula de emergência da União Europeia em 24 de fevereiro, ele fez um discurso apaixonado de 10 minutos que levou alguns mandatários relutantes a endossar um pacote mais severo de sanções econômicas à Rússia, disse um alto funcionário europeu.
A sua intervenção vai ficar para a história, disse o responsável que se encontrava na sala. Foi muito emocionante, os líderes foram profundamente afetados, acrescentou.
O silêncio na sala foi impressionante e o impacto foi claro, acrescentou o funcionário, e deu a impressão de que fez uma grande diferença ao persuadir países mais relutantes, como Alemanha, Itália e Hungria, a concordar com sanções financeiras e bancárias mais duras e entregar armas à Ucrânia.
"Esta pode ser a última vez que vocês vão me ver vivo", disse Zelenski.
As ações de Zelenski e os esforços de resistência de homens e mulheres ucranianos comuns – retardando o avanço russo e se voluntariando para lutar com armas automáticas – também tiveram um impacto importante na opinião europeia, dizem autoridades, facilitando que seus líderes fossem mais ousados e aceitassem os refugiados vindos da Ucrânia.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.