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Opinião|Conflito no Oriente Médio e ameaça de escalada no conflito aumenta a tensão global

A continuação dos ataques manterão o clima de conflito, instabilidade e insegurança para todos

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Foto do author Rubens Barbosa

Apesar de não interessar a ninguém, cresce a tensão global com a ameaça de uma escalada no conflito no Oriente Médio. A continuação dos ataques manterão o clima de conflito, instabilidade e insegurança para todos. As causas mais recentes foram os ataques de Israel com a morte do líder do Hamas que visitava o Irã por ocasião da posse do novo presidente iraniano, e do líder do Hezbollah em Beirute, no Líbano. O assassinato do lider do Hamas em um compound militar foi humilhante para o governo de Teerã por mostrar a fragilidade da segurança do regime de da Guarda Revolucionária.

A morte do líder do Hezbollah foi mais uma violação da soberania libanesa, sem capacidade de resposta do governo de Beirute. A liderança iraniana e do Hezbollah prometeram uma reação militar contra Israel. O mundo espera apreensivo um ataque ao território israelense. Embora não haja interesse em escalar o conflito, os EUA esperam um ataque do Irã a Israel nos próximos dias. Não se sabe se o Irã e o Hezbollah vão coordenar os ataques.

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, participa de uma reza em homenagem ao líder do escritório político do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, que morreu em Teerã, Irã  Foto: Escritório do Líder Supremo do Irã / AP

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É possível que a retaliação venha da parte do Hezbollah e não do Irã. O que acontecerá depois dependerá da reação de Israel e do que vai ser atacado (civis ou militares) e do grau de destruição e mortes. Preocupados com a escalada retórica e com a perspectiva de uma guerra regional mais ampla no curto prazo, os EUA procuram conter o ímpeto do Irã por meio de conversas reservadas em Omã, e de Israel, com contatos em vários níveis com o governo israelense.

Outros líderes regionais, como o premiê da Jordânia, também procuraram a liderança iraniana, pedindo contenção e limites na resposta. O governo democrata em Washington promoveu reunião de emergência dos setores de segurança e prometeu defender Israel. Joe Biden e o secretário de Estado, Antony Blinken, mantiveram inúmeros contatos com suas contrapartes no Oriente Médio, sobretudo Jordânia, Catar e Egito com a mensagem de cautela. Uma eventual escalada militar terá profundas consequências políticas internas, em função das eleições presidenciais em novembro e a crescente oposição dos jovens à guerra no Oriente Médio. Israel, pela voz do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, se manifestou dizendo que reagirá na mesma intensidade, e continua a se defender e a atacar em várias frentes.

Intensificou os ataques ao Hezbollah no Líbano, em resposta ao ataque nas colinas de Golan, e já avisou que poderá atacar e destruir Beirute, sendo que alguns acreditam que poderá voltar a ocupar o Líbano.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, discursa no Congresso americano em Washington, Estados Unidos  Foto: Pete Kiehart/The Washington Post

Por razões de política interna, Netanyahu tem interesse em manter e mesmo ampliar a guerra para continuar no poder, em vista da perspectiva de julgamento pela Suprema Corte por atos de corrupção. O Irã, que pretende ser visto como a maior potência regional, não poderá deixar de dar uma resposta à humilhação que sofreu com a morte de um de seus convidados em dependência protegida pela Guarda Revolucionária.

O governo de Teerã diz ter “direito” de retaliar Israel. A questão é saber se essa reação ao território israelense vai ser limitada, como ocorreu depois do ataque de Israel ao consulado iraniano, ou se a retaliação será respondida com ataque ainda mais violento ao território iraniano.

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Nesta alternativa, poderá haver a ampliação do conflito para uma guerra mais ampla regional e o envolvimento bélico dos EUA. Embora seja improvável seu envolvimento, Putin visitou o Irã nesta semana. As consequências de uma guerra mais ampla regional para o mundo serão muito graves. A começar pelo preço do petróleo, que já subiu e tenderá a disparar, com reflexos fortes na economia dos países desenvolvidos, em especial nos EUA às vésperas da eleição, quando começa a ser discutida e temida a possibilidade de desaceleração da economia e da manutenção do crescimento da inflação, pior cenário para a candidatura de Kamala Harris contra Donald Trump. Eventual ocupação do Líbano por Israel poderá envolver, de um lado, os EUA e, de outro, todos os grupos radicais apoiados pelo Irã, pelo Iraque e pela Síria, sem falar de participação direta ou indireta da Rússia e da China.

As rotas de navegação, a começar pelo Mar Vermelho, sofrerão com uma guerra ampliada, aumentando o risco do livre fluxo de produtos, sejam alimentares, sejam industriais. Como desdobramento das transformações que ocorrem no sistema internacional, torna-se ainda mais evidente a crise dos organismos multilaterais, pela ausência de uma atuação efetiva das Nações Unidas em favor da paz e da segurança, paralisada pela inação do Conselho de Segurança, em decorrência do poder de veto dos cinco membros permanentes, em especial dos EUA e da Rússia.

Opinião por Rubens Barbosa

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

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