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Como a aposta de Putin em desgastar os aliados da Ucrânia está funcionando

Influência da ala radical do partido Republicano e possível retorno ao poder do ex-presidente Donald Trump em 2025 ameaçam os planos da Ucrânia para a guerra

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Por Paul Sonne e Andrew E. Kramer

A Ucrânia vê diminuir seus estoques de munição, seu contingente militar e o apoio do Ocidente. A contraofensiva que Kiev lançou seis meses atrás fracassou. A Rússia, antes afundada em recriminações por uma invasão desastrosa, celebra sua capacidade de sustentar uma guerra prolongada.

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O conflito na Ucrânia chegou a um momento crítico, conforme meses de combates brutais deixaram Moscou mais confiante e Kiev menos seguro a respeito de suas perspectivas.

A dinâmica foi palpável na semana passada, quando Vladimir Putin anunciou casualmente planos para concorrer a mais um mandato de seis anos como presidente da Rússia enquanto bebericava champanhe e se gabava a respeito da crescente competência das Forças Armadas russas. Putin declarou que a Ucrânia não tem futuro, dada sua dependência em relação à ajuda externa.

O presidente Volodimir Zelenski da Ucrânia e o presidente Joe Biden chegam para uma coletiva de imprensa conjunta na Casa Branca em Washington, terça-feira, 12 de dezembro de 2023. Foto: Doug Mills / NYT

Esse ar de autoconfiança contrastou com o senso de urgência da viagem a Washington nesta semana do presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, que pressionou o Congresso a aprovar um financiamento que inclui mais US$ 50 bilhões em ajuda militar para a Ucrânia.

Falando na Casa Branca ao lado de Zelenski, o presidente Joe Biden afirmou que, ao não aprovar o pacote, os legisladores “deram a Putin o maior presente de Natal possível”.

Mas os apelos de Zelenski não convenceram, pelo menos por agora, os congressistas republicanos, que insistem em um endurecimento sobre imigração na fronteira sul dos EUA como condição para aprovar a ajuda adicional à Ucrânia. Depois de se reunir com Zelenski, o presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson, disse que seu ceticismo não mudou.

As mensagens de Moscou e Washington ilustraram a crescente pressão sobre a Ucrânia em um momento em que suas forças mudam para uma posição defensiva e se preparam para um duro inverno com ataques russos e escassez de energia. Kiev enfrenta dificuldades para manter o apoio de seu apoiador mais importante, os Estados Unidos, que estão agora preocupados com outra guerra, em Gaza, e sua campanha presidencial em 2024.

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O possível retorno ao poder do ex-presidente Donald Trump em 2025 ameaça os planos da Ucrânia. Antigo crítico de Kiev e adulador de Putin, Trump sofreu impeachment em 2019 por reter ajuda militar para os ucranianos e pressionar Zelenski a investigar Biden e outros democratas.

Em quase 22 meses de guerra, pesquisas constatam amplamente uma diminuição no apoio à continuidade do financiamento à Ucrânia, principalmente entre os republicanos. Uma sondagem recente do Pew Research Center constatou que pouco menos da metade dos americanos acredita que os EUA fornecem a quantidade certa de ajuda à Ucrânia ou que deveriam fornecer mais.

Um soldado ucraniano da 22ª Brigada Mecanizada dispara uma peça de artilharia D-44 contra posições russas na direção de Bakhmut em uma posição de artilharia de campo na área de Chasiv Yar, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, em 29 de novembro de 2023.  Foto: Tyler Hicks / NYT

Johnson afirmou que é necessário mais supervisão sobre os gastos da Ucrânia e uma “mudança transformadora” na segurança da fronteira americana com o México. “Até aqui, não conseguimos nem uma coisa nem outra”, afirmou ele.

Mas a Casa Branca ainda tem tempo para tentar forjar um acordo que inclua segurança na fronteira, e Zelenski disse que permanece otimista a respeito do apoio bipartidário à Ucrânia, acrescentando, “É muito importante que até o fim deste ano nós sejamos capazes de mandar nosso sinal de unidade ao agressor”.

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Uma ruptura no financiamento americano poderia comprovar a antiga convicção de Putin de que ele é capaz de exaurir a determinação do Ocidente na política global e em conflitos. Apesar da Rússia de Putin não ter alcançado seu objetivo ao invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022, suas forças se reagruparam, em parte por causa da disposição do presidente russo em aceitar baixas enormes.

“Logo após a ofensiva inicial não produzir os resultados que a Rússia esperava, Putin se preparou para uma guerra longa e calculou que em última instância a Rússia teria mais impulso e perseveraria por mais tempo nesta guerra”, afirmou Hanna Notte, especialista em política externa e segurança da Rússia no Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação.

A Rússia se adaptou incrementando sua produção doméstica de munições e armas e importando equipamentos críticos do Irã e da Coreia do Norte com o objetivo de sustentar uma guerra longa, disse Notte. “Eu acho que houve um certo desdém: ‘deixem os russos se juntarem com esses párias, esses proscritos globais, boa sorte para eles’”, afirmou.

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Mas, segundo a analista, esse apoio foi significativo para Moscou no campo de batalha, particularmente com o Irã ajudando a Rússia a melhorar sua produção doméstica de drones. A Ucrânia enfrenta dificuldades para obter um fluxo suficiente de munições e armas do Ocidente, onde as nações não operam em estado de guerra e enfrentam gargalos de produção significativos.

Soldados ucranianos testam as armas dos tanques fornecidos pela OTAN antes de se deslocarem para a linha de frente, na região de Kharkiv, na Ucrânia, em 3 de dezembro de 2023.  Foto: David Guttenfelder / NYT

Apesar de suas vantagens em números e armamentos, Putin também encara limitações, e analistas militares afirmam que a Rússia não tem condições de tentar novamente conquistar a capital ucraniana, Kiev, nem outras grandes cidades.

A Rússia perdeu muitos soldados em suas manobras ofensivas no ano passado e, exceto pela cidade de Bakhmut, conquistou pouco território. Com Zelenski ordenando suas tropas a construir fortificações defensivas ao longo do front, a Rússia poderá continuar a sofrer baixas pesadas sem muitos ganhos.

Percebendo seguidos sinais de descontentamento com a mobilização do ano passado, o Kremlin parece hesitante em determinar outra conscrição forçada antes da eleição presidencial, em março, ou mesmo depois.

“O que nós vemos nesta guerra é que defender normalmente tem vantagens significativas”, afirmou Steven Pifer, pesquisador sênior da Brookings Institution e ex-embaixador dos EUA na Ucrânia.

Ainda assim, dependendo dos armamentos e do financiamento do Ocidente, a Ucrânia é submetida a pressões de curto prazo que a Rússia não enfrenta. Os aliados de Kiev não têm munições e equipamentos para armar outra contraofensiva, o que torna uma outra grande campanha improvável ao longo da maior parte de 2024, de acordo com analistas e ex-autoridades americanas.

Os EUA são de longe os maiores apoiadores da Ucrânia, responsáveis por aproximadamente metade das doações de armamentos e um quarto do financiamento externo. A briga no Congresso, atravancada por uma disputa partidária a respeito de segurança na fronteira, irrita muitos ucranianos.

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Hanna Yarotska, segunda à esquerda, mãe do soldado ucraniano Yaroslav Yarotskyi, 25 anos, chora sobre seu caixão ao lado de seu marido Vasyl, à esquerda, durante a cerimônia fúnebre realizada em um cemitério em Boryspil, Ucrânia, na terça-feira, 20 de novembro de 2023. Foto: Mauricio Lima / NYT

“Hoje os ucranianos estão começando a suspeitar que os EUA querem nos forçar a baixar as armas e fechar uma trégua vergonhosa”, disse em entrevista o comentarista político Yurii Makarov, da revista ucraniana Ukrainski Tizhden. “Parece que não levam em conta que os ucranianos praticamente destruíram o Exército profissional da Rússia, que até recentemente era a principal inimiga dos EUA.”

O fracasso da contraofensiva deste ano exacerbou a fricção social na Ucrânia, mais notavelmente entre Zelenski e o comandante-chefe das Forças Armadas, Valeri Zaluzhni. Um mês depois de o presidente repreender o militar publicamente por afirmar que a guerra tinha chegado a um impasse, eles ainda não foram vistos juntos em público.

Há sinais de que a Rússia pretende ser mais agressiva durante o inverno (Hemisfério Norte). Depois de semanas concentrando ataques na cidade de Avdiivka, as forças russas iniciaram uma ofensiva geral ao longo do front no leste da Ucrânia, disse à imprensa ucraniana o general Oleksandr Sirskii.

A Rússia tem vantagem nos combates em razão de seu maior acesso a munições de artilharia. Anteriormente este ano, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, estimou que a Ucrânia disparou de 4 mil a 7 mil projéteis por dia, enquanto a Rússia disparou 20 mil.

Os EUA forneceram mais de 2 milhões de projéteis de artilharia de 155 milímetros e intermediaram entregas de outros países. Mas os estoques dos Exércitos ocidentais, que não antecipavam travar uma grande guerra de artilharia, estão diminuindo.

A Ucrânia também precisa de munições para defesas aéreas, ou os enxames russos de drones explosivos e as saraivadas de mísseis de cruzeiro e balísticos poderão romper o guarda-chuva de defesa sobre a capital e infraestruturas importantes.

Algumas das milhares de bandeiras ucranianas que simbolizam cada soldado ucraniano morto no conflito com a Rússia em um jardim próximo à Praça Maidan em Kiev, Ucrânia, em 21 de novembro de 2023.  Foto: Mauricio Lima / NYT

Os EUA e seus aliados forneceram cerca de uma dúzia de tipos de defesas aéreas, sofisticados sistemas da Otan que permitiram o funcionamento de empresas e que as cidades retomassem quase totalmente seus ritmos de trabalho e descanso. Mas à medida que lança milhares de baratos drones Shahed, a Rússia exaure as munições de defesa antiaérea da Ucrânia.

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Um momento decisivo será iminente se os mísseis russos conseguirem explorar lacunas atingindo alvos militares como aeroportos e explodindo infraestruturas de eletricidade e aquecimento para prejudicar a atividade econômica com apagões, aprofundando a dependência da Ucrânia em relação à ajuda do Ocidente.

“Eles conseguem continuar com isso pelo tempo que virem necessário”, afirmou o ex-ministro da Economia ucraniano Timofii Milovanov a respeito dos ataques russos. Com o tempo, a diminuição do apoio político à Ucrânia no Ocidente incentiva os russos a desgastar o arsenal de Kiev, afirmou ele. “Se sentirem que a Ucrânia perderá apoio, eles tentarão com mais força.”

A Ucrânia também enfrenta dificuldade em razão do desgaste de seu contingente.

Kiev não anunciou metas de mobilização nem números de baixas, mas o ex-comandante de batalhão Yevhen Dikii estimou que a Ucrânia precisará alistar 20 mil soldados mensalmente no próximo ano para sustentar seu Exército — tanto substituindo mortos e feridos quanto permitindo rodízios. “Infelizmente”, disse ele, “mesmo com todos os truques e tecnologias militares, tem coisas que só podem ser resolvidas com grandes números”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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