PARIS - Grupos de imigrantes originários da Eritreia e do Afeganistão que vivem na região de Calais, no noroeste da França, entraram em confronto nesta sexta-feira, 2, deixando cinco pessoas feridas, quatro delas em estado grave.
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Armados de pedras, bastões improvisados, facas e pelo menos uma arma de fogo, eles se enfrentaram pela primeira vez durante a distribuição de refeições no Centro Hospitalar de Calais, na tarde de quinta-feira, e novos conflitos ocorreram até o final da noite.
A situação é considerada tensa pelas autoridades, em razão das rixas antigas entre grupos de eritreus e afegãos que vivem nas ruas. Os dois grupos étnicos são os maiores entre os cerca de 700 a 800 imigrantes que resistem em Calais após o desmantelamento da "selva", a favela onde chegaram a viver perto de 10 mil pessoas.
Nas últimas horas, a polícia tem protegido o grupo de afegãos, que, minoritário - seriam entre duas e três dezenas - seria perseguido por entre 150 e 200 eritreus.
Segundo o Ministério Público de Boulogne-sur-Mer, que abriu uma investigação sobre os choques e lançou uma nota pública a respeito, "uma centena de imigrantes africanos armados de bastões querem atacar cerca de 20 afegãos".
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"Os afegãos vieram pela distribuição de comida e encontraram uma forte presença de africanos. Houve um movimento brusco da multidão e alguns ficaram feridos por barras de ferro", indicaram os promotores responsáveis pela apuração, referindo-se ao início da disputa.
O clima de rixa não se apaziguou, e ao longo do dia novos confrontos aconteceram. O balanço até aqui indica que cinco imigrantes eritreus foram feridos por tiros, todos com idades entre 16 e 18 anos, e quatro deles estão em estado grave, ainda segundo informações do MP local. Também há feridos em hospitais da região com traumatismos e com ferimentos a facas.
Embora a rixa envolva apenas os imigrantes, pelo menos uma das associações que trabalham na assistência ao imigrantes acusou a polícia da França de ser a responsável pelos enfrentamentos. Segundo Jean-Claude Lenoir, da ONG Salam, o assédio das forças de ordem contra os jovens, impedidos de cruzar o Canal da Mancha, "cria uma tensão enorme". "Há uma exasperação, uma tensão enorme", afirmou em entrevista à rádio parisiense France Info.
O ministro do Interior, Gérard Collomb, visitou a região para organizar o trabalho das forças de ordem, deslocadas para restabelecer o controle da situação. Há duas semanas, o presidente da França, Emmanuel Macron, esteve na região e enviou uma mensagem clara às forças de ordem e aos imigrantes.
Aos policiais, o chefe de Estado afirmou que não tolerará uso excessivo e desproporcional da força. Aos estrangeiros que estão vivendo em condições precárias na região, advertiu que eles não passarão ao Reino Unido de forma clandestina, mas que podem optar por vagas em abrigos públicos, até que suas demandas por refúgio sejam analisadas.
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