O Conselho de Segurança da ONU, que se reuniu nesta segunda-feira, 16, discutiu a crise entre Hamas e Israel na Faixa de Gaza e analisou dois esboços de resolução sobre a guerra, em meio à preparação de tropas israelenses para uma possível invasão do território palestino.
Um desses esboços foi apresentado pela Rússia e o outro pelo Brasil, que preside o Conselho de Segurança neste mês e tem um assento temporário na mesa de negociações. Os embaixadores se reuniram a portas fechadas para debater o assunto.
Com cinco votos a favor, quatro contra e seis abstenções, o texto russo não teve apoio suficiente para ser aprovado porque não fazia nenhuma menção ao Hamas. Diplomatas presentes à negociação disseram ao Estadão que a proposta brasileira ainda deve ser alterada e discutida novamente na terça-feira, 17.
O que diz a resolução brasileira?
- Condena nominalmente o Hamas pelos atentados terroristas do dia 7 em Israel
- Defende que Israel reveja ordem para que palestinos deixem o norte da Faixa de Gaza
- Proposta pede uma permissão para a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza
O texto que diplomatas brasileiros apresentaram a membros do Conselho de Segurança na ONU condena nominalmente o Hamas pelos atentados terroristas do dia 7 em Israel, que deixaram mais de 1,4 mil mortos e pede a libertação dos cerca de 200 reféns nas mãos dos radicais palestinos.
Em contrapartida, pede que Israel reveja sua posição de que todos os civis no norte do enclave, onde acredita-se que esteja escondida a liderança do Hamas, deixe a região, diante do risco de crise humanitária que esse deslocamento pode provocar.
O texto pede ainda que os dois lados se comprometam com as leis internacionais, especialmente no que diz respeito à proteção da população civil, e que haja uma permissão para a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, especialmente da Cruz Vermelha e outras entidades consideradas neutras.
A resolução russa rejeitada hoje evitava a condenação direta do Hamas, mas também não mencionava a necessidade de Israel de desistir da retirada dos civis do norte do enclave. O texto também defendia um cessar-fogo humanitário, a libertação dos reféns e o acesso de alimentos, água e remédios para a população civil.
Nesta segunda-feira, o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, retornou a Israel pela segunda vez em menos de uma semana após viagens em que conversou com autoridades de diversos países árabes. Ele deve se reunir com o premiê Binyamin Netanyahu.
Segundo o jornal americano New York Times, o presidente Joe Biden estuda uma viagem a Israel, como tentativa de desescalar a crise. Ontem, Biden disse à imprensa americana que uma ocupação israelense da Faixa de Gaza seria um erro.
Ao mesmo tempo, os americanos enviaram dois porta-aviões para o Mediterrâneo, numa tentativa de pressionar o grupo xiita libanês Hezbollah a não conduzir operações agressivas contra Israel na fronteira norte do país.
Crise em Gaza
A discussão na ONU ocorre em meio ao agravamento da situação humanitária em Gaza, depois que na semana passada Israel ordenou um cerco do enclave palestino. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Faixa de Gaza enfrenta uma catástrofe iminente já que resta água, eletricidade e combustível até a terça-feira, 17.
Em entrevista à CNN, Corinne Fleischer, diretora regional da organização humanitária, declarou que o PAM está ficando sem reservas em Gaza e não consegue entrar no enclave para levar mais alimentos. “Estamos conversando com todas as partes para podermos entrar. Infelizmente, ainda não recebemos essa aprovação. Precisamos conseguir cruzar a fronteira, precisamos ter corredores de abastecimento seguros para ir aos abrigos e distribuir o comida”, disse Fleischer à CNN.
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