Coreia do Norte lança míssil que sobrevoa o Japão e pode ser teste para atingir EUA

Lançamento obriga autoridades japonesas a emitir alertas para a população e suspender circulação de trens pela primeira vez em cinco anos

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Por Redação
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TÓQUIO - Pela primeira vez em cinco anos, a Coreia do Norte lançou um míssil que sobrevoou o norte do Japão, forçando autoridades do país a emitir alertas para moradores e suspender a circulação ferroviária nesta terça-feira, 4. O disparo, demonstração de armas mais provocativa realizada por Pyongyang neste ano, pode ter sido um teste para atingir bases militares instaladas na região ou mesmo o território americano, apontam especialistas.

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O míssil foi disparado às 07h23 (19h23 da segunda-feira, 3, em Brasília) em direção ao Mar do Japão, segundo o Exército sul-coreano. De acordo com o governo japonês, o projétil voou a uma altitude máxima de 970 e 1.000 km e percorreu uma distância de cerca de 4,5 mil quilômetros, antes de aterrissar no Oceano Pacífico, a cerca de 3.200 quilômetros da costa. Durante o sobrevoo, um alerta civil foi emitido para as províncias de Hokkaido e Aomori.

“A Coreia do Norte lançou hoje um míssil em direção ao leste. Este míssil balístico passou sobre a região de Tohoku (norte do Japão), e acreditamos que tenha caído em águas fora da zona econômica exclusiva do Japão por volta das 7h44″, afirmou em coletiva de imprensa o porta-voz do Executivo japonês, Hirokazu Matsuno.

Em Tóquio, homem assiste a notícia sobre lançamento de míssil norte-coreano sobre o território japonês. Foto: Kimimasa Mayama/ EFE

O porta-voz também destacou que não há evidências de danos a aeronaves ou barcos devido ao impacto do míssil.

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Por sua vez, o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul detalhou em um comunicado que se tratava de um “míssil balístico de alcance intermediário” lançado da província de Jagang, localizada no norte do país vizinho, próxima à fronteira com a China.

De acordo com o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, o míssil testado nesta terça voou mais longe do que qualquer outra arma disparada pela Coreia do Norte. Antes, o teste mais longo havia sido de um Hwasong-12, em 2017, que percorreu cerca de 3.700 quilômetros. Coincidentemente, o teste de 2017 marcava, até então, a última vez em que o Japão havia ativado seu sistema de alerta de trajetória de mísseis.

A distância percorrida mostra que o míssil teria capacidade de alcance suficiente para atingir Guam, que abriga bases militares dos EUA -- de onde partiram aviões de guerra para demonstrações de força durante períodos anteriores de tensão com a Coreia do Norte.

Lee Choon Geun, pesquisador honorário do Instituto de Política de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul, disse que o lançamento na terça-feira -- provavelmente de um Hwasong-12 -- demonstraria uma capacidade que “realmente coloca Guam a uma curta distância”. Ele disse que a Coreia do Norte provavelmente queria confirmar as capacidades operacionais do míssil, uma vez que está sendo produzido em massa.

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Kim Dong-yub, professor da Universidade de Estudos Norte-coreanos de Seul, disse que a Coreia do Norte poderia ter testado o Hwasong-12 novamente, ou mesmo um míssil balístico intercontinental com um alcance especificado, com objetivo de testar se a ogiva poderia sobreviver às duras condições da reentrada atmosférica.

Escalada de tensão

O lançamento norte-coreano é a quinta rodada de testes de armas do país nos últimos dez dias e tem sido associada como uma resposta aos exercícios militares conjuntos de Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos na região.

Os testes de Pyongyang coincidiram também com a visita à Coreia do Sul da vice-presidente americana, Kamala Harris, que esteve em Seul em 29 de setembro, numa viagem para destacar o compromisso “inabalável” de Washington em defender Seul. Na ocasião, Harris visitou a Zona Desmilitarizada entre as duas Coreias.

Vice-presidente americana, Kamala Harris visita posto de observação em área desmilitarizada na fronteira das coreias.  Foto: Yonhap/ EFE

Seul, Tóquio e Washington realizaram ainda no final de setembro exercícios antissubmarino trilaterais pela primeira vez em cinco anos. Pyongyang considera os exercícios militares liderados pelos EUA na região como uma preparação para uma invasão, embora os países tenham negado repetidamente qualquer intenção de atacar a Coreia do Norte.

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As duas Coreias continuam tecnicamente em guerra, uma vez que o conflito da década de 1950 terminou com a assinatura de um armistício e não de um tratado de paz.

Líderes internacionais condenam disparos

Os EUA condenaram o lançamento da Coreia do Norte, que consideraram “imprudente e perigoso”, e afirmaram que continuaram os esforços para limitar o avanço do desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano.

O conselheiro para a Segurança Nacional dos EUA, Jack Sullivan, se encontrou ainda com os homólogos sul-coreano e japonês para desenvolver uma “resposta internacional apropriada e robusta” e reafirmar o “compromisso de ferro” dos Estados Unidos na defesa dos dois países asiáticos, disse a porta-voz Adrienne Watson.

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, também prometeu “uma resposta firme”. O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, condenou o disparo e afirmou que ele foi um “ato imprudente”.

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O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também criticou o lançamento, classificando o ato de uma “agressão injustificada”. Segundo Michel, o disparo é “uma tentativa deliberada” de colocar em risco “a segurança na região”. “A União Europeia está solidária com o Japão e a Coreia do Sul”, acrescentou.

A Coreia do Norte, que está sujeita a sanções da ONU pelo seu programa de armas, procura habitualmente maximizar o impacto geopolítico de seus testes, escolhendo o momento que parece mais oportuno. / AFP e AP

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