A Coreia do Sul alertou nesta terça-feira, 22, que pode vir a considerar fornecer armas à Ucrânia em resposta ao suposto envio de tropas da Coreia do Norte para a Rússia - “suposto” porque tanto a Coreia do Norte quanto a Rússia negaram os movimentos.
A declaração sul-coreana aparentemente tem a intenção de pressionar a Rússia a não trazer tropas norte-coreanas em sua guerra contra a Ucrânia. Autoridades sul-coreanas temem que a Rússia possa recompensar a Coreia do Norte dando a ela tecnologias de armas sofisticadas que podem impulsionar os programas nucleares e de mísseis do Norte que têm como alvo a Coreia do Sul.
Em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional, altos funcionários sul-coreanos condenaram o suposto envio de tropas da Coreia do Norte como “uma grave ameaça à segurança” para a Coreia do Sul e a comunidade internacional. Eles descreveram a Coreia do Norte como “um grupo criminoso” que força seus jovens a servir como mercenários russos para uma guerra injustificável, disse o gabinete presidencial sul-coreano em uma declaração.
As autoridades concordaram em tomar contramedidas em fases, vinculando o nível de suas respostas ao progresso na cooperação militar entre a Rússia e a Coreia do Norte, de acordo com o comunicado.
Possíveis medidas incluem opções diplomáticas, econômicas e militares, e a Coreia do Sul poderia considerar enviar armas defensivas e ofensivas para a Ucrânia, disse uma alta autoridade presidencial sul-coreana a repórteres sob condição de anonimato em uma entrevista coletiva.
O oficial disse que a Coreia do Norte poderia tentar obter tecnologias russas para aperfeiçoar seus mísseis nucleares. O oficial disse que a possível ajuda da Rússia para os esforços da Coreia do Norte para modernizar seus sistemas de armas convencionais desatualizados e adquirir um sistema de vigilância baseado no espaço representaria uma séria ameaça à segurança da Coreia do Sul também.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, a Coreia do Sul se juntou às sanções lideradas pelos Estados Unidos contra Moscou e enviou apoio humanitário e financeiro para Kiev. Mas evitou fornecer armas diretamente à Ucrânia, em linha com sua política de não fornecer armas a países ativamente envolvidos em conflitos.
A agência de espionagem da Coreia do Sul disse na semana passada que havia confirmado que a Coreia do Norte enviou 1.500 forças de operação especial para a Rússia neste mês. O presidente ucraniano Volodmir Zelenski disse que seu governo tinha informações de que 10.000 soldados da Coreia do Norte estavam sendo preparados para se juntar às forças invasoras russas.
Cooperação
A Coreia do Norte e a Rússia têm aumentado drasticamente sua cooperação nos últimos dois anos. Em junho, elas assinaram um importante acordo de defesa exigindo que ambos os países usem todos os meios disponíveis para fornecer assistência militar imediata se um deles for atacado. A Coreia do Sul disse na época que consideraria enviar armas para a Ucrânia, uma declaração semelhante à que fez nesta terça-feira.
A agência de espionagem da Coreia do Sul disse que a Coreia do Norte enviou mais de 13.000 contêineres de artilharia, mísseis e outras armas convencionais para a Rússia desde agosto de 2023 para repor seus estoques de armas cada vez menores. A Coreia do Norte e a Rússia negaram o envio de tropas norte-coreanas, bem como a suposta transferência de armas.
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Em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira, 21, o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, rejeitou a afirmação sul-coreana, bem como as alegações ocidentais de que o Irã está fornecendo mísseis à Rússia e a China está fornecendo componentes de armas. Ele acusou o Ocidente de “circular alarmismo com bichos-papões iranianos, chineses e coreanos, cada um dos quais é mais absurdo do que o anterior”.
Em uma reunião separada do comitê da ONU, um diplomata norte-coreano disse que sua delegação não sente necessidade de comentar sobre o envio de tropas, chamando a questão de “rumores infundados e estereotipados que visam manchar a imagem” do Norte e minar a cooperação legítima entre dois Estados soberanos.
Também na terça-feira, a poderosa irmã do líder norte-coreano Kim Jong Un chamou os governos da Coreia do Sul e da Ucrânia de “lunáticos” ao criticá-los por fazerem “comentários imprudentes contra Estados com armas nucleares”.
Os EUA e a OTAN não confirmaram o envio de tropas da Coreia do Norte, mas alertaram sobre o perigo de tal desenvolvimento, caso seja verdade. O vice-embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, disse que, se for verdade, o envio de tropas norte-coreanas marca “um desenvolvimento perigoso e altamente preocupante” e observou que os EUA estavam “consultando nossos aliados e parceiros sobre um movimento tão dramático”. / AP
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