O líder norte-coreano Kim Jong Un se encontrou com o Ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, para discutir questões militares e o ambiente de segurança regional nesta quinta-feira, 27, de acordo com a imprensa local. A reunião ilustra o apoio da Coreia do Norte à Rússia na guerra contra a Ucrânia, enquanto o país isolado celebrava o 70º aniversário de um armistício que interrompeu os combates na Guerra da Coréia de 1950-53.
As festividades norte-coreanas seriam destacadas por um desfile militar na noite desta quinta-feira na capital, Pyongyang, onde Kim - possivelmente na presença de Shoigu e de um oficial do partido governante chinês - poderia exibir seus mísseis mais poderosos com capacidade nuclear projetados para ameaçar rivais vizinhos e os Estados Unidos.
A mídia estatal da Coreia do Norte não confirmou os planos para uma parada militar. Mas dois funcionários do governo sul-coreano, que falaram sob condição de anonimato, disseram que o desfile provavelmente começou por volta das 20h com eventos de aquecimento e estava em andamento a partir das 21h50.
A Agência Central de Notícias da Coreia do Norte (KCNA) disse que Kim e Shoigu conversaram na quarta-feira em Pyongyang e chegaram a um consenso sobre “assuntos não especificados de interesse mútuo no campo da defesa e segurança nacional e no ambiente de segurança regional e internacional”.
A Coreia do Norte tem se alinhado com a Rússia sobre a guerra na Ucrânia, insistindo que a “política hegemônica” do Ocidente liderada pelos Estados Unidos forçou Moscou a tomar medidas militares para proteger seus interesses de segurança. O governo de Biden acusou a Coreia do Norte de providenciar armas para Rússia para ajudar na guerra contra a Ucrânia, embora o governo norte-coreano tenha negado a acusação.
Durante a reunião, Shoigu transmitiu a Kim uma “carta calorosa e boa” assinada pelo presidente russo, Vladimir Putin, disse a KCNA. A reunião ajudará a “impulsionar ainda mais a colaboração e cooperação estratégica e tática entre os dois países no campo da defesa e segurança nacional”, segundo a agência coreana.
Em um caso raro de abertura diplomática desde o início da pandemia, Coreia do Norte convidou delegações da Rússia e da China para participar de eventos que marcaram o armistício de 27 de julho de 1953. Enquanto a trégua deixou a Península Coreana em estado técnico de guerra, a Coreia do Norte ainda vê isso como uma vitória na “Grande Guerra de Libertação da Pátria”.
A KCNA disse que Kim também levou Shoigu a uma exposição de armas, na qual mostrou algumas das mais novas armas da Coreia do Norte e o informou sobre os planos nacionais para expandir as capacidades militares do País. Fotos da mídia estatal e vídeos da exposição mostraram Kim e Shoigu caminhando perto de uma fileira de grandes mísseis montados em caminhões lançadores.
Algumas das armas nas imagens pareciam ser mísseis balísticos intercontinentais que a Coreia do Norte testou em voo nos últimos meses, enquanto persegue um arsenal que pode representar uma ameaça viável para os Estados Unidos continentais. Kim e Shoigu também passaram pelo que possivelmente eram novos drones de vigilância e ataque que não haviam sido anunciados publicamente pelo País.
Lee Sung Joon, porta-voz do governo da Coreia do Sul, disse que os militares sul-coreanos estavam analisando os ativos militares mostrados nas fotos norte-coreanas, mas não compartilharam avaliações específicas. Quando questionados sobre a possibilidade de a visita de Shoigu ser para discutir a importação de armas da Coreia do Norte, John Kirby, coordenador do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca para comunicações estratégicas, não respondeu diretamente, mas disse que estava claro que Putin está buscando apoio de outros países na guerra.
“O senhor Putin sabe que está tendo seus próprios problemas de aquisição de defesa, seus próprios problemas de estoque, que suas forças armadas permanecem na defensiva, e ele está tentando reforçar isso”, disse Kirby.
Alguns especialistas dizem que a Coreia do Norte vê os confrontos dos EUA com a China e a Rússia sobre a influência regional e a guerra na Ucrânia como uma oportunidade para romper o isolamento diplomático e se inserir em uma frente unida contra Washington. Tanto Moscou quanto Pequim têm atrapalhado os esforços dos EUA para fortalecer as sanções do Conselho de Segurança da ONU contra a Coreia do Norte por causa de sua enxurrada de testes de mísseis desde 2022.
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A última vez em que a Coreia do Norte convidou delegados de governos estrangeiros para uma parada militar foi em fevereiro de 2018, quando realizou um evento discreto que excluiu os mísseis balísticos intercontinentais de Kim. Na época, a Coreia do Norte estava iniciando a diplomacia com Seul e Washington, enquanto Kim tentava alavancar seu programa nuclear para obter benefícios econômicos extremamente necessários.
Esses esforços levaram a uma cúpula entre Kim e o então presidente dos EUA, Donald Trump, em junho, mas a diplomacia entrou em colapso após sua segunda reunião em fevereiro de 2019, quando os americanos rejeitaram as exigências norte-coreanas de alívio das sanções em troca de uma rendição parcial da capacidade de seu poder nuclear.
Desde então, Kim aumentou o desenvolvimento de armas nucleares que ele vê como sua maior garantia de sobrevivência, ao mesmo tempo em que repreende as sanções e pressões americanas “semelhantes a gângsteres”.
A KCNA informou que Kang, durante uma recepção para Shoigu, expressou apoio à “luta justa do exército russo” para defender a soberania e a segurança do país, em uma aparente referência à guerra da Rússia contra a Ucrânia. A agência disse que Shoigu durante o evento elogiou o Exército Popular da Coreia do Norte sob a liderança de Kim, dizendo que “se tornou o exército mais forte do mundo”. Os relatórios da mídia russa não incluíram esse comentário./AP.
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