Parlamentares e políticos britânicos voltaram a pressionar o primeiro-ministro Boris Johnson por sua participação em festas durante a pandemia de coronavírus, em um movimento que pode levá-lo a passar por um voto de confiança que pode obrigá-lo a renunciar ao cargo.
Para acionar o mecanismo do voto de confiança, um total de 15% dos deputados da maioria – o equivalente a 54 — deve enviar uma carta ao comitê que administra a bancada parlamentar solicitando a votação. Até o momento, quase 30 parlamentares conservadores pediram publicamente a renúncia de Johnson, enquanto pelo menos outros seis criticaram sua conduta. Se Johnson sair derrotado da votação, ele deve renunciar ao cargo e ser proibido de concorrer às eleições gerais seguintes.
O ex-líder do Partido Conservador britânico, William Hague, afirmou considerar provável a apresentação de uma moção de censura contra o premiê no próximo mês. “Acredito que (os conservadores) se encaminham para uma votação, seja na próxima semana ou até o fim de junho”, disse Hague, ex-ministro das Relações Exteriores, em uma entrevista à Times Radio.
“Muitas pessoas interpretaram o que aconteceu na semana passada como um fim para os problemas e um sinal de que Boris estaria fora de perigo, mas este não é o sentimento no Partido Conservador, que está muito, muito preocupado com o relatório”, acrescentou Hague, líder da formação de 1997 a 2001.
O documento, assinado pela servidora pública Sue Gray, responsabilizou funcionários de alto escalão pelo envolvimento em festas realizadas em Downing Street que infringiram regras anticovid, em um momento em que os britânicos estavam privados de encontrar parentes e amigos. O escândalo, revelado por jornais no fim do ano passado, ficou conhecido como partygate.
‘Falhas inaceitáveis’
Para agravar a pressão, o conselheiro de ética de Johnson disse que o primeiro-ministro pode ter quebrado o código ministerial quando foi multado pela polícia em uma festa de aniversário em junho de 2020, quando a socialização interna foi proibida. Normalmente, espera-se que os ministros que violam o código renunciem.
Christopher Geidt disse que havia uma “questão legítima” sobre se Johnson quebrou o código ministerial quando foi multado no mês passado. Mas Johnson respondeu dizendo que não violou o código porque “não havia intenção de violar a lei”.
Andrea Leadsom, ex-ministra do Gabinete e proeminente defensora do Brexit, acusou Johnson de “falhas inaceitáveis de liderança” e disse que era “extremamente improvável que os líderes seniores não soubessem o que estava acontecendo”.
Leadsom, ex-ministra de Negócios que concorreu duas vezes ao cargo de líder do Partido Conservador, não pediu a renúncia de Johnson, mas disse que os legisladores individuais precisariam decidir a melhor forma de restaurar a confiança no governo.
Renúncia
Na semana passada, Johnson voltou a rejeitar a possibilidade de renunciar ao cargo, mesmo assumindo “total responsabilidade” pelas festas em Downing Street durante os confinamentos.
“Entendo que as pessoas estejam indignadas”, declarou em entrevista na última quarta-feira, 25, após a publicação do relatório de Sue Gray. “Mas levando em conta tudo o que está acontecendo, acredito que é minha responsabilidade seguir em frente com prioridades como a guerra da Ucrânia e a crise do custo de vida.”
Horas antes, ele assumiu perante o Parlamento “total responsabilidade por tudo o que aconteceu na minha presença”. Johnson justificou-se defendendo que, em plena pandemia, os seus colaboradores trabalhavam longas horas e era difícil “traçar um limite entre trabalho e socialização”.
Mas reconheceu que “muitos desses eventos duraram muito mais do que o necessário, quebrando as regras” e se declarou “surpreso” pelas revelações de Gray sobre eventos em que ele “simplesmente não estava presente”.
Seus argumentos não convenceram a oposição. O nacionalista escocês Ian Blackford o acusou de ter “perdido a pouca autoridade moral que lhe restava” e voltou a pedir sua renúncia, assim como o Partido Trabalhista. /REUTERS e AFP
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