Crise na Argentina: mercados reagem com otimismo e Sergio Massa anunciará medidas em 3 de agosto

Nomeação do novo ministro da Economia levou à valorização do peso e melhorou cotação dos títulos da dívida

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Por Redação
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A nomeação de Sergio Massa para chefiar o Ministério da Economia da Argentina concedeu certo alívio aos mercados do país, com valorização do câmbio paralelo e melhora no preço dos títulos nesta sexta-feira, 29. Escolhido para enfrentar a crise econômica, que resultou em uma inflação de 64% nos últimos 12 meses, Massa disse que vai anunciar medidas econômicas para diminuir a crise na próxima quarta-feira, dia 3, após tomar posse.

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A escolha pelo político, entretanto, bastou para animar os mercados. Nas primeiras horas desta sexta-feira, o peso argentino valorizou fortemente, chegando a atingir o valor de 350 pesos por dólar, e a cotação dos títulos da dívida melhorou. “A reação foi positiva porque vê em Massa uma figura pragmática, com boa relação com empresários e o mercado”, avaliou o economista Nery Persichini, da consultora GMA Capital.

A melhora já havia acontecido no início da semana, quando começaram os rumores de que Sergio Massa, atual presidente da Câmara dos Deputados, assumiria o cargo após a saída de Silvina Batakis, que durou apenas 24 dias. “A reação do mercado reflete o alívio de que alguém com habilidades políticas e um forte eleitorado no partido tenha assumido esse papel fundamental”, disse Benjamin Gedan, diretor interino do programa para a América Latina do Wilson Center, com sede em Washington.

Imagem desta quinta-feira, 28, mostra Sergio Massa, presidente da Câmara dos Deputados da Argentina nomeado para o Ministério da Economia do país. Político chega ao governo com otimismo do mercado Foto: Natacha Pisarenko / AP

Batakis havia sido nomeada para substituir o mais moderado Martín Guzmán, que se demitiu abruptamente em meio a reclamações de que não tinha o apoio total da coalizão governista, dividida entre correntes leais ao presidente, por um lado, e à vice-presidente Cristina Kirchner, por outro.

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A nomeação de Batakis foi seguida por uma forte desvalorização do peso em meio a rígidos controles de capital, refletindo a incerteza sobre se ela tinha a autoridade necessária para impor reformas vistas como necessárias para reverter uma economia que sofre com uma das maiores taxas de inflação do mundo. “A Argentina tem uma necessidade urgente de restaurar a confiança na economia e o carrossel dos ministros das Finanças tem o efeito oposto”, disse Gedan.

O presidente argentino Alberto Fernández reconheceu nesta sexta-feira que uma figura forte era necessária para liderar o programa econômico do governo. “O que vivemos como país e sociedade nos últimos meses, e em particular nas últimas semanas, nos obriga a ter uma melhor coordenação”, escreveu no Twitter.

Diante da confiança depositada, Massa chega ao governo com status de ‘superministro’. A pasta de Economia foi reformulada e vai absorver as áreas de Economia, Produção e Agricultura.

Massa, um ex-prefeito que há muito tem ambições presidenciais e tem boas relações com a elite empresarial do país, tem sua própria base política e, por isso, é visto como alguém supostamente capaz de impor uma agenda. “Ele não é pró-mercado, ele é pró-capitalismo”, disse Fausto Spotorno, economista-chefe da Orlando J. Ferreres & Associates, uma empresa de consultoria em Buenos Aires. “Ele não é esquerdista.”

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O político vai nomear a equipe de auxiliares na segunda-feira e ir à Câmara no dia seguinte para renunciar formalmente o cargo de deputado.

Ao longo desta semana, a imprensa argentina noticiou que, antes mesmo de ser nomeado, Massa conversava com os principais nomes do mercado financeiro para discutir possíveis medidas. “As medidas que eles estão discutindo são bastante razoáveis”, disse Spotorno.

Para Benjamin Gedan, no entanto, “o otimismo parece um pouco exagerado”. “É verdade que Martín Guzmán estava morando fora do país e não necessariamente tinha a capacidade de navegar no poço de cobras dessa coalizão, mas os problemas fundamentais são difíceis de resolver e politicamente traiçoeiros”, analisou.

Acordo com o FMI

Uma das principais questões para o país envolve o futuro do recente acordo do país com o Fundo Monetário Internacional para reestruturar cerca de US$ 44 bilhões em dívidas.

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Cristina Kirchner e seus aliados de esquerda na coalizão se opuseram publicamente ao acordo, alegando que ele exige um nível de austeridade que prejudicará os trabalhadores e os pobres, ao mesmo tempo em que dificulta o crescimento.

Batakis foi substituída no mesmo dia em que voltou de uma rápida viagem a Washington, onde se encontrou com investidores e funcionários do FMI, do Banco Mundial e do Tesouro dos EUA.

Vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner (esquerda), presidente Alberto Fernandez (centro) e Sergio Massa (direita), novo ministro da Economia do país. Trio tem relações políticas históricas de alianças e discordâncias Foto: Maria Eugenia Cerutti / AFP

Embora o mercado pareça estar recebendo Massa de braços abertos, não está claro que os argentinos como um todo sintam o mesmo.

“O que o mercado precisa e o que a opinião pública precisa são duas coisas muito diferentes”, disse Jorge Giacobbe, analista político que dirige o instituto de pesquisas local Giacobbe & Associates. “Os dois estão bravos, sim, mas Massa chega nessa nova função com apenas 9% de imagem positiva e 70% negativa.”

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Ainda de acordo com Giacobbe, Massa é descrito como alguém que muda de opinião com frequência e o índice ruim de imagem significa que o político “é um homem que não tem nada a perder”.

Sergio Massa foi chefe de gabinete por quase um ano durante o mandato da presidência de Cristina Kirchner, entre 2007 e 2015. Após sair do governo, ele passou a ser altamente crítico de Cristina e começou a perseguir as próprias ambições presidenciais. Mais tarde, se juntou à coalizão que acabou elegendo Alberto Fernández, outro ex-aliado de Kirchner que se tornou crítico. “Esta é a última bala para o governo”, disse Spotorno. “Se Massa sair, quem fica? Não há ninguém.” /AFP, EFE, AP

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