A vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, reapareceu nesta sexta-feira, 4, em ato público pela primeira vez desde que foi alvo de um atentado fracassado em 1º de setembro, com um discurso em que questionou se seria feita justiça pelo ataque, que ela suspeita ter financiamento privado vinculado ao ex-presidente Maurício Macri.
“A Justiça, já estou resignada, não vai investigar nada. Me querem como réu, não como vítima”, afirmou Cristina a delegados do sindicato metalúrgico de Pilar, 60 quilômetros ao norte de Buenos Aires.
Com o canto de “Cristina presidenta”, metalúrgicos e representantes sindicais receberam a vice-presidente no ato de encerramento dos congressos regionais da União dos Metalúrgicos (UOM).
A ex-presidente (2007-2015), contra quem o Ministério Público pediu 12 anos de prisão por suposta corrupção, sofreu um ataque na entrada de sua casa há dois meses, quando um brasileiro, misturado entre apoiadores que a cumprimentavam, apontou uma arma contra ela sem conseguir disparar.
O agressor, sua namorada e outro homem acusado de ser o líder da quadrilha foram processados e estão sob prisão preventiva, enquanto uma jovem de 21 anos foi libertada por falta de provas, mas ainda está sob investigação.
Em seu discurso, Cristina acusou empresários que apoiam o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) de financiar manifestações da oposição. Alguns desses protestos, repletos de expressões violentas, chegaram a exibir sacos mortuários com nomes de lideranças políticas e sociais em frente à Casa Rosada.
“Aqueles supostos indignados que me agrediram não ficaram indignados. Eram pessoas pagas por empresários que se identificavam com o governo anterior, com o macrismo, que endividou a República Argentina”, observou.
“Eles não ficaram irritados com a política, receberam milhões de pesos”, acrescentou Kircher.
Julgamento
A ex-presidente enfrenta um julgamento por suposta corrupção que entrará em sua fase final a partir de 14 de novembro. Uma sentença poderá ser emitida antes do fim do ano.
Em seu discurso, Cristina, de 69 anos, defendeu a decisão que tomou em 2019 de formar uma chapa eleitoral com o atual presidente Alberto Fernández, com quem manteve uma relação tensa e contenciosa nos últimos anos.
“Não me arrependo, porque conseguimos atingir o objetivo que não era votar contra alguém, mas contra algumas políticas”, disse, após lembrar que, naquela época, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava preso e o ex-presidente equatoriano Rafael Correa encontrava-se em exílio, ambos acusados de corrupção.
Ao mesmo tempo, Cristina afirmou estar disposta a “fazer o que for preciso” para que a sociedade “se organize num projeto de país que volte a recuperar a esperança, a força e a alegria”, uma alusão às eleições do ano que vem.
“Temos muitas oportunidades, mas elas exigem organização, inteligência e compreensão das coisas”, assegurou./AFP e EFE
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