HAVANA — Havana vive um clima de tensão nesta segunda-feira,15, com forte presença policial nas ruas, enquanto manifestantes se preparam para marchar contra o governo. Opositores foram impedidos de participar dos protestos e acusam o regime de cortar o sinal de internet em pontos específicos.
A marcha, programada para às 15h desta segunda-feira (horário local, 17h no Brasil), foi convocada pelo grupo Arquipélago, que tem 37 mil membros dentro e fora de Cuba. Além de Havana, os protestos devem acontecer em mais seis províncias, sob as bandeiras de libertação de presos políticos e respeito aos direitos humanos e à democracia.
O apelo vem quatro meses após as manifestações históricas e espontâneas de 11 de julho, que deixaram um morto, dezenas de feridos e 1.270 pessoas detidas, das quais 658 ainda estão presas, segundo a ONG de direitos humanos Cubalex.
Os manifestantes foram convocados a usar branco ou pendurar lençóis brancos em janelas e varandas, caso não possam sair para protestar.
Na capital, grupos de três policiais patrulham quase todas as esquinas do famoso calçadão litorâneo, especialmente no centro da cidade. Agentes de segurança do Estado, vestidos como civis, estão posicionados em praças e parques.
O protesto foi proibido pelo governo cubano, que o classificou como "ilegal", afirmando que por trás dele está a "estratégia imperialista" dos Estados Unidos, disse o presidente Miguel Díaz-Canel na semana passada.
Ativistas e jornalistas independentes foram impedidos por agentes de segurança do Estado e grupos de pessoas ligadas ao governo de sair de suas casas porque foram impedidos por Alguns, como Berta Soler, líder do Damas em Branco, e seu marido Ángel Moya, foram detidos, diz a oposição.
A ONG opositora Observatorio Cubano de Derechos Humanos, com sede na Espanha, registrou mais de 200 "atos repressivos" nos últimos três dias, incluindo pelo menos 49 prisões em residências e 25 casos de ameaças.
Yunior García, fundador do Arquipélago, não participará dos protestos. Ele está bloqueado em sua casa por agentes de segurança desde o último domingo, quando foi impedido de sair para marchar sozinho com uma rosa branca na mão.
No ano passado, o dramaturgo de 39 anos liderou uma nova geração de dissidentes cubanos impulsionada pelo surgimento das redes sociais.
O jornalista independente Abraham Jiménez Enoa afirmou nas redes sociais que estava detido em casa e não poderia sair para cobrir os protestos. Sua colega, a opositora Yoani Sánchez, relatou que seu acesso à Internet foi interrompido.
Nos dias anteriores, as forças de segurança convocaram dezenas de ativistas a comparecer a delegacias de polícia e outros departamentos estaduais. Vários deles indicaram que receberam ameaças caso participassem da marcha de 15 de novembro.
Em carta publicada no domingo, cerca de 40 organizações civis de Cuba e do exterior denunciaram a "onda repressiva que se intensificou no país contra seus promotores e os cidadãos que com ela se identificam".
Protestos estão programados para acontecer em cerca de cem cidades ao redor do mundo em apoio à marcha.
“Pedimos ao governo cubano que respeite os direitos dos cubanos e permita que eles se reúnam pacificamente e usem suas vozes sem medo de represálias ou violência do governo”, disse o secretário de Estado, Antony Blinken, em nota, solicitando que seja mantida a conexão de internet na ilha.
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, respondeu imediatamente no Twitter. O governo cubano rejeita a “ingerência dos Estados Unidos. Defendemos o direito de desfrutar o caminho da normalidade em paz e enfrentar os desafios que temos pela frente sem interferências”, escreveu Rodríguez.
A França exortou as autoridades cubanas em um comunicado a "garantir" o direito de manifestação e devolver as credenciais retiradas de jornalistas da agência espanhola EFE dias atrás.
Os atos foram convocados inicialmente para 20 de novembro, mas a data foi alterada depois que o governo decretou a mesma data como um “Dia Nacional da Defesa”.
A ilha vive sua pior crise econômica em quase 30 anos, o que gerou uma grave escassez de alimentos e medicamentos, além de um crescente descontentamento social. /REUTERS, AP e AFP
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