KAZAN, Rússia - O presidente russo, Vladimir Putin, pediu por alternativas ao sistema internacional de pagamentos em discurso na Cúpula do Brics. Anfitrião do encontro em Kazan, ele defendeu a rápida transição para uma nova ordem econômica enquanto recorre ao chamado Sul Global para driblar as sanções dos aliados da Ucrânia no Ocidente.
“Quanto mais vivermos e trabalharmos de acordo com as regras estrangeiras, em plataformas estrangerias, mais longa será essa transição”, declarou Vladimir Putin ao defender a maior cooperação econômica no bloco dos emergentes.
Moscou tem buscado alternativas para contornar Swift, sistema internacional de pagamentos, que excluiu bancos russos após a invasão da Ucrânia. Nas palavras de Putin, a iniciativa ajudaria a proteger os mercados de interferências externas, além de garantir indicadores de preços mais previsíveis.
Em consonância com Dilma Rousseff, presidente do banco do Brics, Vladimir Putin disse que o dólar tem sido usado como arma para atingir objetivos políticos. “Os outros estão fazendo isso. Não rejeitamos, não lutamos contra o dólar, mas se formos impedidos de trabalhar (com a moeda americana), o que temos que fazer? Temos então que buscar alternativas”, disse Vladimir Putin, acrescentando que considera a instrumentalização do dólar um erro. “Mina a confiança nessa moeda”.
A desdolarização conta com o apoio de outros países do Brics, como Brasil, mas a criação de uma plataforma alternativa de pagamentos praticamente não avançou. O presidente Lula, que cancelou a viagem a Kazan após bater a cabeça no banheiro, e gravou mensagem por vídeo para a Cúpula, insistiu que a discussão não pode ser adiada.
“Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, defendeu Lula.
Além de insistir em alternativas ao sistema financeiro internacional, a Rússia propôs a criação de uma plataforma para facilitar os investimentos entre os países do Brics. “Seria uma ferramenta poderosa para apoiar nossas economias nacionais e também forneceria recursos financeiros aos países do Sul Global”, declarou Putin.
Em seu discurso, o presidente russo disse ainda que o crescimento o Brics deve crescer acima da média global em 2024 e que o papel do bloco como liderança econômica tende a ser fortalecer.
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Com a guerra prolongada, a Rússia conta com o grupo para contornar o isolamento econômico e diplomático imposto pelos aliados da Ucrânia no Ocidente. E a Cúpula em Kazan se tornou a principal plataforma internacional para Vladimir Putin, que está com as viagens limitadas pela ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI).
O encontro deve terminar com a criação da categoria de países parceiros. Será mais uma expansão do bloco que era composto por Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul até o ano passado, quando decidiu pela adesão de Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes Unidos.
A Venezuela era candidata e entrar como parceira, mas enfrentou resistência do Brasil e deve ficar de fora da lista, mesmo com a aparição surpresa de Nicolás Maduro em Kazan, sede da Cúpula.
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