Da rainha Vitória ao rei Charles III, a Casa de Windsor nas páginas do ‘Estadão’

Relembre as coroações de Elizabeth II, George VI, George V e Edward VII no Acervo Estadão

PUBLICIDADE

Foto do author Luiz Raatz

Coroações não são um evento corriqueiro. No próximo sábado, 6, o Reino Unido viverá sua terceira cerimônia do tipo em 100 anos. A quarta da Casa de Windsor. E apenas a quinta desde a chegada da rainha Vitória ao trono, em 1838. A era vitoriana vivia o auge em 1875, quando o Estadão foi lançado em 4 de janeiro daquele ano, com o propósito de lutar pela abolição da escravatura e a proclamação da república. Ao longo das décadas, no entanto, a história da monarquia britânica sempre foi destaque nas páginas do jornal.

Morte da Rainha Vitória

Em 23 de janeiro de 1901, o jornal noticiou assim a morte da monarca mais importante do século 19: “Há 63 anos e meio que preside a nação britânica, a rainha Vitória, cuja morte neste momento lança um espesso véu de dó sobre o mais poderoso dos povos, entristecendo ao mesmo tempo todos os homens de sentimentos liberais e toda a gente culta da terra.”

Coroação de Edward VII

PUBLICIDADE

A rainha Vitória foi sucedida no trono por seu filho Edward VII, em agosto de 1902. A coroação, num sábado como a de Charles III, foi a primeira registrada pelo jornal, na seção Telegramas. “Londres, 9: Os soberanos chegaram à Abadia de Westminster às 11h20. O rei Eduardo VII pronunciou o juramento com voz forte. Os sinos replicaram violentamente e tiros de peça ecoaram no interior da imensa catedral.”

Edward VII seria o último monarca da Casa de Saxe-Coburgo-Gota, que tem esse nome por causa da origem germânica de Albert, marido da rainha Vitória. Ele reinou por nove anos, até sua morte em maio de 1910. Ele foi sucedido por George V, avô de Elizabeth II e bisavô de Charles III.

Publicidade

Coroação de George V

A coroação de George V foi registrada em minúcias pelo Estadão em 23 de junho de 1911. Uma nota retrata a cena que tomava as ruas da rota do cortejo, do Palácio de Buckingham até a Abadia de Westminister “as tribunas, erguidas pelas ruas do trajeto desde cedo regorgitavam de gente, e pelas calçadas immensa multidão acotovelava-se.”

Coube a seu filho George V liderar o Reino Unido durante a 1ª Guerra. No começo do século 20, a maioria das casas reais europeias tinham algum grau de parentesco entre si. O rei britânico era primo, por exemplo, do czar Nicolau II, da Rússia - fuzilado pela Revolução Bolchevique - e do imperador alemão Wilhelm II.

Mudança de nome da realeza

Esses laços sanguíneos fizeram com que a casa real britânica tivesse origem alemã, num momento em que as duas potências da época estavam em lados opostos da Grande Guerra. O aumento do sentimento antialemão no império britânico levou à mudança de nome da família real, que, a partir de 1917, passou a se chamar Windsor, nome de um dos principais castelos da realeza britânica.

“Agora, portanto, nós, de nossa real autoridade, declaro a anunciar que, a partir da data desta nossa Proclamação Real, nossa casa e família devem ser denominadas e conhecidas como a casa e família de Windsor, e que todo o descendentes de linha masculina de nossa avó, a rainha Vitoria, que são temas destes reinos, com exceção dos descendentes do sexo feminino que podem se casar ou que podem ter casado, devem constar o nome de Windsor”, escreveu o monarca em proclamação em 17 de julho de 1917, registrada brevemente no dia seguinte pelo Estadão.

Publicidade

George VI e a família real no Palácio de Buckingham Foto: AP / AP

A crise da abdicação.

Com o fim do conflito, George V liderou o Reino Unido durante o período entreguerras, quando o poder do Império Britânico, apesar de ainda gigantesco, dava sinais de desgaste. A ascensão do nazismo na Alemanha ocorreu no fim de seu reinado. Sua morte, em janeiro de 1936, precipitaria outra crise, a da abdicação de seu filho mais velho, Edward VIII.

“Durante a noite inteira, cerca de 50 pessoas se mantiveram à entrada da Abadia de Westminster não obstante a chuva incessante e o vento glacial que não cessou de soprar. Prevê-se que milhares de súditos fiéis desfilarão pelo imenso Hall”, escreveu o jornal sobre os funerais de George V, para em seguida descrever o comportamento do sucessor:

“Parece, entretanto, que se exercerão certas influências conservadoras, no sentido de refrear certos hábitos do (novo) soberano, como por exemplo no que se refere ao uso constante de viação aérea.”

Edward desistiu do trono por querer se casar com a americana Wallis Simpson, que era divorciada, o que chocou a sociedade da época. Ele abdicou em dezembro daquele ano, deixando a coroa para o irmão mais novo, George VI. O desfecho da crise foi manchete do jornal no dia 12: “A Grã-Bretanha acha-se sob o comando de um novo rei”

Publicidade

A coroação de George VI

No ano seguinte, em 1937, o jornal noticiou pela terceira vez uma coroação real, destacando a coroação de George VI e da rainha mãe: “Os reis da Inglaterra foram coroados ontem com solenidade e esplendor nunca vistos.”

George VI liderou a Grã-Bretanha durante os duros anos da 2ª Guerra, ao lado do primeiro-ministro Winston Churchill. Entre 1939 e 1945, Londres foi bombardeada inúmeras vezes pelos nazistas e a família real desempenhou um papel importante ao manter a moral da população elevada.

Os discursos do rei, que era gago, divulgados pelo rádio, também são considerados importantes por historiadores e foram retratados em filme de mesmo nome, vencedor de quatro Oscars em 2010, entre eles o de melhor filme, estrelado pelo ator britânico Colin Firth.

Em 2 de junho de 1953, a rainha Elizabeth II foi coroada monarca do Reino Unido Foto: ESTADAO / undefined

Elizabeth II no trono

O monarca morreu em 1952 depois de uma longa batalha contra o câncer. Sua filha, Elizabeth, foi coroada em junho de 1953.

Publicidade

" (...) A rainha chegou de Clarence House, sua residência, e atravessou os jardins de St. James, precisamente às 10 horas, penetrou na Sala de Entrada, vindo simbólica mente da Sala do Trono. De luto pesado, parou um instante, imóvel, grave e como que esmagada pela emoção, da hora gloriosa e trágica. Com voz firme, prestou então juramento, nas formulas tradicionais, de conservação do protestantismo na Inglaterra e liberdade da Igreja Presbiteriana. Sentou-se apenas um instante, para assinar a formula de juramento, depois, aprovou formalmente, algumas ordens do Conselho Privado, e fez, de conformidade com a tradição, a declaração pessoal”, escreveu o jornal.

Elizabeth teve um longo reinado, maior até que o da trisavó, a rainha Vitória. Por sete décadas, ela liderou o Reino Unido, durante a Guerra Fria, o fim do comunismo, a globalização e a pandemia de covid-19. A repercussão de sua morte, no ano passado, foi acompanhada em tempo real.

No próximo sábado, Charles III terá a missão de manter a monarquia britânica relevante para as próximas gerações.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.