De John F. Kennedy a Shinzo Abe: relembre crimes políticos que marcaram época

Atentados políticos anteriores abalaram nações e causaram efeitos para além de suas próprias fronteiras em todo o mundo

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Por Redação
Atualização:

A morte do ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe durante um comício eleitoral na cidade de Nara, no oeste do país, é o mais recente de uma longa lista de crimes políticos que chocaram o mundo. O líder japonês foi morto nesta sexta-feira, 8, após ser alvejado por disparos de uma arma de fabricação caseira construída pelo veterano das Forças de Autodefesa Marítima do Japão, Tetsuya Yamagami, de 41 anos, que confessou o crime.

Da América à Ásia, passando por Europa e África, presidentes, primeiros-ministros, candidatos e ex-chefes de governo foram vitimados em atentados que abalaram nações - algumas delas com efeitos para além de suas próprias fronteiras. Relembre alguns dos crimes que marcaram os séculos 20 e 21.

John F. Kennedy (Dallas, EUA - 1963)

O presidente americano John F. Kennedy desfilava em carro aberto com a esposa, Jaqueline Kennedy, e o governador do Texas, John Connally, quando foi atingido na cabeça por disparos de arma de fogo. Foto: Walt Cisco/Dallas Morning News via REUTERS - 22/11/1963

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O presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy estava ao lado da mulher, Jacqueline, e do então governador do Texas John Connally em um desfile em carro aberto quando foi atingido na cabeça por disparos de arma de fogo. A limusine saiu em disparada em direção ao hospital, mas meia hora depois ele foi declarado morto. Logo após o assassinato, a polícia prendeu um suspeito, o militar da reserva Lee Harvard Oswald. O suspeito foi morto dois dias depois de ser preso, o que motivou uma infinidade de teorias da conspiração sobre o real assassino (e, principalmente, sobre o motivo) do crime.

Em dezembro de 2021, Joe Biden liberou uma série de arquivos secretos do governo relacionados ao assassinato de Kennedy. Um lote de arquivos com 1.491 documentos, 958 dos quais são da CIA, foram publicados pelos Arquivos Nacionais e Administração de Documentos (Nara, na sua sigla em inglês) - o que corresponde a menos de 10% dos 15.834 documentos que permaneceram parcial ou totalmente sigilosos até agora, e não esclarece em definitivo todas as dúvidas sobre o caso.

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Olof Palme (Estocolmo, Suécia - 1986)

Foto de 1984 mostra o então primeiro-ministro da Suécia, Olof Palme, morto na saída de um cinema com um tiro nas costas. Foto: Scanpix Sweden/ Reuters

O carismático líder social-democrata sueco Olof Palme foi assassinado a sangue frio, com um tiro pelas costas, em Estocolmo, em 28 de fevereiro de 1986, aos 59 anos, quando ocupava o posto de primeiro-ministro da Suécia. Palme caminhava com a esposa Lisbet, logo após sair de um cinema na capital sueca - motivo pelo qual havia dispensado seus guarda-costas.

Extremamente popular em seu país e defensor de uma visão que não se enquadrava na lógica da Guerra Fria - apesar de liderar um país integrado à Europa, posicionou-se anos antes contra a Guerra do Vietnã -, a morte de Olof Palme também motivou uma série de teorias conspiratórias por não ter uma solução. Apenas em 2020, 34 anos depois da morte, promotores suecos disseram ter identificado o autor do crime: um homem chamado Stig Engstrom, conhecido por participar de grupos que faziam uma oposição feroz às políticas de esquerda de Palme. Engstrom morreu em 2000, aos 66 anos – ele teria cometido suicídio. A família nega que Engstrom seja o autor do crime.

Thomas Sankara (Uagadugu, Burkina Faso - 1987)

Thomas Sankara, morto em um golpe de Estado em Burkina Faso, durante uma coletiva de imprensa em Harare, em 1986. Foto: Dominique Faget/ AFP - 02/09/1986

Thomas Sankara, um inflamado revolucionário marxista, tornou-se um dos presidentes mais jovens da história recente da África quando ascendeu ao poder em 1983, em Burkina Faso. Ao longo de quatro anos no cargo, ele rapidamente ganhou reputação pelo governo e por seu espirituoso desafio em relação ao Ocidente, o que lhe rendia louvores por toda a África. Ele e outros 12 homens foram mortos em outubro de 1987, durante o golpe militar que levou ao poder Blaise Compaoré, que fora um amigo próximo de Sankara no passado.

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Ao longo dos 27 anos seguintes, Compaoré comandou o país com pulso de ferro, até que uma insurreição popular o retirou do poder em 2014. Apenas em abril de 2022, um tribunal militar confirmou antigas e generalizadas suspeitas de que Compaoré, em exílio desde o fim de seu governo na Costa do Marfim, esteve de fato ligado ao assassinato. A corte o condenou à revelia e pronunciou uma sentença de prisão perpétua.

Luis Carlos Galán (Soacha, Colômbia - 1989)

Juan Manuel Galán, filho do ex-candidato à presidência da Colômbia Luis Carlos Galán, posa para foto em frente a uma estátua do pai em Soacha durante a campanha presidencial deste ano.  Foto: Mauricio Dueñas Castañeda/ EFE - 06/03/2022

Luis Carlos Galán era um jovem político em ascensão nos anos 1980 na Colômbia, um dos períodos mais violentos da história do país envolvendo grupos guerrilheiros e narcotraficantes. Aos 45 anos, o dirigente do movimento político Novo Liberalismo, então candidato à presidência do país, foi morto a tiros durante um comício, aparentemente por assassinos de aluguel, na praça principal da localidade de Soacha, poucos quilômetros ao sul de Bogotá.

O crime logo foi relacionado a uma das principais propostas de campanha de Galán, o combate aos carteis que comandavam o tráfico de drogas no país. Ao longo dos anos, uma série de figuras ligadas ao governo foram indiciadas pelo crime - incluindo um ex-diretor da polícia secreta colombiana - por suspeita de terem auxiliado ou facilitado a execução do crime, ordenado pelo Cartel de Medellín, liderado por Pablo Escobar.

Luis Donaldo Colosio (Tijuana, México - 1994)

Fotografia de Luis Donaldo Colosio e uma cópia de seu último discurso são colocadas em coroa de flores durante celebração de seu aniversário de morte, no México. Foto: Andrew Winning/ Reuters - 23/03/1999

Outro candidato presidencial que teve a carreira - e a vida - abreviada na América Latina foi o político mexicano Luis Donaldo Colosio, assassinado em 23 de março de 1994 durante um comício em Tijuana. Líder nas pesquisas de opinião, o então candidato de 44 anos foi atingido com dois disparos de calibre .38, no crânio e no abdome, à queima-roupa.

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Mario Aburto Martinez, um mecânico industrial que na época tinha 23 anos, confessou o crime e foi condenado a 42 anos de prisão - mas nenhum potencial mandante do crime chegou a ser identificado. O fato de Colosio ser um político reformador dentro do hegemônico Partido Revolucionário Institucional (PRI) motivou uma série de teorias conspiratórias, incluindo a de que o então presidente, Carlos Salinas de Gortari, tivesse envolvimento com o crime - o que nunca se provou.

Yitzhak Rabin (Tel-Aviv, Israel - 1995)

O premiê israelense Yitzhak Rabin, o presidente americano Bill Clinton e o revolucionário Yasser Arafat durante conversas de paz entre Israel e Palestina na Casa Branca, em 1993. Foto: Gary Hershorn/ REUTERS - 13/09/1993

O primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin pagou com a vida por defender a paz entre Israel e Palestina. Dois anos depois de ter assinado o Acordo de Oslo, que previa o fim do conflito entre israelenses e palestinos até 1998 - o que não aconteceu até hoje -, Rabin foi morto pelo extremista judeu Igal Amir, após fazer um discurso defendendo a construção da paz em Tel-Aviv.

Em uma entrevista em 2008, a primeira desde que cometeu o crime, Amir revelou ter cometido o assassinato inspirado por generais do Exército de Israel, que defendiam que a estratégia de Rabin para os palestinos, de dar terras em troca de paz, trazia a desgraça ao Estado de Israel. Ele citou diretamente Ariel Sharon, Rehavam Zeevi e Rafael Eitan, que na época do assassinato eram políticos de direita, com longas carreiras militares de destaque no país.

Laurent Kabila (Kinshasa, República Democrática do Congo - 2001)

Presidentes africanos dão boas-vindas ao presidente do Congo, Laurent Kabila, após sua posse em em abril de 1997, em Kinshasa. Foto: Peter Andrews/ REUTERS

Líder revolucionário que encerrou a longa ditadura de Mobutu Sese Seko, Laurent Kabila governou a República Democrática do Congo entre 1997 e 2001. Em janeiro daquele ano, o então presidente foi morto a tiros por um guarda-costas, na capital Kinshasa.

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Em 2003, 30 pessoas foram condenadas pela morte de Kabila, entre eles seu ex-assessor e coronel Eddy Kapend, acusado de organizar uma tentativa de golpe de Estado. Joseph Kabila, filho de Laurent, herdou a presidência após a morte do pai.

Rafiq Hariri (Beirute, Líbano - 2005)

Imagem mostra Rafiq Hariri (à esquerda) sendo presentado pelo presidente russo Vladimir Putin (direita) em 2 de novembro de 2001 Foto: via Reuters

O grande atentado contra o ex-primeiro-ministro sunita Rafiq Hariri tem um peso semelhante para muitos libaneses ao assassinato de John F. Kennedy para os americanos. Ele foi assassinado no dia 14 de fevereiro de 2005, em uma explosão de um carro-bomba durante a passagem do seu comboio blindado. Outras 21 pessoas também morreram e 226 ficaram feridos.

Chegou-se a investigar que o assassinato de Hariri – que liderou o Líbano até 2004, mas ainda desempenhava um papel político relevante no país – tivesse participação da Síria, mas não foi comprovado. Em 2020, Salim Jamil Ayyash, de 57 anos, membro da milícia xiita Hezbollah, foi condenado à prisão perpétua pelo crime.

Benazir Bhutto (Rawalpindi, Paquistão - 2007)

Benazir Bhutto, ex-primeira ministra do Paquistão, em entrevista para a Reuters no dia 17 de setembro de 2000. Ela foi assassinada em 2007 por um homem-bomba Foto: Romeo Ranoco/Reuters

Benazir Bhutto foi a primeira mulher a governar um país muçulmano, o Paquistão, em 1988. Ela ocupou o cargo de primeira-ministra duas vezes no país e foi assassinada no dia 27 de dezembro de 2007 por um homem-bomba. Ela havia acabado de participar de um comício em Rawalpindi quando o assassinato se aproximou do seu comboio, atirou nela e se explodiu. O ataque foi atribuído ao Talebã paquistanês.

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Durante o seu mandato, Bhutto foi acusada de corrupção e forçada a abandonar o poder. Ela se impôs um autoexílio em Londres e Dubai. Em 2007, ela tentava governar o país pela terceira vez. O assassinato causou manifestações no Paquistão.

Jovenel Moïse (Porto Príncipe, Haiti - 2021)

Cartaz com o rosto de Jovenel Moïse em Porto Príncipe, capital do Haiti, em imagem desta quinta-feira, 7. Moïse foi assassinado em 2021 na sua residência oficial e desde então o país está sem presidente Foto: Odelyn Joseph / AP

Empresário de sucesso antes de assumir o comando do Haiti, Jovenel Moïse foi assassinado a tiros no dia 7 de julho de 2021, há um ano, na residência oficial do governo na capital Porto Príncipe. Um ano após o crime, a presidência está vaga, não há data prevista para a eleição de seu sucessor e a crise social do Haiti se agravou, com mais presença de gangues de criminosos.

No dia em que foi assassinado, os criminosos pareceram ter entrado facilmente na residência do presidente, sem que as unidades de elite encarregadas de sua proteção fizessem algo para neutralizá-los. A investigação, no entanto, não levantou respostas. Cinco juízes de instrução se sucederam no caso, e nenhum deles acusou formalmente qualquer uma das 40 pessoas presas, incluindo os colombianos que supostamente compunham o comando.

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