A poucos dias do segundo turno das eleições e em meio a um cenário socioeconômico em ebulição, os cinco candidatos à presidência da Argentina trocaram duras críticas, momentos de tensão e até ataques pessoais no debate realizado nesta noite de domingo, 8, na faculdade de direito da Universidade de Buenos Aires.
O segundo duelo entre os presidenciáveis contornou majoritariamente assuntos relacionados à economia, segurança e corrupção. Mas nesta ocasião, diferentemente do primeiro debate, o apelo ao emocional e a quebra da polarização Milei-Massa tiveram uma maior significância, segundo analistas políticos ouvidos pelo Estadão.
No saldo final, todos os ataques mais duros foram direcionados contra Sérgio Massa, quem como Ministro da Economia e representante do grupo peronista teve que defender um governo impopular marcado por uma inflação de níveis históricos. O ministro sofreu fundamentalmente seção “Trabalho e Produção”, que tornou-se o foco das críticas dos seus oponentes pela insatisfação generalizada com a gestão atual.
A Argentina possui atualmente uma taxa de desemprego relativamente baixa em relação aos outros países da região (6,9%), contudo, os salário são cada vez mais insuficientes e a informalidade tem aumentado a níveis preocupantes. De acordo com dados do governo argentino, apenas 30% dos trabalhadores privados são assalariados com contrato no país vizinho.
Apesar do apoio do governo aos trabalhadores, toda ação para melhorar a situação geral da maioria dos cidadãos tem sido insuficiente, e a oposição critica o alto custo dos bônus e isenções fiscais para autônomos apresentadas por Massa devido a que, de acordo com eles, apenas têm piorado a situação do déficit fiscal do país.
Bullrich, por outro lado, foi a grande protagonista do debate. Com um discurso mais preciso, a candidata de Juntos por el Cambio ganhou visibilidade debatendo confortavelmente sobre o tema que domina (a segurança).
Para a cientista política argentina Paola Zuban, apesar de apresentarem uma imagem menos rígida e um pouco mais genuína, no debate deste domingo “predominaram mais as confrontações que as propostas”.
“Cada um deles falou novamente ao seu núcleo duro de eleitores, que são os que assistem ao debate”, disse ela.
Já segundo o sociólogo argentino Carlos De Angelis, este debate pode ter um impacto também na atenção e no voto dos indecisos que, majoritariamente, podem ficar atraídos de forma natural pelos discursos opositores de Milei e de Bullrich.
“Neste sentido”, disse De Angelis, “Acredito que Bullrich recupera um pouco [de atenção dos eleitores] em relação àquela que havia perdido no primeiro debate. Ela ficou mais à ofensiva, tentando tomar iniciativa”, disse o sociólogo ao Estadão.
Para ele, ao reverter a imagem da semana anterior, Bullrich se posiciona novamente como uma opção sólida e ganha espaço entre os indecisos.
Por outro lado, de acordo com ele, Milei — que é o vencedor da PASO e favorito nas pesquisas para as eleições gerais — ficou apagado, em um segundo plano.
Milei pareceu recuar nas polêmicas que o tornaram conhecido internacionalmente, mas ainda com um tom de confronto, desqualificando o conhecimento de economia da candidata Frente de Izquierda Myriam Bregman, afirmando que as mudanças climáticas não foram causadas pelos seres humanos e qualificando o debate como “uma pantomima irritante”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.