Em 20 de outubro, o presidente Joe Biden solicitou um financiamento ao Congresso vital para a segurança nacional dos Estados Unidos.
O apoio ágil do Congresso nos permitirá continuar ajudando a Ucrânia na defesa de sua democracia, seu território e seu povo contra a guerra de agressão da Rússia; fortalecerá nossa posição na competição com a China, que se intensifica; e garantirá que nós sejamos capazes de ajudar Israel a se defender ao mesmo tempo que ajudará os civis palestinos pegos no fogo cruzado por obra do Hamas.
Conjuntamente, esse investimento mostrará a determinação inabalável dos EUA em apoiar nossos aliados e parceiros, enfrentar autocratas e terroristas e sustentar uma ordem internacional que proteja os interesses e valores americanos.
Alguns no Congresso argumentam por financiar apenas partes do pedido do presidente e propõem cortar assistência humanitária para civis em Gaza — o que poderia ser um erro grave.
Isso aprofundaria o sofrimento de mais de 2 milhões de civis palestinos — incluindo mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiências e outras populações vulneráveis — que não têm nada a ver com os ataques deploráveis do Hamas; prejudicaria a segurança de Israel e a estabilidade regional; e agravaria problemas e riscos que acabariam custando aos contribuintes americanos múltiplos montantes mais com o tempo.
Desde que o Hamas matou mais de 1,4 mil pessoas em Israel, incluindo pelo menos 35 cidadãos americanos, e sequestrou mais de 230, o presidente Biden tem defendido consistentemente o direito de Israel — de fato sua obrigação — de se defender e evitar que o Hamas volte a perpetrar outro ataque como esse.
O presidente deixou claro que os EUA garantirão que Israel tenha o que precisar para defender seu povo contra todas as ameaças, incluindo do Irã e de seu grupos aliados. A assistência em segurança no nosso pedido suplementar nos permitirá cumprir esse compromisso.
Ao mesmo tempo, a maneira que Israel se defender é importante.
Os civis palestinos não são culpados pelas atrocidades do Hamas nem pela grave crise humanitária em Gaza; são suas vítimas. Da mesma forma que em qualquer conflito, as vidas dos civis palestinos devem ser protegidas.
Isso significa que o fluxo de alimentos, água, medicamentos, combustíveis e outras ajudas humanitárias essenciais deve aumentar imediatamente e significativamente; que os civis palestinos devem ser capazes de ficar longe das bombas e do fogo cruzado; e que pausas humanitárias devem ser planejadas com esses objetivos.
É difícil atender a esses parâmetros em qualquer conflito, muito mais confrontando um inimigo que cinicamente e monstruosamente usa civis como escudos humanos e lança foguetes de hospitais, escolas e edifícios residenciais.
Apesar desses desafios, evitar uma catástrofe humanitária em Gaza é vital para a segurança de Israel.
Sem uma assistência humanitária ágil e constante, é muito mais provável o conflito se espalhar, o sofrimento aumentar, e o Hamas e seus financiadores se beneficiarem definindo a si mesmos como salvadores em meio ao desespero que eles próprios criaram. E agravando-se, a crise minará a possibilidade de maior integração entre Israel e seus vizinhos.
Fornecer ajuda e proteção imediata para os civis palestinos no conflito é também um fundamento necessário para encontrar parceiros em Gaza que tenham uma visão para o futuro diferente do Hamas — e que estejam dispostos a torná-la realidade. Nós não conseguiremos encontrar esses parceiros se eles foram consumidos por uma catástrofe humanitária e alienados por nossa indiferença perceptível ao seu flagelo.
Em suma, proteger os civis palestinos facilitando a assistência humanitária não é apenas a coisa certa para Israel fazer — é também um avanço para sua segurança a longo prazo. É por isso que líderes de Israel deixaram claro para o presidente Biden e os congressistas americanos que apoiam o fornecimento de assistência humanitária dos EUA para Gaza.
Mitigar a crise humanitária em Gaza também alinha-se com os princípios mais profundos da nossa nação, incluindo nossa convicção de que toda vida civil é igualmente valiosa e igualmente merecedora de proteção — não importando qual seja a nacionalidade, a etnia, a idade, o gênero ou a religião das pessoas. Um civil é um civil.
É isso o que nós esperaríamos se nossos próprios civis — nossos próprios parentes — estivessem presos em meio a um conflito. Nós também gostaríamos de poder alimentar nossas pessoas amadas, cuidar dos nossos doentes, ter água potável para beber e ser protegidos de ataques. Nós devemos exigir o mesmo para os civis palestinos.
Tudo isso é motivo para os EUA trabalharem incansavelmente com Israel, Egito, as Nações Unidas e outros parceiros para encontrar maneiras de permitir que uma assistência humanitária constante flua para os civis em Gaza, ao mesmo tempo instalando um monitoramento rigoroso e medidas de inspeção para evitar o desvio da ajuda para o Hamas ou qualquer outro grupo terrorista. Nenhum tipo de assistência humanitária entrará em Gaza sem inspeção prévia.
Garantir um fluxo robusto de assistência humanitária foi um foco crítico da minha visita à região, assim como do presidente Biden, que alcançou acordo com os nossos parceiros para o estabelecimento de mecanismos que permitam a retomada da ajuda a Gaza.
O presidente Biden designou um dos diplomatas mais experientes dos EUA, o embaixador David Satterfield, para acelerar nossos esforços humanitários em campo.
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Ainda que os EUA tenham um interesse profundo em solucionar esta crise, nós não podemos nem devemos carregar este fardo sozinhos. É por isso que estamos reunindo outros países para ajudar também. No caso de Gaza, mais de 30 governos já se comprometeram em se juntar a nós em apoio à resposta humanitária. E nós vamos reunir mais nações no esforço, liderando pelo poder do nosso exemplo.
Nós não temos de escolher entre defender Israel ou ajudar os civis palestinos. Nós podemos e devemos fazer ambas as coisas. É a única maneira de nos posicionarmos firmemente do lado de um dos nossos aliados mais próximos, protegermos vidas de inocentes, sustentarmos as regras internacionais do caminho que em última instância beneficiam o povo americano e preservarmos aberta a possibilidade do único desfecho viável para uma paz duradoura e segurança entre israelenses e palestinos: dois Estados para dois povos.
Qualquer congressista que se importe com a segurança de Israel a longo prazo — ou, a propósito, dos EUA — deveria apoiar assistência em defesa e humanitária para solucionar este conflito. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
*Antony J. Blinken é o secretário de Estado dos Estados Unidos.
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